A Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável deixa
algum legado para a construção de um futuro melhor? Embora muitos
comentários apontassem para o fracasso de um acordo com fixações de metas ambiciosas
para as ações dos governos, acredito que há uma interessante contribuição dada
pela Rio+20. Alguns até entendem que houve um retrocesso na tentativa de se
formar uma consciência global no cuidado do meio ambiente e da vida, mas vejo
que houve uma mobilização que irá orientar as discussões em torno do tema daqui
por diante.
Em termos concretos, a gente pode dizer que o Espaço Humanidade se
constituiu numa oportunidade de oferecer por meio da arte a reflexão sobre o
modo como temos estabelecido nossas relações com a natureza e como temos lidado
com a vida. A própria iniciativa de se criar um centro de pesquisa sobre sustentabilidade
ligado a uma das maiores universidades da América Latina também é uma grande
inovação. Podemos falar também da ênfase que se deu na formação de uma consciência
planetária, baseada no princípio do agir localmente e pensar globalmente.
O maior legado, no entanto, é a capacidade demonstrada para se
construir novas utopias, como a afirmação que as próximas gerações precisam ter
as garantias mínimas de disporem dos mesmos recursos que hoje podemos contar.
Uma outra utopia é a ideia de que uma nova mentalidade precisa substituir a que
domina o consumo atual. Ficou evidente também a aspiração de uma nova
consciência política a fim de que não haja mais espaço para a corrupção e
regimes exploradores. A maior de todas as utopias, porém, é a convicção de que
é preciso e é possível erradicar a pobreza extrema com ações concretas.
Ficou também a abertura para novas possibilidades de se cuidar da vida
humana e suas relações. As manifestações que tumultuaram a cidade do Rio de
Janeiro, os eventos paralelos e os discursos das autoridades durante a
conferência deram conta de que há uma exigência para uma nova relação do homem
consigo mesmo. Uma atitude que possa levar à superação do narcisismo e do
hedonismo que marcam o comportamento que tem levado às principais causas que
impedem a afirmação de uma consciência de sustentabilidade. Uma nova espiritualidade
se faz necessária, que dê conta da salvação do homem de sua própria perdição.
Não se salva o mundo abraçando árvores. Num tempo em que se dá tanta ênfase aos
direitos individuais e de minorias, a Rio+20 colocou em questão a necessidade
humana de se viver com dignidade e de se construir valores que estejam
relacionados ao resgate de nossa humanização. O maior direito a ser garantido é
o da vida. E é nessa hora que ouço a voz de Jesus em meio a tantas vozes que
clamam por uma vida melhor: “eu vim para que tenha vida, e a tenham em
abundância.”
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