
Esse modo de pensar percebido por Bauman não é exatamente novo. Ele já havia sido, de algum modo, apresentado por Karl Marx quando de seu Manifesto comunista, uma vez que aponta para a ação do éter das revoluções modernas que desmancha tudo que é sólido. Ele almejava, juntamente com Engels, que a sociedade moderna, que se encontrava estagnada e resistente, se dissolvesse para dar lugar a uma nova ordem. Isso era o mesmo que dizer que deveria se dar lugar a um cenário marcado pela profanação do sagrado, pelo repúdio e destronamento do passado, da tradição, de toda forma de crenças. Os primeiros sólidos a serem derretidos seriam as lealdades tradicionais, os direitos e obrigações que atavam pés e mãos que impossibilitavam os movimentos e iniciativas. Com isso, haveria lugar para uma progressiva prática de liberdade que envolveria a vida econômica, com mudanças radicais nas tradições culturais, éticas e políticas.
A diferença entre Marx e Bauman, no entanto, é que o segundo já elabora uma reflexão no contexto da pós-modernidade cuja característica principal é a dificuldade que se tem de fazer planos futuros para qualquer modo estável de sociedade. Toda a concepção do pensamento moderno estava baseada nos limites da razão em relação ao espaço e o tempo.
Em sua crítica aos princípios da modernidade, Marx acreditava que o seu comunismo se tornaria um modo social de vida integrado e harmônico. Nietzsche também direcionou sua crítica à modernidade para a superficialidade da sua cultura e ao apego de artistas e intelectuais modernistas nos aspectos de efeito da obra de arte e da obra de pensamento de modo geral. Entretanto, o que se vê é que todos os referenciais se diluíram. Por isso que Bauman faz uso da metáfora dos líquidos e gases para representar a fluidez de nosso tempo exatamente porque esses elementos não se fixam no espaço nem se prendem ao tempo.
As novas esferas de relacionamento são marcados pela fluidez, maleabilidade, flexibilidade e a capacidade de moldar-se a uma determinada situação. A metáfora do estado liquefeito denuncia que vivemos em um tempo de transformações sociais aceleradas, marcado pela dissolução dos laços afetivos e sociais, pelo desapego e pelo transitório. Uma falsa sensação de liberdade que traz consigo um processo de individualização marcado pelo desprendimento das redes de pertencimento social. A cultura do Eu se sobrepõe à cultura do Nós. Os frágeis laços que unem os indivíduos podem ser desfeitos diante de qualquer coisa que desagrade. Essa sensação de leveza e falta de compromisso é associada à sensação de liberdade individual.
O que a modernidade liquida esconde é que essa pseudo-liberdade é acompanhada de novas patologias que afetam o indivíduo e a sociedade. As pessoas se queixam de solidão, desamparo, isolamento, depressão. A sociedade sofre com exclusões de toda ordem como sintoma de uma perversa sensação de liberdade e desterritorialização, por ser pobre, feio, gordo, evangélico, imigrante, homessexual, negro, estrangeiro. Para os excluídos, os laços sociais são marcados por um crescente processo de tribalização, pela cultura do gueto.
Para Bauman a maior dificuldade é que faltam os referenciais, “não há mais grandes líderes para lhe dizer o que fazer e para aliviá-lo da responsabilidade pela consequência de seus atos; no mundo dos indivíduos há apenas outros indivíduos cujo exemplo seguir na condução das tarefas da própria vida, assumindo toda a responsabilidade pelas consequências de ter investido a confiança nesse e não em qualquer outro exemplo.”
Que maravilha unir espiritualidade com teorias literárias que abordam a pós-modernidade, gostaria de publicar seu artigo sobre o Bauman em nosso portal de cultura Blocos Online . Posso? Aguardo seu retorno, se possível para o meu e-mail (abaixo).
ResponderExcluirLi que sua formação é pela Severino Sombra, e que você reside em Niteroi; eu moro em Maricá...
Leila Míccolis
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