domingo, 2 de outubro de 2022

Democracia em risco elevado: Reflexões sobre o primeiro turno da eleição brasileira | Democracy at high risk: Reflections on the first round of the Brazilian election | Democracia en alto riesgo: Reflexiones sobre la primera vuelta de las elecciones brasileñas

No encerramento da noite de 2 de outubro de 2022, o Brasil conheceu o resultado das eleições no primeiro turno, com um cenário que valida o projeto conservador que vem tomando conta do país. O bolsonarismo, onda de extrema-direita que conquistou o Governo Federal, grande representação no congresso e diversos setores da sociedade sobretudo religioso – com destaque a parcela significativa da igreja evangélica –, se mostrou como uma força política consolidada, com uma pauta reacionária, que flerta com o nazi-fascismo que se levanta no mundo.

Não se trata de um projeto político-econômico, mas de uma mentalidade que influencia a cultura, a educação, a produção científica e até as relações inter-religiosas. Essa onda que se autointitula conservadora é muito mais do que isso. Ela afeta as noções civilizatórias de relações interpessoais, familiares, de corporeidade, de Direitos Humanos e do que é ser uma pessoa capaz de ter consciência de suas próprias condições concretas de existência.

O paradoxal disso é que o avanço do bolsonarismo se dá num contexto democrático, conquistando o voto de milhões de brasileiros que são influenciados pelo discurso de medo a respeito do papel das esquerdas, dos movimentos sociais de defesa dos direitos das minorias, das lutas por direitos sociais e trabalhistas. O bolsonarismo joga com o sistema democrático representativo para se tornar sua maior ameaça. O avanço do bolsonarismo significa o aumento às ameaças ao Estado Democrático de Direito. Significa a consolidação do golpe contra as políticas públicas em favor dos mais pobres, dos trabalhadores, das mulheres, das populações LGBTQIA+, das expressões religiosas de matriz africana.

Dias piores virão. O ovo da serpente foi chocado. A guinada bolsonarista nessa eleição não é uma boa notícia em qualquer cenário. Como escreveu Dante Alighieri no aviso colocado na entrada do inferno da Divina Comédia, “vós que entrais, abandonai toda a esperança.” Teremos dias mais difíceis para a economia, para as relações internacionais, para nossos biomas, para as populações indígenas, para as lutas antirracistas, para os movimentos em defesa da diversidade religiosa e de gênero, para os recursos destinados à educação básica, saúde, pesquisa científica, universidades e geração de renda.

O que se viu nesses últimos quatro anos não foi suficiente para demonstrar para uma parcela significativa dos eleitores que tivemos até aqui o pior governo de todo o período republicano do Brasil. Com isso, aqueles que perpetraram crimes – bem como seus mentores – contra o Meio Ambiente, contra os territórios e os povos indígenas, com disseminação de fake news, decretos de sigilos e uso de orçamento secreto para a compra de votos no Congresso vão ganhando a oportunidade de continuarem sua ação de forma impune.

Ainda dá tempo de mudar os rumos. A luta pela vitória da esquerda, representada pelo candidato Lula, será renhida, mas valerá a pena o esforço. O segundo turno não deve ser marcado pela união de forças das progressistas, mas pelo apelo ao bom senso, à responsabilidade ética com a vida, pela união daqueles e daquelas que preservam um mínimo de civilidade. A democracia está por um fio. Falta muito pouco para que ela seja enterrada de vez, caso o projeto de governo representado pelo bolsonarismo, na figura de seu principal articulador e atual Presidente da República, saia vencedor no segundo turno.

Caso isso aconteça, resta aos homens e mulheres dessa nação que prezam pelo cuidado com a vida e com os mais vulneráveis travar a luta desigual de quem luta contra gigantes. Da mesma forma, falta muito pouco para vencer no segundo turno. Como digo nas redes sociais, o fascismo voltou. Já o vencemos uma vez. Vamos vencer de novo. É preciso continuar crendo como Cartola que o Sol há de brilhar mais uma vez.

Imagem: Infomoney.

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