O Reino de Deus ocupa um espaço
primordial na mensagem de Jesus. Ele declarou a todos que o Reino era chegado,
se fazia presente historicamente e que será consumado no futuro. Sua ideia de
Reino era completamente diferente de todas as concepções humanas de poder. Ela
estava vinculada à própria realidade humana, essa mesma que conhecemos por que
estamos nela e diz respeito ao que nós somos: pessoas marcadas pela finitude,
mas também pela vontade de liberdade; pela impotência, mas pelo desejo do que
está além; e pelo egoísmo, mas que não consegue se realizar sem a ajuda do
outro.
Compreender a natureza do Reino de Deus
fora dos paradigmas humanos de dominação é uma tarefa difícil. Podemos
confundir com a noção de um território onde atua um soberano, ou com uma
relação dominada por uma autoridade totalitária, ou mesmo com um saber em que
um dominador retém para si algumas verdades que não podem ser acessadas por
gente inferior. Por saber que era difícil entender o Reino, Jesus procurou
formas de sinalizá-lo entre os homens. Ele realizou milagres, se compadeceu de
gente sofrida, ensinou lições sobre a vida, apontou caminhos para a realização
e a felicidade.
Entretanto, a maneira mais peculiar que
Jesus utilizou para sinalizar o Reino de Deus foi através das histórias que ele
contou. Através das parábolas, Jesus procurou demonstrar aos seus discípulos o
sentido e o valor de participar do Reino que veio trazer aos homens. Parábolas
são pequenas histórias contadas para tornar mais fácil a compreensão de uma
realidade. Tem o valor de uma metáfora, mas são verdadeiras anedotas – isso
mesmo –, com muito bom humor e sensibilidade, que tinham a função de conduzir
as pessoas a uma reflexão sobre a realidade do Reino de Deus.
Dos quatro evangelhos, Mateus tem uma
maneira curiosa de apresentar uma coleção de parábolas específicas para tratar
do Reino de Deus. Elas não dizem exatamente o que ele é, mas, para um bom
entendedor, uma pequena palavra basta. Algumas ele explicou; outras ficaram a
mercê da interpretação dos seus ouvintes. Afinal, “quem tem ouvidos para ouvir,
que ouça”.
Entrar no universo hermenêutico dessas
parábolas é desvendar um conjunto infinito de possibilidades de se construir
uma experiência de participação no Reino. Não é para ser diferente dos demais,
como se fôssemos exclusivos ou melhores, mas para tomar parte dessa missão
maravilhosa de sinalizar a presença abençoadora, consoladora e libertadora do
Reino entre nós. Se a missão de Jesus foi trazer o Reino aos homens, a missão
daqueles que são chamados por ele é dar continuidade ao seu projeto de torná-lo
presente na história das pessoas de nosso tempo.
O anúncio da chegada do Reino de Deus
entre os homens é a boa notícia da graça, do perdão, da acolhida, do amor e da
compaixão de Deus estendidas a todos indistintamente. É a declaração de que
Deus reivindica para si toda a criatura a fim de que tomem parte do seu Reino e
desfrutem do que ele tem preparado para todos. É para isso que somos chamados a
sermos cristãos.
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