sexta-feira, 6 de setembro de 2024

Exercícios para uma teologia da criação / Exercises for a theology of creation / Ejercicios para una teología de la creación

As imagens que têm ocupado os noticiários nesses últimos anos são evidências de que alguma coisa não vai bem com a natureza. A criação dá sinais evidentes de que não está bem. A criação está enferma e a causa somos nós, seres humanos. Fiz uma breve lista de calamidades desconexas: incêndios nos biomas mais húmidos do planeta; excesso de calor nas regiões em que predomina o clima frio; anúncio de que o Oceano Pacífico já apresenta marcas de elevação que comprometem a existência de alguns territórios ocupados por pessoas.

A criação sofre por causa de nossas ações egoístas, consumistas e despreocupadas com a sustentabilidade. Estamos literalmente devorando o nosso planeta. Chegamos ao ponto de não retorno, em que a natureza não consegue mais repor aquilo que dela tiramos para dar conta de nossa necessidade de consumo.

A teologia como forma de saber orientada para a reflexão e para a construção de esperanças não pode ficar de fora do diálogo necessário para se encontrar saídas para o cuidado da vida no planeta. Esse é o tempo em que se faz necessário emergir uma teologia da criação que ouse apontar para toda a humanidade os caminhos para uma ação consciente como cooperadores de Deus no cuidado com a natureza.

Elementos para uma teologia da criação para esse tempo:

a) Uma teologia da criação que dê ênfase à natureza como dádiva divina, e não como recurso a ser explorado.

b) Uma teologia da criação que nos leve a sofrer, a prantear e a lutar por causa de nossas próprias ações que destroem a natureza.

c) Uma teologia da criação que nos aponte a esperança de um futuro melhor.

d) Uma teologia da criação que nos motive a celebrar ao Deus criador com nossas ações como primícias da esperança.

e) Uma teologia que nos mobilize a trabalhar juntos e unidos à Criação pela construção de um novo tempo e de uma nova mentalidade.

f) Uma teologia da criação que entenda a origem da natureza em diálogo com a ciência como um mistério a ser desvendado.

g) Uma teologia da criação que aponte novos horizontes para a vida no planeta na perspectiva da consumação do Reino de Deus.

Os subsídios para a reflexão teológica a respeito do cuidado humano com a criação emergem das Escrituras. Em Romanos 8.19-25, Paulo apresenta um brevíssimo tratado de teologia da criação em que estão apontados os caminhos para uma reflexão mais profunda e transformadora.

Paulo apresentou nessa passagem da carta ao Romanos um retrato da natureza como alguém que geme com dores de parto. Diante desse estado de “ardente expectativa”, Paulo declara que a esperança de libertação para toda a criação é a atitude daqueles e daquelas que acolhem o convite amoroso de Deus para se tornarem seus filhos.

A redenção de toda a criação só pode vir da mudança de atitude de pessoas que restauram em sua própria vida a condição primeira de cuidadores da criação. Fomos criados para viver em harmonia com a natureza. Homens e natureza formam a totalidade da criação, que existem para se cuidarem mutuamente. É uma pretensão acharmos que podemos salvar o planeta, mas é sinal de esperança crermos que podemos experimentar em nós uma conversão ecológica a fim de restaurarmos nossa relação cósmica como pertencentes à grande família da criação.

Espera-se que filhos de Deus sejam capazes de mudar. Mudar a sua mentalidade de consumo, a maneira como descartam seus resíduos, a forma com que colocam em prática a estratégia de reusar, reciclar e reutilizar, o jeito de compartilhar seus bens e recursos, de ser solidários, de superar o individualismo e o egoísmo.

Esse é o papel dessa geração de filhos de Deus, a nossa geração. Temos um legado para deixar para as gerações futuras a respeito do que fizemos com a natureza, com o mundo que deixamos para nossos netos. É um compromisso que envolve responsabilidade ética mas também o exercício da fé no Deus que criou todas as coisas.

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