A todo momento
estamos fazendo escolhas. Alguém já chegou a dizer que a vida é a arte de fazer
escolhas. Que roupa usar, que carreira seguir, com quem se relacionar, o que
consumir? Trata-se de uma atitude interior carregada de intencionalidade, a
partir da qual tomamos decisões. As principais escolhas da vida são construídas
lentamente, parte de um processo histórico, como uma rede de pequenas decisões
cotidianas, que orientam nossas atitudes diante do mundo e das pessoas.
O ato de escolher
requer que se abra mão de uma coisa em favor de outra, implica atitudes que
influenciam o nosso futuro. Mesmo quando decidimos por não escolher, isso já é
uma escolha. O tempo todo recebemos propostas de como podemos ser felizes, bem-sucedidos,
santos e até ricos. O problema é que os caminhos propostos para essas
conquistas não são os mesmos para todas as pessoas. O processo de escolha e de
tomada de decisões envolve toda a pessoa e a maneira como ela é social e
culturalmente construída.
A ética é o campo do
saber que lida com a nossa capacidade de fazer escolhas ao tentar responder à
pergunta sobre por que fazemos as coisas que fazemos do jeito que fazemos.
Normalmente, envolve os aspectos relacionados ao que se quer, ao que se pode e
ao que se deve. O problema é que nem tudo o que eu quero, posso; nem tudo que
eu devo, quero e nem tudo o que posso, devo. As maiores crises da nossa vida
não acontecem por causa de grandes erros, mas por causa de pequenas escolhas. O
poeta chileno Pablo Neruda afirmou que “você é livre para fazer escolhas, mas é
prisioneiro das consequências”.
Tomar decisões
responsáveis não é uma tarefa fácil, principalmente quando as escolhas são
feitas diante da dor e do sofrimento. Isso pode gerar atitudes como a
acomodação, a frustração, a sublimação, o recalque e até a depressão. Como
reagimos quando fazemos escolhas erradas, principalmente em relação àquilo que
mais desejamos? Sêneca afirmou: “Você é as suas escolhas.”
Santo Agostinho
identificou o campo da liberdade da vontade (ou livre-arbítrio) em nossa
condição humana. Leibniz compreendeu que toda escolha, que é marcada pela
contingência, pela espontaneidade e pela reflexão, torna-se determinante da ação. Para
Soren Kierkegaard, o homem, depois de pecar, ganhou a liberdade de fazer
escolhas e o faz em meio a uma vivência de angústias. Para Jean Paul Sartre, o
ser humano torna-se o que é ao fazer suas escolhas. Afinal, “viver é isso:
ficar se equilibrando o tempo todo entre escolhas e consequências”.
No seu livro sobre a
teoria da escolha, William Glasser afirmou que sempre podemos fazer escolhas
acertadas por piores que sejam as condições em que nos encontremos. Todo
comportamento é uma escolha, proposital e dirigida, para satisfazer nossas
necessidades básicas de sobrevivência, pertencimento, poder, liberdade e diversão.
Como se vê, escolher
tem a ver com uma disciplina da vida, considerando-se a disciplina como uma
atitude que procura adiar um gozo em nome de um prazer maior. Em tempos de um
hedonismo a qualquer custo, do individualismo exacerbado e da busca de
realização do instante ao extremo, isso requer um esforço maior. O imediatismo
da escolha e o pequeno espaço dado à reflexão crítica tem produzido um quadro
de pessoas que desaprenderam fazer escolhas por si mesmas e que precisam de
guias que as auxiliem ou até que tomem decisões em seu lugar.
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