Todas as tentativas de encontrar solução para
o que angustia o homem foram em vão. Os valores e aquilo que se tinha como
certeza para atribuir sentido à vida foram diluídos. O ideal de conforto e
bem-estar resultou no vazio e na fragmentação que caracteriza a contemporaneidade.
O niilismo nos convoca a uma atitude diante da nossa condição de
responsabilidade e de liberdade para construir um caminho que sirva de
referência. É isso o que nos resta diante da descrença em relação aos ideais da
Modernidade.
Nós cremos que a mudança que desejamos para o
mundo vem da força do evangelho. Embora o ideal cristão construído pela
religião também tenha sido insuficiente, nenhum outro ocupou seu lugar.
Foram-se as utopias, mas esse vazio comporta a ambiguidade e a contradição que caracteriza
esse estado de secularização da cultura e do desencantamento diante do sagrado.
A ausência de valores absolutos confronta-se com a necessidade de progresso e
de satisfação das condições da existência humana.
O ideal de civilização que se firmou está fundamentado
na busca da conformação e na homogeneização que resulta em conforto, mas a
condição humana é de inquietação e de abertura para o que está além. Essa é a
razão por que sempre queremos mais. Temos a habilidade de não nos conformarmos
com a nossa condição atual. A maneira como vivemos hoje nos indica que alguma
coisa não vai bem e que precisamos buscar respostas. Não aceitamos que a nossa
família se mantenha do mesmo jeito. Não aceitamos a rotina. Não aceitamos que
nossa carreira profissional fique estagnada. Não aceitamos que os
relacionamentos se mantenham na mesmice. Isso se confunde facilmente com
ambição, que nos leva à competição, ao fortalecimento das desigualdades e à
necessidade de autoafirmação.
Por isso que as situações de violência, de
injustiça, de opressão, de humilhação nos agridem tanto. A não conformação nos
leva a buscar saídas e a novas possibilidades de superação. É possível crer num
mundo melhor? Sim, claro, mesmo que isso pareça tão distante. Entretanto,
precisamos vencer a ilusão de que somos capazes de construir por nós mesmos um
mundo melhor. Não dá para acreditar num mundo melhor em que faltam a justiça e
a liberdade.
A gente acredita que falta Deus nas nossas
atitudes. Mas até dizer isso se torna perigoso diante de tantos religiosos em busca
de adeptos, que anunciam a possibilidade da vitória através da afirmação
positiva, criando uma sede de poder e de realização pessoal pela acumulação de
bênçãos traduzidas como bens, adicionando mais veneno onde já há tanta maldade.
Esse é um tempo de elevar um clamor por uma
vida mais humana. Estamos diante de um dilema, o mesmo que levou Deus a fazer a
escolha pela humanidade. O Deus que sofre pela humanidade é aquele que assume a
nossa condição. Diante de nossas injustiças, humilhações e contradições, Deus
escolhe sofrer conosco, assumir a nossa dor, morrer a nossa morte num exercício
de esvaziamento de si, a fim de que experimentemos a vida em sua forma mais
plena.
A hora é de clamar por mais
humanização. Clamar é muito mais do que bradar em alta voz. Clamar é assumir
que a nossa vida não pode continuar sendo a mesma diante de um Deus que se
deixa morrer. É reconhecer que uma vida melhor é possível por causa do amor e
da graça daquele que se fez homem. É aceitar o desafio de ser luz num mundo que
se acostumou com as trevas. É viver na expectativa de que o tempo de justiça e
de amor, quando o pranto se transformará em alegria, chegue logo.
O clamor de que falo é marcado por uma
atitude suplicante diante do Deus que se compadece, de reconhecer que não dá
mais para continuar do jeito que está e que não nos conformarmos mais com
nossas conquistas passageiras. É o clamor que nasce de uma vida comprometida
com a mudança que desejamos, de ver surgir primeiro em nós o sentimento sonhado
por Deus para aqueles que acolhem seu convite amoroso.
Eleve um clamor. Isso está em nossas
mãos. Faça isso com sua vida.
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