(Participe da Campanha 40
Dias de Amor: assista à série de mensagens “Vivendo em amor no mundo” no Youtube; faça a leitura diária e pratique os projetos de
vida semanais que estão na descrição de cada vídeo; reúna familiares e amigos
para lerem juntos e debaterem sobre esse texto).
sábado, 15 de novembro de 2025
O maior desafio do amor: Campanha 40 Dias de amor / The greatest challenge of love: 40 Days of Love / El mayor desafío del amor: 40 días de amor
quinta-feira, 13 de novembro de 2025
Ele nos amou: Campanha 40 Dias de Amor / God loved us: 40 Days of Love / Dios nos amó: 40 días de amor
domingo, 2 de novembro de 2025
O amor como projeto de vida: Campanha 40 Dias de Amor / Love as a life Project: 40 Days of Love / El amor como proyecto de vida: 40 días de amor
O que você faria para melhorar os relacionamentos mais importantes de sua vida?
O que você estaria disposto a dar de si mesmo para mudar de forma radical aquilo que é mais importante em suas relações pessoais?
Descubra de que maneira você pode construir atitudes que o ajudarão a cumprir os propósitos de Deus em seus relacionamentos.
O objetivo principal do ministério de Jesus aqui na Terra foi nos mostrar como é possível amar as pessoas neste mundo.
Como é possível amar mais a Deus?
Como é possível amar mais nossa família?
Como é possível amar mais nosso cônjuge?
Como é possível amar mais nosso vizinho?
Como é possível amar mais a nós mesmos?
Vamos poder descobrir juntos um amor que é paciente, que é amável, que perdoa, que não é egoísta e que fala sempre a verdade. O amor é a grande utopia cristã. Por isso, deve ser o alvo e o desafio de todo cristão.
Qual o alvo principal de sua vida? Sua resposta a essa pergunta vai revelar o valor que direciona a sua vida. Todo mundo é guiado por um valor. É o que inconscientemente serve de base para nossas escolhas e influenciam nossa tomada de decisões. Jesus ensinou que o amor deve ser o nosso valor dominante. De fato, Jesus disse certa vez que, de todos os mandamentos na Bíblia, apenas dois são mais importantes: amar a Deus com todo seu coração e amar o próximo como a si mesmo.
(Reflexão para pequenos grupos, durante a Campanha de 40 Dias de Amor)
(Participe da Campanha 40 Dias de Amor:assista à série de mensagens "Vivendo em amor no mundo" no Youtube; faça a leitura diária e pratique os projetos de vida semanais que estão na descrição de cada vídeo; reuna familiares e amigos para lerem juntos e debaterem sobre esse texto).
quinta-feira, 11 de setembro de 2025
Condenação de Jair Bolsonaro: implicações e desdobramentos históricos / Jair Bolsonaro's conviction: implications and historical developments / La condena de Jair Bolsonaro: implicaciones y desarrollos históricos
Desde 2021, o país foi tomado por uma sucessão de ações,
discursos e manifestações que visavam a perpetuação no poder do grupo que
governava o país. O Brasil foi vítima de atentados contra as instituições
democráticas e de tentativa de abolição do Estado Democrático de Direito, orquestrados por uma organização criminosa que fez uso do aparato do governo para disseminar discurso de ódio, fake news e apelos por intervenção militar.
A ideia dos acusados e agora condenados era colocar em suspeição o processo eleitoral e a lisura das urnas eletrônicas. Após a derrota na eleição de 2022, a trama golpista não aceitou os resultados das urnas e vários atos ilícitos foram praticados, como acampamentos na porta de quartéis, vandalismo na frente da sede da Polícia Federal em Brasília no dia da diplomação do vencedor da eleição, ameaça de atentado à bomba no aeroporto de Brasília e o ataque às sedes do Congresso, da Presidência e do STF que ficou conhecido como o atentado do 8/1. Houve inclusive o plano para o assassinato de três autoridades da República.
Dentre as acusações contra o núcleo golpista, encontram-se a
tentativa de golpe de Estado, de abolição violenta do Estado Democrático de
Direito, de formação de organização criminosa, de dano qualificado contra o
patrimônio da União e de deterioração de patrimônio tombado. Junto com
Bolsonaro, que já havia sido considerado inelegível pelo TSE, encontram-se outros sete membros
do seu governo, entre eles ex-ministros da Defesa, da Justiça, da Marinha, do
Gabinete de Segurança Institucional, além de seu candidato à vice-presidência e
seu ajudante de ordens.
Jair Bolsonaro tornou-se o primeiro ex-presidente do Brasil a ser condenado por liderar uma tentativa de golpe de Estado. Sua condenação põe o país diante de seu passado
e de seu futuro. Quanto ao seu passado, fica evidenciado que, pela primeira
vez, quem tenta golpe de Estado pode responder pelos seus atos. Generais e
outros militares foram julgados e condenados de acordo com legislação vigente,
fazendo valer o princípio de que ninguém está acima das leis. Quanto ao seu
futuro, renasce a esperança de que o golpismo seja uma página definitivamente
virada e que seja inibido daqui pra frente. Com isso, a democracia se consolida
e se fortalece. Espera-se que o discurso de ódio e as práticas de disseminação
de fake news diminuam e permitam um ambiente mais saudável para o diálogo e a
contraposição de ideias. O falso discurso de que a anistia ou indultos podem
pacificar o país finalmente cai por terra.
No ano em que se completam 40 anos da redemocratização, o Brasil afasta o fantasma da ditadura. Fica demonstrado que as instituições democráticas cumprem a sua função legal e que se busca a concretização do ideal de que todos são iguais perante a lei. Os fundamentos do devido processo legal, da garantia à ampla defesa e o direito ao contraditório demonstram que o Estado Democrático de Direito saem fortalecidos.
O STF transmite aos brasileiros a mensagem de que todos têm direito a um julgamento justo e imparcial. A Justiça, quando exercida de forma independente e imparcial, é o único caminho para a pacificação. Para isso, ela precisa ser livre de ameaças e coerções, sejam internas ou externas. A marca de um país soberano é a autonomia de seu sistema de Justiça.
