“[...] Vimos a sua glória [...]” João 1.14
Um termo que acompanha o cristianismo desde o começo procura
explicar o modo como Deus se revela aos homens na pessoa de Jesus Cristo: “epifania”,
que tem sido traduzido comumente como “manifestação”.
Epifania é o instante do esclarecimento, é o momento do
descortinar do entendimento, quando tudo passa a fazer sentido e a vida ganha
novo significado. Na filosofia, é um acontecimento único, iluminado e
inspirador, quase que sobrenatural em que o conhecimento acontece.
A palavra vem do grego, que quer dizer aparição, manifestação ou
milagre. É a junção da preposição epi,
sobre, com a expressão phaino, que
significa brilho. O dicionário diz que é um súbito entendimento ou compreensão
de algo. A tradição cristã usa essa palavra para descrever a revelação de Deus
em Cristo que se encarnou como pessoa humana.
Três fatos na vida de Jesus são tidos como epifanias. O primeiro,
quando os magos que vieram do Oriente se encontraram com o bebê Jesus. O
segundo, quando Jesus vai ao encontro de João Batista para ser batizado. E o
terceiro, quando Jesus realiza o primeiro milagre, em Caná da Galileia. Eles
servem para nos lembrar de que epifania é o que nos conduz à entrega e à doação,
é o que nos conduz a uma descoberta de que somos pessoas amadas por Deus e é
também o que nos conduz à transformação e à dignidade.
A epifania tornou-se uma festa religiosa no catolicismo,
normalmente comemorada no dia 6 de janeiro, que na nossa cultura corresponde ao
Dia de Reis. Nessa data, a cristandade é convidada a se lembrar que Jesus
Cristo é o filho unigênito do Pai, que se fez homem, para sacrificar sua
própria vida em favor da humanidade.
Como festa, a Epifania tem sua origem no Oriente, celebrada como
uma forma de fugir das comemorações natalinas, que coincidiam com os festejos
pagãos ao Sol. Era chamada de Hagia Phota,
a santa luz, como referência à revelação do evangelho ao mundo.
Isso nos lembra que a fé cristã é encarnação. É o reconhecimento
de que Jesus é Senhor e Salvador de todos os homens em todos os tempos. O
profeta já tinha anunciado a chegada da luz de Deus aos homens: “Levanta-te, resplandece, porque é chegada a tua
luz, e é nascida sobre ti a glória do Senhor” (Isaías 60.1 ARA). Jesus disse que seus discípulos são a luz do mundo
(Mateus 5.14). Paulo interpretou esta passagem a partir do fato de que esta luz
já brilha em nossos corações: “Pois Deus que disse: ‘Das trevas resplandeça a luz’,
ele mesmo brilhou em nossos corações, para iluminação do conhecimento da glória
de Deus na face de Cristo” (2
Coríntios 4.6). Pedro relatou que somos o povo eleito para anunciar as obras
daquele que nos chamou das trevas para a luz (1 Pedro 2.9). João nos convidou
para andarmos nessa luz para que experimentemos comunhão uns com os outros: “Se, porém,
andamos na luz, como ele está na luz, temos comunhão uns com os outros, e o
sangue de Jesus, seu Filho, nos purifica de todo pecado” ( 1 João 1.7).
Epifania,
portanto, é um convite para que a luz de Jesus brilhe em nós a fim de que
possamos iluminar o mundo com a mensagem e o testemunho de vida que produz
transformação. Tal como na visita dos magos, epifania é o que nos capacita a
fazer a entrega do que há de mais humano em nós. Tal como no batismo de Jesus,
epifania é o que nos capacita a viver de forma humana diante de Deus como um
imitador do caráter de Cristo. Tal como no milagre da transformação da água em
vinho, epifania é o que nos capacita a estarmos mais comprometidos com a realização
do outro do que com estruturas, sistemas e doutrinas.
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