Certa vez Betinho disse que solidariedade não se agradece, comemora-se.
Nunca se falou tanto em solidariedade. Empresas se especializam em desenvolver
programas que promovam a solidariedade. A razão para isso é a necessidade
latente de uma mudança de atitude que traga novas perspectivas para hoje, diante
de tantas carências. Porém, cada vez mais se compreende que há recursos suficientes
para todos. O problema é que vivemos num mundo marcado pela individualização e
pela globalização. A lógica que rege as relações é voltada para o consumo, para
a ganância e para a competição.
A solidariedade é um valor que orienta a ação humana a partir do
sentimento de identificação com o outro com a finalidade de permitir a vida em
comunhão, em que são fortalecidos o respeito mútuo e o sentido de realização
pessoal. Nasceu da necessidade da vida em comum, que se acentua com o surgimento
do ideal de civilização. Mas mesmo nas sociedades menos desenvolvidas já se veem
os princípios da vida solidária entre os pertencentes do mesmo grupo.
Esse é um ideal humano antigo. O primeiro princípio constitucional da
república brasileira é o de construir uma sociedade livre, justa e solidária. Aristóteles
já compreendia em seu tempo que ninguém pode bastar-se a si mesmo. “Aquele que
não precisa dos outros homens, ou não pode resolver-se a ficar com eles, ou é
um deus, ou um bruto”, disse. Na Utopia
de Thomas More defendeu-se a ideia de que a natureza “quer que o bem-estar seja
igualmente dividido entre todos os membros do gênero humano, e, desse modo,
adverte-nos que não devemos perseguir os nossos interesses à custa da
infelicidade alheia.” Para Dürkheim, a solidariedade é como as pessoas se
mantêm unidas na dinâmica da vida social, como um sentimento de pertença e de
semelhança.
A Bíblia toda ensina a sermos solidários. Há muita sabedoria nessa
afirmação: “Aquele que oprime o pobre com isso despreza o seu Criador, mas quem
ao necessitado trata com bondade honra a Deus”, Provérbios 14.31. O profeta
Isaías chegou a questionar qual seria a melhor maneira de agradar a Deus: “Não
é partilhar sua comida com o faminto, abrigar o pobre desamparado, vestir o nu
que você encontrou, e não recusar ajuda ao próximo?” Isaías 58.7.
Jesus ensinou que o princípio da nossa ação deve ser orientado pela
maneira como gostaríamos de ser tratados se estivéssemos na mesma situação do
outro. Para Jesus, solidarizar é colocar-se no lugar do outro. Ele disse no Sermão
do Monte: “Assim, em tudo, façam aos outros o que vocês querem que eles lhes
façam; pois esta é a Lei e os Profetas”, Mateus 7.12.
Precisamos construir juntos uma nova experiência de Deus em que sejam
superadas a desigualdade e a injustiça, em que o sentido de propriedade e de
liberdade ganhe uma nova conotação que estimule a vida em comunidade. É
possível a construção de uma sociedade solidária? Seguindo a lógica da
competição vigente na atualidade, não. Mas seguindo a orientação do Espírito
Santo, sim. Foi isso que os primeiros cristãos experimentaram.
Solidariedade é o tema da pauta por um mundo melhor. Entretanto, para
usar uma expressão de Antoine de Saint-Exupéry, “a verdadeira solidariedade
começa quando não se espera nada em troca.” Apenas por desejarmos uma vida mais
humana, tal como Deus sonhou para nós.
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