(Imagem: https://commons.wikimedia.org/)
sábado, 23 de agosto de 2025
Exercícios de Ecoespiritualidade: Somos parte da Criação / Eco-spirituality Exercises: We are part of Creation / Ejercicios de eco-espiritualidad: Somos parte de la Creación
“Então os olhos dos que veem não estarão mais fechados, e os ouvidos dos que ouvem escutarão” (Isaías 32.3).
O tema da conferência foi “Paz com a Natureza” para
enfatizar a ideia de que a conservação da biodiversidade requer um compromisso
de toda a humanidade. Para isso, seria necessário mobilizar recursos
financeiros para procurar reverter a perda da diversidade até o ano de 2030.
Porem, não houve um consenso acerca de quanto seria necessário para promover as
ações para conter a perda da diversidade biológica, principalmente entre os
países mais desenvolvidos.
Entretanto, houve conquistas históricas. A COP 16 definiu
acordos para a partilha das informações dos códigos genéticos visando promover
o seu uso sustentável e garantir o acesso equitativo aos benefícios da
biodiversidade. Outra conquista foi o reconhecimento da importância e a
inclusão dos povos originários e das comunidades afrodescendentes no âmbito da
Convenção das Nações Unidas sobre Diversidade Biológica. O objetivo foi o de
garantir espaço direto de voz e de influência nas tomadas de decisão por possuírem
conhecimentos e práticas que contribuem para a concretização dos objetivos do
Quadro Global de Diversidade.
Mas é preciso fazer mais. Necessitamos de um diálogo para
desenvolver juntos e juntas formas de
moldar o futuro do planeta. Papa Francisco, em sua encíclica Laudato Si, lançou esse desafio para que
seja possível construir um novo ambiente de solidariedade universal em que
todos os seres vivos, desde os mais vulneráveis, possam viver com dignidade.
Trata-se de uma mudança de mentalidade que atinge também a
fé, que precisa abrir mão da crença de que o homem é o centro de tudo para
desenvolver ações que envolvam práticas de espiritualidade com o cuidado de
toda a Criação. A ecoespiritualidade emerge como um exercício de fé em busca da
reconciliação do ser humano com a natureza, compreendendo a sacralidade da vida
de todas as criaturas e a responsabilidade de proteger a dignidade da vida. Eco
vem de oikos, que é casa em grego. A
ecoespiritualidade é o exercício de cuidado com a casa comum em perspectivas
ética, política, social, econômica e espiritual.
Necessitamos também de uma voz profética de arrependimento e
de compromisso com a justiça e a paz com toda a Criação. Isso envolve uma
Teologia da Criação que proponha um caminho de reconciliação uns com os outros
e com o Criador a fim de promovermos justiça genuína para todos os seres vivos.
Só assim a Criação encontrará paz.
Essa preocupação pode ser encontrada na Escritura,
especificamente no livro do profeta Isaías. Ele disse: “Meu povo viverá em paz, tranquilo em seu lar; terá descanso e
segurança” (Isaías 32.18 NVT). A promessa de paz e segurança é consequência
do compromisso com a justiça. É uma mensagem que nos desafia a nos
constituirmos como uma sociedade justa, baseada em princípios de equidade e
respeito mútuo, onde todos e todas possam desfrutar a vida com tranquilidade.
O profeta inicia, no capítulo 32, a descrever a perspectiva
messiânica do Reino de Deus. Um reino futuro, mas que já começava a despontar
naquele tempo em Judá com promessa de justiça e paz para toda a Criação. Um
reino de retidão que agirá com justiça, o que é um contraste à tirania, à
corrupção e à injustiça dos regimes de poder com os quais Judá já havia convivido.
Um governo assim se transforma em um refúgio para os
oprimidos. É como um vento suave em meio ao calor escaldante, como uma corrente
de água em terra seca e como a sombra no deserto. Um verdadeiro oásis de
esperança em meio ao deserto da incerteza, da exploração e da maldade. A
mensagem profética é marcada por uma linguagem poética que destrói falsas
narrativas e que aponta para a restauração da dignidade da vida em todos os
aspectos.
O resultado da justiça é a transformação do cenário de
desolação em que a sociedade vive. As pessoas em geral serão curadas da cegueira
e da surdez que as impedem de lutar por direitos e dignidade. O povo terá
sabedoria e entendimento para tomar decisões acertadas. Os tolos não terão mais
tanta influência e os sem caráter não terão tanto poder, como acontece em
nossos dias. Parece que Isaías se dirige a nós em tempo de fake news, pós-verdade,
disseminação do ódio, negacionismos e extremismos nas redes sociais.
Nesse tempo messiânico, Isaías vê que o papel das mulheres é
fundamental. Elas são tratadas como agentes de transformação com sua capacidade
e sabedoria. O chamado é para que se levantem com urgência, porque a terra não
mais produzirá os frutos para o sustento de suas famílias por causa da maldade
dos homens. Suas vozes de lamento e de protesto devem ecoar por todas as
partes, desde as casas até às cidades.
Isaías descreve o cenário da natureza devastada pela
ganância e pela exploração da terra, resultado do afastamento de Deus e de seus
propósitos para toda a Criação. A consequência se reflete nas relações sociais,
na vida das cidades e nas estruturas de poder, que estão deterioradas pelo
pecado humano. O afastamento de Deus tem afetado toda a Criação. Aquilo que foi
criado para trazer segurança, paz e suprimento para todos estava em ruínas.
Terras, biomas, rios e oceanos sofrem com a cultura da arrogância, da
acumulação e da ganância.
O projeto da Criação divina foi fundado no senso de justiça
e paz, mas a humanidade quebrou essa relação promovendo uma verdadeira guerra
através da exploração desordenada dos recursos naturais, do consumo exagerado e
do extermínio de espécies. A economia capitalista moderna estabeleceu práticas
insustentáveis de exploração dos recursos naturais colocando em risco a vida de
todo o planeta.
