A notícia do pedido de renúncia do Papa Bento XVI,
no último dia 11 de janeiro de 2013, e a vacância do cargo no Vaticano, a partir
de 28 de fevereiro, reacende a questão sobre a natureza e missão da igreja em
sua dimensão histórica. Não é só pelo fato de ser um acontecimento único na
história do cristianismo, mas porque deixa em aberto questões que perturbam o
papel da igreja e a luta por sua relevância num mundo que aprendeu a viver sem
Deus. Há 600 anos que um Papa não renuncia. Até mesmo muitos daqueles primeiros
líderes cristãos – do século I ao IV –, que são apontados como os primeiros
papas, deixaram o cargo pelo martírio.
Está claro que a igreja de Roma não é a única
representação cristã no mundo. Entretanto, a sucessão no Vaticano afeta todos
os segmentos cristãos. Os cismas com o Oriente e a Reforma Protestante
permanecem uma ferida aberta difícil de ser cicatrizada. Há também os temas contemporâneos
sem solução, como a relação com os conservadores radicais, o impasse da
Teologia da Libertação na América Latina, o problema da pedofilia, o diálogo
inter-religioso e os caminhos apontados pelo Concílio Vaticano II que não
foram ainda vivenciados em sua totalidade pelo catolicismo.
Quando o Papa assume divulgar sua decisão de
renunciar, há alguns implícitos nessa atitude. Primeiro, o de que a igreja é
feita de pessoas que se deixam afetar e que sofrem afetos , que se sensibilizam com a
fragilidade uns dos outros e que se veem reproduzidas naquele que assume a
função de servir como guia. Segundo, o de que o papa é um ser humano com todas
as suas dimensões humanas de imprevisibilidade e finitude, movido por
expectativas e temores, fé e incertezas, esperanças e incompletude. Terceiro, o
de que a igreja se rende ao domínio e à lógica do mercado, como uma instituição
humana, que exige cada vez mais competência e desempenho para lidar com as
questões que emergem de modo frenético nos embates atuais.
A igreja de Roma e o cristianismo como um todo se
dão conta de que, para atender às demandas de um mundo que cada vez mais rejeita
os discursos e as formas de dominação tradicionais, se faz necessário rever os
paradigmas atuais. O que resta disso é que a figura do papa continua sendo
agregadora, reunindo em torno de si um elemento que confere unidade ao
cristianismo: a necessidade e a relevância de se manter a figura papal, ou não.
São sinais de mudança que trazem boas expectativas.
Haverá um tempo em que a igreja terá que assumir sua condição humana e declarar
que aquela fumaça branca do colegiado comporta algo muito maior que a sucessão
do trono de Pedro. Haverá um tempo em que a igreja terá que admitir que o papel
pastoral tem mais a ver com o serviço do que com a soberania. Haverá um tempo
em que se acreditará que é possível intervir socialmente no mundo assumindo de
vez que somos, todos os cristãos, o espaço em que Cristo toma forma no mundo. Esse
tempo imagino que esteja chegando e que já deu o seu primeiro sinal.
Caro Irenio, todos sabemos que a Igreja Católica vem regredindo ao longo dos séculos, Países "tradicionalmente" católicos como o Brasil dá mostras claras desta realidade. A Igreja católica anda no sentido inverso da realidade, ela se sustenta de forma claudicante sobre os pilares do tradicionalismo, do arcaico e do poder centralizador, comparado às ditaduras, as pessoas não querem se sentir prisioneiras de dogmas. Você fala de "um mundo que aprendeu a viver sem Deus", eu vejo por outro prisma, "um mundo que tem aprendido a viver sem os dogmas", mas não abrindo mão de sua fé.
ResponderExcluirPr Irenio, muito interessante a análse. A mesma mente humana que pede por competencia e desempenho e suportada por um coração humano que clama por compreensao e pastoreio. Condição dificil esta nossa. Momento historico e que nos leva a inumeras reflecoes que levaremos algum temp para fazer. Grande abraço!
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