Dos quatro
evangelistas, somente dois narram o nascimento de Jesus: Mateus e Lucas. Dos
outros dois, Marcos nem sequer menciona. Talvez por achar que não fosse
relevante o modo como Jesus veio ao mundo, mas sim o que ele fez e falou, assim
como o modo como terminou sua vida aqui. Já João escreve um prólogo, um
requinte literário para obras mais rebuscadas, como sendo um resumo de toda a
vida de Jesus. Quem lê esse texto inicial tem a ideia total do livro e do que
foi a vida de Jesus.
Nesse prólogo, há uma
afirmação que é a síntese da pessoa de Jesus. Uma expressão de sua identidade,
do que ele significou para as pessoas de seu tempo. “Nele estava a vida, e esta era a luz dos homens”. João 1.4. Foi
assim que João preferiu falar de Jesus. O que era apenas uma ideia, uma coisa
de que apenas se ouviu falar, agora estava ali diante dos seus olhos. Não
importa como chegou. Melhor ainda que as narrativas deem conta de alguém que tenha
nascido de forma tão humilde, tendo apenas os céus, a natureza e gente simples
como testemunhas.
Para João, era mais
expressivo o fato de que, quem olhasse para ele, mesmo não o conhecendo,
perceberia a vida em sua plenitude, alguém que transborda de vida, que é a
verdadeira síntese da vida. Alguém que sabia o que é viver, pois experimentava
isso no seu modo de ser. Um humano assim só podia ser divino.
A palavra viva se fez
vida. Isso sim é natal. O Deus vivo se fez gente. Isso sim é natal. Todos podiam
ver isso e encontrar nele fortes razões para viver e reconhecer que, por pior
que fossem as circunstâncias, ser gente valia a pena. Estava ali, diante dos
olhos de quem o visse, alguém que carregava consigo toda a ambiguidade e
contradição humanas e que, ainda assim, demonstrava que a vida é bela, dom
precioso que precisa ser bem aproveitado.
O fato de ser divino e
ser a própria vida não isentou Jesus de sofrer e sentir dor, de ser enganado e
traído, de ser tentado e questionado, de até morrer a nossa morte de forma tão
cruel. Quem olhasse para Jesus veria que a vida não se resume a uma série de
atitudes fundadas numa lógica em que Deus está ausente. Nem mesmo numa
necessidade de acumular coisas e saberes que não resultam em realização
pessoal. A vida é mais. É ser aquilo para o qual Deus pensou para nós. Gente
que vivia o engano de uma vida sem sentido encontrava na pessoa de Jesus uma
luz, um indicativo, um direcionamento sobre o que é de fato viver.
O profeta já sabia que
seria assim desde o passado: “O
povo que caminhava em trevas viu uma grande luz; sobre os que viviam na terra
da sombra da morte raiou uma luz.” Isaías 9.2. Os discípulos souberam
que é assim que Deus faz conosco: “Pois
ele nos resgatou do domínio das trevas e nos transportou para o Reino do seu
Filho amado.” Colossenses 1.13.
O natal em nosso
calendário serve para nos lembrar isso: que quando a vida não faz mais sentido,
precisamos olhar de novo para Jesus. Nele encontramos vida. Quando nos perdemos
nos caminhos errantes de nossa vida, precisamos olhar para aquele que nos
chamou para segui-lo como caminho. Ter um feliz natal é ter a vida invadida
pela vida. Um Feliz Natal para todos.
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