Jesus chamou pessoas excluídas, desprezadas e despossuídas para sem seus discípulos. Ele conhecia bem suas aflições e quais eram as suas causas. Por isso, procurou orientá-las a dar valor às circunstâncias vividas como oportunidades de experimentar uma nova forma de viver. No início do Sermão do Monte, Jesus ressaltou o fato de que seus discípulos eram bem-aventurados por tomarem parte daquele momento, apesar de todas as lutas pelas quais passavam. Afinal, eles estavam diante do novo, de uma nova proposta de experimentarem a concretização das promessas divinas em suas vidas.
As
bem-aventuranças podem ser compreendidas como o retrato de quem os discípulos
eram e em que eles iriam se tornar por terem aceitado o desafio de seguir
Jesus. A expressão era bem conhecida da tradição judaica. Os salmos já declaravam
que era bem-aventurado aquele “[...] que não
segue o conselho dos ímpios, não imita a conduta dos pecadores, nem se assenta
na roda dos zombadores” (Salmos 1.1); “[...]
aquele que tem suas transgressões perdoadas e seus pecados apagados” (Salmos
32.1); “[...] os que obedecem aos seus
estatutos e de todo o coração o buscam” (Salmos 119.2). “[...] o homem que nele se refugia” (Salmos
34.8); “[...] quem teme ao Senhor, quem
anda em seus caminhos” (Salmos 128.1).
A tradição
judaica estava repleta de referências que ressaltam a felicidade de tomar a
atitude de orientar a vida pela direção divina. Diz o sábio: “Como é feliz o homem que acha a sabedoria,
o homem que obtém entendimento” (Provérbios 3.13). E ainda recomenda: “Quem examina cada questão com cuidado,
prospera, e feliz é aquele que confia no Senhor” (Provérbios 16.20).
Jesus se
utiliza de um estilo literário já conhecido pela literatura sapiencial judaica
para ressaltar que as pessoas que vivem de um modo extraordinário mesmo em meio
as suas circunstâncias de luta são felizes por serem especiais para Deus. Trata-se
do estilo baseado no uso da parênese, construído través de paralelismo
característico da poesia hebraica-judaica. A parênese era um estilo literário
que consistia numa exortação acompanhada de um conselho para a vida.
Na relação das
bem-aventuranças, Jesus se refere àqueles que são considerados felizes por
causa da sua condição e os que são felizes por aquilo que fazem. Quem são os
bem-aventurados para Jesus? São os pobres, os que sofrem, os humildes e os que
são injustiçados. Não são situações que possam fazer alguém feliz, mas porque
estão contemplados na promessa de realização do Reino de Deus. Os excluídos do
reino deste mundo são acolhidos no Reino de Deus.
E o que fazem
os bem-aventurados? Eles são misericordiosos, puros de coração, promovem a paz,
perseguidos por praticarem a justiça e injuriados por causa de sua fé. Não é
fácil praticar tais atos. A felicidade tem um preço, e ele é recompensado pelo
Senhor do Reino.
As
bem-aventuranças estão registradas em duas passagens dos evangelhos, uma em
Mateus 5.3-12 e outra mais resumida em Lucas 6.20-23. Mateus é acusado de
espiritualizar as condições concretas vividas pelas pessoas, enquanto Lucas se
refere aos problemas de forma mais humanizada.
Em ambas as
listas das bem-aventuranças, há uma correspondência entre cada condição humana
de fragilidade e uma promessa divina. Isso nos leva descobrir que há
felicidade para quem enfrenta a desigualdade social para quem sente angústia,
para quem vive humilhado, para quem passa fome, para quem se compadece dos que
sofrem, para quem age com bondade, para quem promove a paz, para quem sofre
injustiça e para quem enfrenta preconceito e discriminação.
Jesus contraria
a compreensão do seu tempo e de sua cultura para afirmar que pessoas excluídas
e desprezadas também podem ser felizes. A felicidade não está relacionada a um
mérito ou a uma conquista, mas a uma dádiva concedida pelo amor divino. Todos e
todas podem experimentar a felicidade mesmo em meio a adversidades.
Nenhum comentário:
Postar um comentário