terça-feira, 10 de agosto de 2010

Novos paradigmas da missão / New paradigms for the mission /

O modelo de igreja que o ocidente construiu está morrendo, mas as pessoas continuam precisando de uma voz que as convoque para uma vida nova, tal como propõe o Evangelho. O ideal de uma nova humanidade como Jesus Cristo nos apresenta ainda é uma necessidade, mas sem o estigma da instituição que o cristianismo produziu. Ninguém tem dúvida de que a espiritualidade é uma necessidade, que a fé cristã aponta para uma esperança, que a comunhão é um desejo, mas as instituições que materializam esses sonhos estão cada vez mais desacreditadas.
A igreja, enquanto comunidade daqueles que ouviram e atenderam o chamado de Jesus, que passaram pela experiência do encontro e que vivenciam essa experiência de Deus, precisa ser reconhecida como uma comunidade solidária: com o Cristo que foi encarnado, crucificado, ressuscitado e glorificado, mas também com o mundo que vive a angústia que permeia toda a existência, tanto em sua dimensão histórica quanto em sua relação com as estruturas de poder vigentes.
Para mim, a perspectiva da missão não é o “ide” propriamente, mas o “porque Deus amou o mundo de tal maneira”. O que move a missão não é a o imperativo da ordem dada, mas o motivo pelo qual Deus amou o mundo. Por causa desse amor, todas as barreiras são rompidas, as muralhas são derrubadas, os caminhos são aplanados. Isso não está para além de uma relação dicotômica, entre sagrado e profano, que Jesus rompeu. Ao quebrar essa separação, entretanto, inaugura-se uma tensão que aponta para um novo horizonte. Ao contrário do que se possa pensar, a igreja não está aí para implantar uma nova ordem, novos sistemas ou mesmo uma nova sociedade, mas para trazer graça e humanização para um mundo que se perdeu de si mesmo.
Isso aponta para novos paradigmas sobre o que vem a ser evangelização e salvação, os temas principais implicados na missão. Evangelizar é um chamado à conversão, para que a igreja se torne a comunidade daqueles que vivem em obediência e submissão a Deus nas estruturas da vida onde a existência humana acontece. Salvação é o reencontro do sentido de viver a nossa própria humanidade, de uma retomada do ponto em que nos perdemos de nossa condição humana. E são esses novos paradigmas que provocam revolução, que nos desalojam e nos impulsionam a uma nova atitude.
A missão da igreja como essa comunidade solidária é servir a Cristo que reclama para si o mundo inteiro. Nesse sentido, ela é capacitada pelo Espírito para essa tarefa, que não é – nem nunca foi – a de pensar na salvação como algo relacionado à vida além, mas de revelar o senhorio de Cristo sobre toda a criação, principalmente levando em consideração as lutas que envolvem as formas de organização social e política atuais. Isso implica uma nova dimensão da abordagem teológica ligada à soteriologia, à peneumatologia e à escatologia. É o fim da apologética que se afirma como defensora da fé diante do mundo mau e pecador e o nascimento de um discurso que se reveste da graça para a descoberta do modo como Cristo toma forma no mundo através da igreja.
O lugar onde a missão acontece é o mundo, junto àqueles que sofrem. Isso desperta o seguinte questionamento: de que maneira nos relacionamos com as formas de poder? Como temos nos importado com as enfermidades e epidemias que assolam a humanidade ultimamente? Como tratamos da formação da futura geração? Como nos relacionamos com a cultura em um mundo que aprendeu a viver sem Deus? Como estamos influenciando a formação das lideranças? De que maneira nos preocupamos com o tema da sustentabilidade?
Isso é mais do que contabilizar convertidos, do que plantar igrejas, do que abrir frentes missionárias. É viver plenamente o que se pode denominar hoje de Missio Dei. A grande comissão e o grande mandamento são consequências do amor incondicional de Deus pelo mundo. Foi porque ele tanto amou que nos sentimos movidos a cumprir a missão.

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