Nós, que somos coparticipantes da Criação, nos tornamos
cúmplices e corresponsáveis pela crise provocada pela devastação. A maneira
como consumimos, empreendemos e orientamos a economia voltada para o lucro
esbarra com a dificuldade de colocar em prática princípios de sustentabilidade.
O resultado é mais poluição, crises sanitárias, fenômenos ambientais cada vez
mais devastadores, desmatamento ilegal para dar lugar a monoculturas,
exploração de minerais que colocam em risco biomas inteiros e emissão de gases
do efeito estufa.
A responsabilidade tanto é coletiva e estrutural, como
também é individual. O apego ao luxo, o desperdício, o uso de veículos e equipamentos
poluentes, a aplicação de produtos químicos e o descarte de resíduos são
algumas dessas coisas que fazemos que contribuem para o quadro atual de
desolação.
Quando olhamos ao nosso redor, vemos um cenário de conflitos
e destruição. A palavra desolação resume bem o contexto da atual crise
ambiental e climática. Em todas as partes do mundo podemos ver que a causa
dessa desolação é o próprio ser humano que insiste em provocar danos à
natureza. Ao mesmo tempo, os próprios seres humanos são também vítimas dessa
desolação.
O
mundo está em crise e a resposta passa por uma mudança de mentalidade. A mensagem
profética de Isaías lança as bases dessa mudança necessária e urgente, que fala
de justiça, paz e reconciliação com a Criação. Como apelou o Papa Francisco em
sua encíclica Laudato Si: “Qual é o
objetivo do nosso trabalho? Que necessidade tem a terra de nós? Deixar um
planeta habitável às gerações futuras depende de nós” (2015, § 160).
A Teologia se vê impelida a mover-se pelo Espírito Santo, o
sopro da vida, que é derramado sobre nós nesse momento, trazendo esperança de
renovação para a terra e de restauração da harmonia da Criação. Nesse tempo,
somos chamados como cristãos e cristãs a nos unir com alegria, justiça e paz a
toda a Criação para vivermos o que fomos criados para ser: cooperadores uns dos
outros, como embaixadores da justiça, da paz e da reconciliação.
quarta-feira, 23 de julho de 2025
Caminho do Itinerário do Amor: uma reflexão a partir do Castelo Interior / Path of the Itinerary of Love: a reflection from the Interior Castle / Camino del Itinerario del Amor: una reflexión desde el Castillo Interior
Teresa de Ávila usa a metáfora de um castelo formado por
muitas moradas para se referir à alma humana. “Consideremos
nossa alma como um castelo, feito de um só diamante ou de um cristal
claríssimo, onde há muitos aposentos, à semelhança das muitas moradas que há no
céu”, diz ela. Essa jornada em direção ao encontro com Deus é também conhecida
como o “caminho do itinerário do amor”, um guia de experiência de
espiritualidade que o campo da mística tem se debruçado em suas investigações e
descobertas.
Nesse caminho místico, não estamos sozinhos. É o próprio Rei
que nos guia e nos conduz, a cada morada, em direção ao grande salão real. Para
percorrer essas moradas, é preciso primeiro tomar a decisão de entrar no
castelo interior. Logo na primeira morada, a alma é despertada para a vida
espiritual, convidada a reconhecer o seu valor e a sua necessidade de Deus.
Embora ainda estejamos presos aos desejos e envolvidos com o pecado, não
podemos esquecer que fomos criados como imagem e semelhança de Deus.
Ao chegar à segunda morada, a alma é encorajada à prática da
oração e aos exercícios espirituais. O objetivo é perseverar na luta contra as
distrações e a na busca por uma vida mais próxima da vontade divina. A terceira
morada corresponde ao momento em que a alma desfruta do cuidado divino e começa
a sentir a presença de Deus de forma mais intensa. Entretanto, ela ainda pode sofrer
oscilações e dificuldades.
Na quarta morada, a alma experimenta um aprofundamento da
experiência mística, com um desejo ardente de se entregar completamente a Deus.
Ná quinta morada, a alma atinge um grau de união mais profundo com Deus,
frequentemente descrito como um êxtase místico, onde a vontade da alma se torna
mais alinhada com a vontade divina.
Na sexta morada, a alma experimenta uma união quase plena
com Deus, com a prática constante da oração, das virtudes e da caridade. Enfim,
a sétima morada corresponde à plenitude da experiência de Deus vivendo em
perfeita harmonia com a vontade divina e desfrutando a verdadeira paz e alegria
espiritual.
Há quatro lições que podemos extrair dessa obra de Teresa de
Ávila. Os sete estágios de progresso espiritual descritos por Teresa implicam
conhecer a alma humana e descobrir a vida interior. A primeira lição é o
caminho da descoberta de si; a segunda tem a ver com nossa luta interior que
confronta nossos desejos e a carência de Deus que todos possuímos; a terceira é
a alternativa que o chamado divino nos oferece, de experimentar uma vida de
intimidade com Deus; e, por fim, a lição de que uma vida de plenitude da
presença de Deus é possível num mundo tão conturbado como o nosso.
Teresa de Ávila viveu numa época bastante contraditória. Era
um tempo de mudanças em que o Ocidente abandonava a mentalidade medieval e se
abria para a Modernidade. Essa transição foi dominada pela descoberta da
racionalidade e pela defesa da dignidade humana. Além disso, a Espanha
encontrava-se sob forte influência da inquisição, com o temor constante de
aderir aos novos ventos que vinham do humanismo e das ciências nascentes e,
sobretudo, dos ideais da Reforma Protestante.
Havia também o fato de ela ser mulher numa sociedade
patriarcal. Embora tivesse sido estimulada a escrever sobre suas ideias e sua
experiência, ela foi muitas vezes considerada como impulsiva e desajustada à
sociedade. Aos 21 anos, abandonou a família para viver de forma radical a sua
experiência de fé. Em vez de uma vida reclusa em um mosteiro, optou pela missão
peregrina de formar diversos conventos pela Espanha.
