“Ora, o Senhor é o Espírito
e, onde está o Espírito do Senhor, ali há liberdade.” 2 Coríntios 3.17
Não é de hoje que se
fala da necessidade de uma abordagem mais humanizadora quando o assunto é
espiritualidade. Aliás, o Humanismo, desde o Renascimento, já clamava por isso.
Entretanto, quando se fala de espiritualidade, não se deve confundir com
formatos religiosos.
Leonardo Boff defende a
ideia de que, no que diz respeito à espiritualidade, devemos nos concentrar na
fonte, que é Deus, e não nos rios, que são as religiões. É isso que faz a
diferença entre religiosidade e religião. Embora a religião seja um fenômeno
cultural que faz parte de nossa condição humana, transformar a religiosidade em
uma gaiola ou camisa de força para a experiência de Deus é, no mínimo, reduzir
a sua relevância.
Dalai Lama afirmou que
a melhor religião é a que te faz melhor. Isso não é o mesmo dizer que a melhor
religião é aquela que te faz bem. Para que você seja uma pessoa melhor, ainda
há muitos ajustes a serem feitos. E isso passa pelo desenvolvimento de uma
espiritualidade humanizadora e libertadora.
Percebo que ao longo do
tempo o cristianismo desenvolveu três tipos de espiritualidade significativos,
que marcaram época e movimentos. Muitos desses movimentos repercutem entre nós
através dos vários segmentos cristãos e das várias teologias que produziram.
O primeiro tipo é o que
chamarei de espiritualidade de dominação. O princípio se baseava na ascese, na
prática de exercícios espirituais de orações, meditações e de abstinências. O
foco era transformar o indivíduo em um sujeito obediente, capaz de dizer a
verdade sobre seus conflitos interiores. O resultado foi o formalismo
religioso, o ritualismo e a vida reclusa.
O segundo tipo é o que
chamarei de espiritualidade de introspecção. O princípio se baseava na
capacidade crítica da pessoa, na autonomia do sujeito de pensar por si mesmo. O
foco era de levar o sujeito à descoberta de uma verdade universal, revelada sob
a forma de um texto. O resultado foi o fundamentalismo religioso, a
interpretação literal das Escrituras, a fuga de um mundo mal e cada vez mais
ameaçador.
O terceiro tipo é o que
chamarei de espiritualidade de humanização. O princípio se baseia na
alteridade, na relação com o outro. O foco é de fazer com que o indivíduo seja
reflexo do amor de Deus por criaturas imperfeitas e marcadas pelo conflito, que
viva a sua espiritualidade em meio às situações concretas vividas por pessoas
no mundo. O resultado é o sentido de realização pessoal e de descoberta do
valor da vida em comunhão.
Estou a procura do
terceiro tipo. Parece-me que os resultados justificam. Pelo menos é o que
parece ser mais libertador.
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