O Brasil tem um novo presidente eleito.
Jair Messias Bolsonaro é o 38° presidente da República, o oitavo
desde o fim da ditadura, por ter conquistado 55,13% dos votos
válidos, que corresponde a 47% dos votos totais numa eleição com
recorde de ausências e votos brancos e nulos. Ele é militar da
reserva, com a patente de capitão, e compôs a sua chapa com outro
militar, o General da reserva Hamilton Mourão, seu vice-presidente.
Curiosamente, é o 16° presidente militar do Brasil, sendo o
terceiro eleito pelo voto direto e o primeiro após o fim da ditadura
militar, regime pelo qual demonstra simpatia.
Sua eleição, no entanto, deve ser
vista dentro de um espectro maior do que a evidente vitória nas
urnas. Trata-se da eleição de um representante da extrema direita
que faz parte de um processo de retomada do poder das forças
oligárquicas que atuam no país. Sua chegada ao posto de mandatário
da nação interrompe uma sucessão de quatro vitórias das forças
progressistas e o avanço de ideias conservadoras que estão
vinculadas a outros movimentos ultradireitistas que ocorrem no mundo.
A eleição de uma chapa militar em
pleno exercício da democracia consolida o golpe engendrado pela
elite para impedir a realização de uma proposta política voltada
para os interesses das camadas menos favorecidas e das minorias. Pela
primeira vez, assistimos a eleição de um candidato que obteve menos
votos das pessoas de baixa renda e que recebeu críticas veementes de
pessoas mais esclarecidas no Brasil e no mundo.
Veja alguns aspectos a serem ressaltados
a respeito da vitória da extrema direita:
1. O avanço da extrema direita não é
um fenômeno brasileiro, mas uma tendência mundial que vem
preocupando lideranças e todas as partes, sobretudo nas grandes
democracias.
2. Um novo modo de fazer política ganha
projeção. A ausência de debate e discussão de projetos para o
país, o apego a uma pauta moralista conservadora sem reflexão
crítica e a afirmação de um inimigo comum foram as marcas da
campanha eleitoral. A atitude acusatória, o moralismo e o
antipetismo foram decisivos. Não se votou a favor de um projeto, mas
contra um mal identificado, contra a ameaça do diferente e contra o
partido que venceu as últimas eleições. Outro aspecto importante
da campanha eleitoral foi o uso de redes sociais pela internet, com a
disseminação das chamadas “fake news”, como estratégia.
3. A campanha eleitoral foi tensa, mas a
eleição em si ocorreu em clima pacífico e ordeiro. O povo foi às
urnas de forma consciente buscando votar naquilo que foi construído
como alternativa para a solução dos problemas que mais lhe afligem
diretamente.
4. O Partido dos Trabalhadores se
confirmou como oposição. Era para o PT sair dessa eleição
reduzido a pó. O golpe de 2016 tinha o objetivo de varrê-lo do
mapa. Mas conseguiu formar a maior bancada da Câmara de Deputados,
elegeu quatro governadores próprios e ainda cinco governadores
aliados. Além disso, conseguiu um feito que a maioria achava
impossível, que é reunir as forças de esquerda em torno de um
projeto democrático.
5. A democracia se encontra profundamente ameaçada. Para se manter no poder após
o golpe de 2016, a direita e o neoliberalismo se aliaram a um segmento
ultradireitista e flertaram com um discurso extremista e radical, cuja
inclinação aponta para o que historicamente identifica o fascismo.
Esses aspectos que ressalto aqui fazem
com que a eleição 2018 represente um apelo para que a luta pelo
Estado Democrático de Direito não esmoreça. A extrema direita e a
direita não devem ver a eleição de Bolsonaro como uma conquista
ufanista. Eles estão diante de duas missões impossíveis. A
primeira, a de colocar em prática tudo aquilo que Bolsonaro disse
que faria na campanha. A segunda é de atender a todas as demandas
daqueles que o elegeram. Se ele não der conta dos seus desafios,
perderá rapidamente a credibilidade que alcançou. Mas se partir
para o endurecimento e para o regime de exceção anunciado em sua
campanha, enfrentará dura oposição e resistência.
O papel da oposição também é
difícil, que é o de oferecer o contraditório e o da resistência.
Mas nem por isso é uma derrota, e sim uma nova maneira de encarar os
desafios. Na eleição, a gente escolhe quem vai ser governo e quem
vai ser oposição. A democracia não vive sem essas duas forças.
Governo sem oposição é tirania. O Brasil vive de forma muito
recente a sua maior experiência democrática. Há pouco mais de 30
anos, reconquistamos essa condição. Isso nos lembra que a luta por
direitos, liberdade e justiça social é interminável. Só os que
têm coragem e que desenvolvem esperança são capazes de
enfrentá-la. Estamos começando uma nova etapa dessa caminhada e,
para tanto, é preciso aproximar pessoas que tenham a capacidade de
enfrentar corajosamente grandes desafios e de sonhar com uma nação
mais justa. Não vamos nos afastar de nossa luta. Essa hora é de
unirmos forças para sermos uma oposição consciente e responsável
a tudo o que está por vir. Que Deus nos proteja e nos dê força
para lutar. Vamos em frente.
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