A jornada de espiritualidade, quando vista à luz da tradição
mística cristã e da Escritura, nos oferece uma compreensão mais aprofundada da
vivência do amor ensinada por Jesus de Nazaré. A proposta de Teresa de Ávila
está bem ajustada à experiência mística. De um modo geral, essa experiência
envolve a prática da ascese, a meditação e o êxtase. Dito de outro modo,
envolve a prática de purificação dos sentidos, o esforço para esvaziar a mente
e a experiência de fortalecer o espírito. É um processo lento e gradual, com
muitas idas e vindas, até que se alcance a união mística com Deus. Tudo isso
para que possamos atravessar o deserto e refazer o caminho novamente.
A essência da experiência de Deus é o amor. Esse é o
mistério divino que perpassa a relação de Deus com a Sua criação e nos
interpela a experimentarmos sua realização de forma concreta em nossa vida. Ter
um encontro com Deus é encontrar o amor em sua forma mais profunda.
(Assista à série de reflexões Moradas: Caminhos para a experiência de Deus >> no meu canal: https://www.youtube.com/playlist?list=PL4NVfVIy5Bi7DkhSi1oYXv2cJB2VF0sy4
sexta-feira, 4 de julho de 2025
Deus cuida de mim: Você não está só / God takes care of me: You are not alone / Dios cuida de mí: Usted no está solo
“Lancem sobre ele toda a sua ansiedade, porque ele tem cuidado de vocês” (1 Pedro 5.7).
A poesia da música “Deus cuida de mim”, de Kleber Lucas, é
uma das mais impactantes letras do cenário evangélico brasileiro. A música foi
lançada em 1999 e ganhou repercussão em todos os segmentos religiosos então.
Esse foi o título do terceiro álbum do cantor e é a sua composição de maior
sucesso. O álbum chegou a vender mais de 100 mil cópias no promeiro ano e
recebeu o Globo de Ouro no ano 2000.
Grandes cantores da música gospel a regravaram, alcançando
sucesso nas vozes de Eyshila e Paulo César Baruk, entre outros, inclusive o
padre Fábio de Melo. Grupos históricos, carismáticos e pentecostais, tanto no
catolicismo quanto no protestantismo, entoam essa canção em seus cultos e
celebrações. Ela tem sido cantada até mesmo por grupos afro-brasileiros e em
rodas de pagode. Em 2022, a música ganhou maior projeção quando Kleber Lucas
gravou um clip com um dos maiores cantores da música popular brasileira Caetano
Veloso, que já se declarou ateu convicto.
A canção de Kleber Lucas conseguiu agradar tanto ao gosto do
público no canto congregacional quanto nas programações de rádio. Ela compõem o
imaginário da espiritualidade brasileira e orienta as práticas de oração e
buscas de experiências de Deus de quem a ouve, pelo fato de a sua letra apontar
para o o sentido teológico da presença divina.
Quando a Escritura declara que Deus cuida de nós, isso
implica algumas definições teológicas fundamentais para o exercício da fé. Ela
declara que o Deus da vida se faz presente entre nós em qualquer circunstância.
É uma afirmação de que o Deus que é amor se faz comunhão e fortalece a crença e
a esperança de que o Deus de Justiça age em favor da paz.
O Deus que cuida de nós está conosco é o mesmo que se afasta
para que possamos compreendê-lo. O Deus onipresente muitas vezes se mostra
ausente para que possamos cuidar de nós mesmos. O Deus que está próximo ao
mesmo tempo está distante para que possamos busca-lo. A relação com Deus é
sempre atravessada por uma tensão que envolve presença-afastamento,
onipresença-ausência, proximidade- distância.
Experimentar o Deus que cuida de nós implica um exercício de
aprendizado sobre quem Ele é, acolher o seu convite amoroso, desfrutar de seu
cuidado e amar os espaços em que ele se revela. A canção nos traz essa proposta
de espiritualidade de encontro com Deus, conosco e de comunhão.
Assista às mensagens da série “Deus Cuida de Mim: Não
estamos sozinhos” em meu canal do Youtube>>: https://www.youtube.com/playlist?list=PL4NVfVIy5Bi7ZJ0eQhXMEB4vBOhP0RDlX
).
terça-feira, 10 de junho de 2025
O Reino em Família: Tudo começa em casa / The Kingdom in Family: It all starts at home / El Reino en Familia: Todo comienza en casa
Os valores do Reino de Deus ensinados por Jesus nos ajudam a
conviver melhor em família, na igreja e na sociedade. Eles estão voltados para
práticas pouco enfatizadas na vida em comum, como a compaixão, a justiça, a esperança
e o amor fraternal. Você não encontrará apelos para uma vida marcada por esses valores
a não ser nas palavras de Jesus que falam do Reino de Deus.
Jesus convidou seus ouvintes para tomarem parte de seu
Reino. Ao dizer que seu Reino era chegado, ele estava apontando para uma nova
mentalidade que deve orientar a humanidade. O Reino de Deus é espaço para nos
tornarmos mais humanos, com uma identidade própria e com mais consciência de
quem somos.
Isso envolve um processo que chamamos de subjetivação, o
qual construímos ao longo da vida, através de nossas relações com o mundo e uns
com os outros. Donald Winnicott, em Tudo
começa em casa, reconheceu que o ambiente familiar é importante para o
desenvolvimento saudável de qualquer indivíduo. A casa e a família são o ponto
de partida para a formação da personalidade, das relações sociais e da saúde
mental.
Dessa forma, desenvolvemos o processo de subjetivação quando
nos tornamos capazes de pensar, de sentir e de agir diante das condições de
vida no mundo. As experiências em família são espelhadas na vida comunitária,
formando a consciência crítica dos sujeitos a respeito do seu papel, a maneira
de compreender o mundo e as formas de exercer influência para a vida em comum.
