A história do nascimento de Jesus é o
que dá sentido ao Natal. Não são os presentes, nem os seus símbolos e muito
menos o congraçamento entre os povos. Entretanto, o Natal não é como uma festa
de aniversário, mas é um tempo para repensar o grande mistério do Deus que se
encarna, consequência de um amor imenso pela humanidade toda. Sendo assim, não
importa que os evangelhos, mesmo sendo os documentos mais confiáveis sobre a
vida de Jesus, não sejam tão ricos em narrativas sobre o nascimento. Os autores
não se preocuparam em oferecer dados biográficos sobre a família, a aparência, a
infância, adolescência e juventude ou mesmo seus hábitos e costumes. Mesmo com uma
história cercada de muitas dúvidas, seus ensinos influenciaram a humanidade e
provocaram a transformação da vida de tantos quantos creram e seguiram.
Toda a vida de Jesus é uma evidência de
um Deus apaixonado, tomado de profunda compaixão, manifestou sua presença
salvadora e libertadora entre nós. O ministério que envolve a vida de Jesus é a
humanização de Deus, a encarnação do divino na esfera do humano, que assumiu nossa
limitação temporal e de espaço. A ideia de que Jesus nasce no seio de uma família
demonstra que ele aprendeu e vivenciou a nossa condição humana relacionando-se
com pessoas comuns. Não foi de uma forma sobrenatural, mas de um modo que
comporta nossas contradições e nossas ambiguidades.
As narrativas do nascimento, assim como
as de sua morte na cruz, dão conta do fato de que Deus se revela na história da
humanidade de uma forma nova, subvertendo a todo conhecimento que se tinha
sobre ele bem como todos os esquemas de compreensão do mundo e da dinâmica da
vida. Os sinais da paixão estão presentes em toda a história de Jesus, a
história de um Deus que se dá. Toda a vida de Jesus é uma demonstração de que a
relação entre Deus e o homem é essencial para uma vida feliz e realizada, não
importam as circunstâncias em que ela se dá. Em Cristo, a realidade de Deus
encontra-se com a realidade humana. Ele é chamado de “Deus conosco” e isso nos
remete a esse mistério do encontro do divino com o humano, em que Deus mesmo se
faz como um de nós e nos reconcilia com ele.
Isso nos lembra um convite e um chamado.
Como convite, é o gesto amoroso do Pai que se oferece na pessoa do Filho para
nascer entre os homens, viver a nossa vida, sentir a nossa dor e suportar a
nossa morte. Em meio às nossas exclusões, Jesus viveu da melhor maneira
conforme as circunstâncias que lhe foram dadas. A vida de Jesus, desde o nascimento,
é o modo como Deus percorre a humilhante via da reconciliação do mundo consigo.
Ele se faz humano por amor do humano e, por meio de Jesus, descobrimos o
verdadeiro sentido de humanidade.
Como um chamado, o desafio é de
segui-lo. Jesus aponta o caminho para a vida feliz e de realização pessoal.
Seguir a Jesus vai além da decisão deliberada de praticar seus ensinos.
Significa tomar a forma de Cristo, ser um com ele. Isso é ser humano de fato. O
que fez com que Jesus trilhasse toda a sua trajetória, inclusive seu
sofrimento, foi sua visão de futuro. Ele tinha a convicção de que o Pai prepara
um tempo de alegria para aqueles a quem ama. Seguir a Jesus é um projeto de vida,
de se deixar ser tomado pelo amor de um Deus apaixonado e de viver para o seu
propósito.
Natal com Paixão é isso: uma ocasião oportuna
para acolher o amor do Pai e reorientar a vida toda para viver por esse amor.
Um feliz Natal apaixonado a todos.
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