O caminho para a nossa construção como sujeitos passa pela
vida em família. Ela é lugar de profundos aprendizados dos valores essenciais
para a vida em comum. É nela que aprendemos a viver em comunhão. Da mesma
forma, nela podemos aprender os valores do Reino de Deus como esse lugar de
relações e de formação.
Algumas razões para compreendermos a importância do ambiente
familiar para o nosso bem-estar:
- A casa é onde a vida começa
e onde a vida se realiza.
- A casa é o nosso refúgio, o
berço das nossas memórias e o palco dos nossos sonhos.
- O lar é o lugar onde nos
sentimos seguros, amados e onde podemos ser nós mesmos.
- A casa é um espelho da nossa
alma, mostrando o que somos e o que queremos.
- Em casa, aprendemos a amar,
a perdoar, a respeitar e a construir relações sólidas.
Quando os valores do Reino de Deus são vivenciados em
família, podemos compreender melhor o que é fundamental para a vida em comum na
sociedade. A compaixão, a justiça, a esperança, o cuidado e a paz são valores
essenciais para a vida em família que estão em sintonia com o que Jesus propôs
como marcas da presença do Reino entre nós. São sinais que apontam para a
prática do amor, do perdão e da reconciliação que podem ser aprendidos em
família, mas que também fazem falta no mundo atual.
Na epígrafe de seu livro, Winnicot cita o trecho de uma
poesia de T.S. Eliot:
“O lar é nosso ponto de partida. À medida que crescemos
O mundo se torna mais estranho, mais complexos os padrões
De morrer e viver. Não o momento intenso
Isolado, sem antes nem depois.
Mas uma vida ardendo em cada momento.”
Quando descobrimos a importância da vida em família para o
desenolvimento e o bem-estar das pessoas, o ambiente familiar se torna mais
acolhedor e propício a um relacionamento mais saudável. A família é como um
pequeno reino, com suas próprias características e contextos, mas que pode ser
reflexo do Reino maior, a fim de que seus membros possam se tornar cidadãos do
Reino de Deus no mundo.
(Assista às mensagens da série O Reino em Família: Valores
para a vida em comum >> em meu canal no Youtube).
sexta-feira, 6 de junho de 2025
Censo 2022: O Brasil se torna mais plural quanto à religião / Census 2022: Brazil becomes more religiously plural / Censo 2022: Brasil se vuelve más pluralista en lo religioso
A cada época, o Brasil vai deixando de ser um país
predominantemente cristão para se tornar um espaço em que todas as crenças vão
ocupando novas posições no cenário religioso. Desde o primeiro censo, em 1872,
em que a população do Brasil era formada por 99,7% de católicos, o aumento da
diversidade tem avançado de tal modo que se constitui um desafio para a
projeção do que poderá acontecer daqui para a frente.
Principais índices verificados:
a) Redução de 8,3 pontos percentuais dos Católicos, que saem de 65,0% em 2010,
para atuais 56,7%, uma redução
um pouco menor do que na década anterior que foi de 9,0 pontos percentuais.
b) Os evangélicos tiveram
aumento de 5,2 pontos percentuais, passando de 21,7% em 2010 para 26,9% em 2022. Esse índice foi de 6,7%
entre 2000 e 2010.
b) Aumento nas proporções das religiões Umbanda e Candomblé, que saíram de 0,3
% em 2010, para 1,0%, em 2022,
um aumento de 0,7 pontos percentuais.
c) Aumento de 1,3 pontos percentuais entre 2010 e 2022 dos
que se declararam Sem Religião, passando
de 7,8% para 9,3%.
d) Declínio na religião Espírita de 0,3 pontos percentuais, passando de 2,1% para 1,8%.
(Fonte: IBGE).
Em algumas regiões, esses índices
apresentam variações. Por exemplo, as regiões Norte e Centro-Oeste têm maior
concentração de evangélicos. O Acre é o estado com maior percentual de
evangélicos no país. O catolicismo é maioria em todas as regiões, mas tem maior
concentração nas regiões Nordeste e Sul. Os estados com maior número de
católicos são Piauí e Ceará. Espíritas e seguidores de religiões afro-brasileiras
têm maior concentração no Sul e no Sudeste e a maioria dos Sem Religião estão
no Sudeste.
Outro dado importante apontado nessa
amostra preliminar é a participação de negros e brancos nos grupos religiosos.
A religião mais negra do Brasil continua sendo a evangélica. Das pessoas que se
declararam pretas, 30% se identificaram com a religião evangélica e 2,3% com as
religiões afro-brasileiras. Entre os que se declararam pardos, 29,2% se
declararam evangélicos. Esse percentual chega a 32,2% da população indígena que
se declara evangélica.
A tendência verificada em 2010 do
aumento do grupo de pessoas que se declara Sem Religião continuou nessa amostra
do Censo 2022. Hoje, de cada 10 brasileiros, 1 afirma ser Sem Religião. Se
juntarmos os grupos católicos e evangélicos, verifica-se que o número de cristãos
vem caindo a cada censo, contando atualmente com 56,7% da população. Isso se
deve a dois fatores: a queda do 8,4 pontos percentuais de católicos em relação
ao 2010 e o crescimento de 5,2% dos evangélicos, considerado abaixo do esperado
tendo em vista que a população cresceu 6,5% no mesmo período.
Os dados do censo também levantaram o
nível de instrução por religião. O número de pessoas que se declarou sem
instrução e que possui apenas formação no ensino fundamental constitui a
maioria em todas as religiões, exceto entre os Sem Religião e os Espíritas.
Estes últimos têm o maior índice de participantes com curso superior completo e
o menor índice dos que não têm instrução.
Esses números apontam para alguns
fatos importantes:
a) O Brasil caminha para deixar de ser
um país predominantemente cristão para ser marcado pelo pluralismo religioso.
b) Tanto o pluralismo religioso
e quanto a multiculturalidade emergem como valores sociais que devem orientar a
formação de um estado laico onde todas as crenças e tradições religiosas possam
ter espaço.
c) O fenômeno do pluralismo religioso e a laicidade não
significam o fim da religião, mas atestam o fato de que o povo brasileiro
continua sendo um povo religioso.
d) As religiões católicas e evangélicas têm o grande desafio
de investir na formação dos seus membros.
e) A diversidade da religião evangélica no Brasil não foi
contemplada nessa mostra preliminar. O IBGE ainda não divulgou o percentual por
denominação nem o índice dos que se declaram sem vínculo com uma igreja.
f) As mulheres continuam sendo
predominantes em todos os grupos religiosos.
Os dados divulgados são preliminares e,
por isso, não permitem um diagnóstico mais abrangente da condição religiosa dos
brasileiros. Porém, é possível perceber que há uma mudança sensível no
comportamento religioso, em que as pessoas se sentem mais à vontade para falar
de suas crenças e assumir sua pertença religiosa. É um novo cenário que emerge,
resultado de uma mudança cultural que substitui o catolicismo hegemônico pela diversidade
religiosa. Essa tendência pode também interferir nas decisões políticas do
país, com a influência cada vez maior dessas novas expressões.
Imagens: IBGE
quinta-feira, 8 de maio de 2025
Papa Leão XIV: promessa de diálogo e continuidade de uma Igreja de Portas Abertas / Pope Leo XIV: promise of dialogue and continuity of a Church with Open Doors / Papa León XIV: promesa de diálogo y continuidad de una Iglesia de puertas abiertas
Na tarde deste dia 9 de maio de 2025, o Conclave elegeu, em
seu segundo dia, o norte-americano Robert Francis Prevost como o 267° Papa da
Igreja Católica Apostólica Romana. Uma surpresa para os melhores vaticanistas,
que apostavam em nomes mais conservadores. O Cardeal Prevost não constava da
lista dos principais prováveis sucessores de Francisco. Eleito Papa, adotou o
nome de Leão XIV e tornou-se o primeiro papa americano e o primeiro
agostiniano.
Embora pouco conhecido nos meios eclesiástico, Prevost tem
um passado marcado por uma atuação pastoral significativa. Serviu como religioso
na América Latina, especialmente no Peru. Considerado jovem para o pontificado
(tem 69 anos), é também visto como um conciliador moderado e apoiador dos
princípios reformistas de Francisco.
Ouvi com atenção seu primeiro discurso na sacada da basílica
de São Pedro. Alguns pontos me chamaram muito a atenção pelo fato de serem
indicadores de como deverá ser seu pontificado. O primeiro deles foi o desejo
pela paz, num tempo em que o mundo enfrenta dois conflitos graves (a guerra da
Ucrânia e a destruição do povo palestino na guerra de Israel contra o Hamas),
além da ameaça de uma nova guerra de proporções mundiais. Ele frisou que deseja
uma paz “desarmada e desarmante”, na contramão da corrida armamentista das
nações do mundo.
O novo Papa também apontou seu desejo de dar continuidade à
construção do caminho da sinodalidade e de uma igreja de portas abertas, dois
legados de Francisco. O seu discurso lembrou bastante as orientações que
emanaram da Conferência Episcopal de Aparecida, em 2007, com a ênfase à ação
missionária, comprometida com as condições concretas de vida das comunidades
locais. Demonstrou claramente que deseja uma igreja que seja capaz de diálogo,
que construa pontes, e não muros, que esteja sempre próxima aos que sofrem.
Leão XIV também fez questão de afirmar sua condição de um
agostiniano, como “filho de Santo Agostinho”. O lema dessa ordem religiosa,
criada no século XIII, se baseia na declaração: “No Único, somos um só”,
expressão do ideal de ser uma igreja com um só coração e uma só alma, como a
Bíblia registra sobre a vida dos primeiros cristãos: “Da multidão dos que
creram, uma era a mente e um o coração [...]” (Atos 4.32). É bom ressaltar que
as regras de vida monástica escritas por Santo Agostinho enfatizavam a pobreza,
a comunhão, a oração e o silêncio.
O nome Leão não é uma escolha de pouca importância. Lembra o
pontificado de Leão XIII, no final do século XIX, quando foi estabelecida a
Doutrina Social da Igreja, com ênfase no bem comum, na solidariedade, na
Justiça e na dignidade da pessoa humana. Ao expor a proposta de uma sociedade
mais justa, a encíclica Rerum
Novarum rejeitou as doutrinas marxistas e condenou o capitalismo
explorador. Mas o nome lembra também o primeiro Leão, o Magno, no século V, que
ampliou o poder do Bispo de Roma e atuou para a afirmação da Cristologia ocidental
com base na teologia de Santo Agostinho.
Diante do cenário geopolítico mundial, não há como falar da
eleição de um papa americano sem mencionar a figura do atual presidente dos
Estados Unidos, Donald Trump. Leão XIV deixou implícito em sua fala que não
apoia a atual política norte-americana em relação aos imigrantes, à construção
de muros nas fronteiras e à imposição de barreiras tarifárias que afetam a
economia mundial. O novo Papa demonstrou que está muito mais próximo da
realidade latino-americana do que do imperialismo estadunidense.
É um sinal claro de que a Igreja de Roma se voltou para a
América Latina e que consolida a influência do Sul Global. Parte do seu
discurso foi em espanhol, inclusive. A teologia latino-americana já vem
ganhando força com o pontificado de Francisco, apontando para o cuidado da
criação e para a abertura aos mais vulneráveis. Que novos ventos soprem e
continuem a soprar para que tenhamos um cristianismo de mente e coração mais
abertos para as aflições humanas.
segunda-feira, 21 de abril de 2025
Legados de Francisco: o papa que encarnou o evangelho ao mundo / Legacies of Francis: The Pope Who Incarnated the Gospel to the World / Legados de Francisco: El Papa que encarnó el Evangelio al mundo
Nascido Jorge Mario Bergoglio (nasceu em 17 de dezembro de
1936, em Buenos Aires, Argentina) e tornado Francisco ao ser eleito, ele
proporcionou ao mundo uma oportunidade de repensar os caminhos da igreja como
povo de Deus, sua identidade como corpo de Cristo e sua mensagem de misericórdia
para um mundo em permanente conflito. Seu pontificado durou 12 anos, 1 mês e 8
dias (foi eleito em 13 de março de 2013). Nesse tempo, o mundo experimentou o
aumento dos efeitos da crise ambiental e climática, enfrentou uma pandemia, assistiu
a Rússia invadir a Ucrânia e aos ataques de Israel contra o povo palestino em
sua guerra contra o Hamas.
Os temas morais envolvendo o divórcio, a união de casais do
mesmo sexo, a participação religiosa das mulheres, a questão LGBTQIA+, a
eutanásia e a eucaristia aos recasados ainda foram tratados pelo viés
conservador. Porém, a preocupação com a justiça social, a defesa de uma
economia mais solidária em vez do capitalismo neoliberal e o diálogo ecumênico
e inter-religioso foram marcas de seu magistério.
Francisco será sempre lembrado por tendências significativas
para a ação da igreja nesse tempo. A primeira delas é a preocupação em ser uma
igreja pobre para os pobres. Sua opção preferencial pelos pobres se refletia na
simplicidade de seu pontificado. Outra tendência é ser uma igreja em saída, com
a ênfase na sinodalidade e no diálogo com o mundo. Os documentos que publicou (Evangelii Gaudium, Fratelli tutti, Gaudete et
exultate, Laudato si e Lumen Fidei) apontam para um
cristianismo misericordioso e fraterno, preocupado com a formação de uma
cultura do encontro. Há ainda a tendência de se assumir um compromisso com o
cuidado de nossa casa comum.
O novo papa que deverá ser escolhido nos próximos dias terá
o grande desafio de, no mínimo, continuar o legado de Francisco. A igreja não
consegue mais esconder os graves problemas que envolve sua pesada estrutura no
mundo. A influência do ultraconservadorismo também afeta a cúria romana, tanto
que as análises a respeito do sucessor de Francisco apontam tanto para o
retrocesso quanto para o avanço progressista. Pelo menos por ora, é momento de
lamentar essa perda, agradecer pela oportunidade de conviver com alguém que
encarnou o evangelho e orar pelo consolo aos católicos e cristãos de todo o
mundo.
sexta-feira, 18 de abril de 2025
O drama da cruz / El drama de la cruz / The drama of the cross
A crucificação de Jesus foi cercada de vários aspectos que
poderiam servir para abreviar a sua morte. Ele já tinha sido açoitado e
torturado pelos soldados, estava faminto e tinha sede, recusou beber a mistura
de vinho com fel que lhe serviria de entorpecente, os cravos em suas mãos e pés
tinham por objetivo provocar uma hemorragia, recebeu vinagre para beber e ainda
tinha sido ferido em seu ventre. A crucificação foi por volta das 9 horas da
manhã no monte chamado Gólgota, que quer dizer “caveira”. Hoje o chamamos de
monte do Calvário. Jesus expirou por volta das três horas da tarde. Antes de
expirar, Jesus clamou em aramaico como um sinal de seu grande sofrimento. Ele
não estava afirmando que Deus o havia abandonado. A expressão enkatelipes
deve ser mais bem traduzida como “deixar em apuros”. Mateus registra que a
morte de Jesus foi acompanhada de alguns fenômenos sobrenaturais: começou com o
período de trevas desde o meio dia até as três da tarde, a cortina que dividia
o lugar santo do lugar santíssimo no templo se rasgou de alto a baixo, houve um
terremoto, os sepulcros se abriram, alguns mortos ressuscitaram. Esses fatos
levaram o centurião e os soldados que acompanhavam a crucificação a
reconhecerem que Jesus era realmente o Filho de Deus.
Jesus veio ao mundo em cumprimento de uma promessa divina
para a redenção dos homens. Muitos profetas anunciaram a sua vinda afirmando
ser ele um rei. E o próprio Evangelho de Mateus usa a designação de rei oito
vezes para referir-se a Jesus Cristo como tal. Ele foi reconhecido como rei
pelos magos que vieram do oriente, na época do seu nascimento (conforme Mateus
2.2). Ele foi aclamado rei pela multidão, quando entrou em Jerusalém pela
última vez (Mateus 21.5). Ele mesmo se apresentou como sendo rei (Mateus 25.24
e 40). E foi julgado por ser apontado como rei dos judeus, o que significaria
uma alta traição para o governo romano que dominava aquela região (Mateus
27.11). A inscrição na cruz era uma informação a respeito do crime pelo qual Jesus
estava sendo punido, por ter falado a verdade de que ele era o Messias. Embora
aquela expressão proclamasse uma verdade, Jesus é muito mais que um rei. Ele é
o Senhor de todos os povos e tem sobre si todo o poder.
Se notarmos bem o que aconteceu ali durante a crucificação,
Jesus foi maltratado por três grupos diferentes de pessoas: os que iam passando
(Mateus 27.39), os religiosos importantes (Mateus 27.41) e os salteadores que
foram crucificados com ele (Mateus 27. 44). Poderíamos dizer que Jesus sofreu o
escárnio devido à ignorância das pessoas (pelos passantes), por pura
discriminação religiosa (pelos sacerdotes, escribas e anciãos) e por puro
ressentimento (pelos salteadores crucificados). Aquele que foi desprezado entre
os seus, era verdadeiramente o “Filho amado” do Pai que “veio para os que eram
seus e os seus não o receberam, mas a todos quantos o receberam, deu-lhes o
poder de serem feitos filhos de Deus, a saber, aos que creem em seu nome” (João
1.11-12).
O clamor de Jesus na cruz foi uma expressão de extremo
sofrimento físico, moral e espiritual. Ali, Jesus se fez pecado por nós,
carregando sobre si os pecados de toda a humanidade, com o propósito de salvar
a todo o que nele crê. Como ser humano, Jesus sentiu-se isolado e abandonado,
durante aquelas quase seis horas de sofrimento, das quais três horas
corresponderam a um período de trevas. Era necessário que Jesus chegasse ao
auge do sofrimento para que, assim, ele pudesse ser perfeitamente Salvador e
substituto de todos nós, pecadores. Só assim podemos afirmar que ele morreu em
nosso lugar, pagando o preço pela nossa própria salvação.
A morte de Jesus foi o sinal mais evidente do amor de Deus
por todos os homens. Jesus foi crucificado para o perdão de nossos pecados. Não
haveria outro motivo pelo qual Deus viesse consentir com tamanho sofrimento de
seu Filho, quando de sua vida entre os homens. A morte na cruz significou um
grande sofrimento para Jesus. Ele foi obediente em tudo, deixou-nos o seu
exemplo de resignação e amor, em tudo foi submisso ao Pai para cumprir todo o
propósito de Deus. Tudo isso para que pudesse garantir liberdade de acesso a
Deus. O pecado, a maior barreira que separa o homem e Deus, foi vencido ali na
cruz, concedendo pleno perdão a todo aquele que o busca pela fé.
Mateus 27.55-56 chama a atenção do leitor para as mulheres
que serviam a Jesus e acompanhavam todo aquele drama até o momento final da
sepultura (v. 61). Nem todos os seguidores de Jesus haviam fugido, as mulheres
haviam permanecido fiéis até o fim. Mateus fala também de um discípulo chamado
José de Arimateia, que era homem rico, membro do Sinédrio (Marcos 15.43) e
amigo de outro judeu ilustre chamado Nicodemos que o ajudou (João 19.18.39),
que providenciou o sepultamento de Jesus em um túmulo novo de sua propriedade.
Uma tradição essência dá conta de que o crucificado pelos mesmos motivos
alegados contra Jesus deveria ser sepultado no mesmo dia de sua morte [1].
Além disso, logo a tarde seria finda e o sábado teria início, quando ninguém
poderia fazer qualquer trabalho, muito menos tocar em um morto, considerado um
serviço imundo. Os fariseus demonstraram que, no fundo, acreditavam no poder
miraculoso de Jesus ao solicitar a Pilatos uma guarda especial para o sepulcro
e providenciar um selo para pedra que o fechava. A ideia do embuste era só uma
desculpa.
(Extraído do meu livro Mateus, o evangelho do Reino, disponível
em: https://a.co/d/id6yeMi ).
[1] Jean Dominic CROSSAN. Quem matou Jesus? As raízes do anti-semitismo na história evangélica da morte de Jesus. Rio de Janeiro: Imago, 1995. p. 195.
domingo, 16 de março de 2025
O cuidado como ação / Care as action / El cuidado como acción
Como
transformar aspirações em gestos, teoria em prática, discursos em ação? Isso
tem a ver com o exercício do cuidado. As bases de uma teologia do cuidado
passam pelos aspectos práticos de nossas relações. Cuidar é acima de tudo agir
em favor do outro. Envolve um movimento em direção às necessidades do outro.
Há uma
gramaticalidade da teologia do cuidado. Implica uma conjugação com outras ações
que demandam atenção, relacionamento, valorização e respeito ao outro. É
colocar-se em constante processo de aperfeiçoamento, de novas descobertas e de
crescimento interpessoal. As pessoas que cuidam são reconhecidas pelo seu valor
e inspiram maior confiança.
A Bíblia
apresenta vários verbos que remetem à prática do cuidado. O primeiro dele é o
próprio verbo “cuidar”, que denota atenção pelo outro. Envolve zelar, proteger,
ajudar, acompanhar, encorajar. É um verbo que requer um complemento. Quem
cuida, cuida de algo ou de alguém. Dito do ponto de vista linguístico, ele é um
verbo transitivo por não esgotar-se em si mesmo, precisa estar ligado a um
objeto.
Há três formas
do cuidado expressas no Novo Testamento. A primeira remete ao cuidar de si
mesmo, em: “Tem cuidado de ti mesmo
[...]” (1 Timóteo 4.16 ARC). O verbo em grego é epecho, que significa observar, prestar atenção, segurar firme,
conferir. A segunda lembra o fato de ser cuidado por Deus, em: “[...] porque
ele tem cuidado de vocês” (1 Pedro
5.7). O verbo em grego é melei, que
significa cuidar de algo ou alguém, preocupar-se, importar-se. A terceira está
ligada ao ser cuidado, em: “[...] suprissem
as suas necessidades” (Atos 27.3). O verbo grego é epimeleias, cuja tradução é cuidado, necessidades, atenção.
Essa análise
levanta uma preocupação sobre como é possível tornar essa ação como efetiva em
favor de alguém ou de si mesmo. Como podemos exercer o cuidado? Cuidamos quando
construímos parcerias, fortalecemos a comunhão, temos uma atitude mais inovadora,
buscamos a excelência, exercemos influência para o bem e temos esperança.
O exercício do
cuidado quando o outro está implicado envolve reconhecer o outro como pessoa, dar
atenção ao outro de forma individualizada, perceber as necessidades do outro e
valorizar as emoções do outro. São ações que procuram servir, cooperar, ser
solidário, dar generosamente e acolher o outro em suas necessidades.
A ação do
cuidado é terapêutica por si mesma. Em uma perspectiva integral, o cuidado
implica o acolhimento, a escuta, o suporte, o esclarecimento. O cuidado nos
interpela constantemente a agir como uma marca distintiva de nossa condição,
como algo que nos identifica e molda nossas relações no mundo.
Para a fé
cristã, cuidar é essencial para sua eficácia. Podemos inclusive parafrasear
Tiago 2.14, afirmando que a fé sem o exercício do cuidado é morta. Por essa
razão, precisamos descobrir quais são as ações que o exercício do cuidado nos
aponta.
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