“Um só Deus e Pai de todos, que é sobre todos, por meio de todos e em
todos.” Efésios
4.6.
Jesus sempre se referiu a Deus como seu pai. Ele
mesmo o chamou de “abba”, a primeira palavra em aramaico que as crianças de seu
tempo aprendiam a falar, equivalente ao nosso “papai”. Na oração que ensinou aos
seus discípulos, Jesus pediu que nos referíssemos ao “Pai Nosso”.
Precisamos da figura do pai. Freud disse certa
vez que, “na maioria dos seres humanos, tanto
hoje como nos tempos primitivos, a necessidade de se apoiar numa autoridade de
qualquer espécie é tão imperativa que seu mundo desmorona se essa autoridade é
ameaçada”. Isso porque o
pai representa o quanto podemos ser capazes de encontrar o equilíbrio diante
dos conflitos do mundo em que vivemos. Para Jung, o arquétipo do pai é um símbolo
que contribui para a formação de nossa personalidade.
Não é um equívoco concordar com a psicanálise de que a ideia
que temos de Deus é uma projeção infantil da imagem paterna. Em sua revelação
ao homem, Deus sempre se mostra como um pai amoroso. E é consolador descobrir
que Deus sempre nos vê como um pai vê o seu filho.
Tomando como base o mito de Édipo, podemos compreender a
figura paterna como aquela que nos expõe ao outro como um espelho. E isso é
condição de nossa formação como pessoas, é o que provoca nossos deslocamentos
em direção à maturidade e à ilusão de sermos autônomos. O pai funciona como uma
metáfora do desejo que temos de sermos acolhidos por quem nos deu a vida como
um dom.
Chamar a Deus de Pai é muito mais do que reproduzir
a ideia paterna que temos e projetá-la numa figura distante. É pluralizar a
função paterna e descobrir que somente aquele que nos criou e nos deu as
condições de existência poderia carregar consigo as prerrogativas do pai. O pai
que temos é que se torna uma representação dessa paternidade divina, uma
encarnação provisória e mal-acabada do pai amoroso que temos em Deus.
Deus é pai porque estabelece uma relação de amor conosco.
Deus é pai porque investe na nossa formação como pessoas. Deus é pai porque
nele fomos gerados para viver em liberdade e em criatividade no eterno devir em
que a vida se dá. Deus é pai porque fala com seus filhos. Deus é pai porque
somos semelhança sua, capazes de sentir alegria e dor, de ter abertura para o
que está além. Deus é pai porque em nossa intimidade desejamos sua presença
entre nós.
Quantas razões a mais poderíamos acrescentar para
entendermos Deus como nosso pai? O profeta declarou: “Contudo, Senhor, tu és o
nosso Pai. Nós somos o barro; tu és o oleiro. Todos nós somos obra das tuas
mãos” (Isaías 64.8).
Vivemos uma experiência de amor ferido em que as
relações paternas humanas não conseguem cicatrizar. E é a descoberta do amor
divino que nos remete à construção de nossa relação com Deus como Pai. O
salmista canta: “Como um pai tem compaixão de seus filhos, assim o Senhor tem compaixão
dos que o temem; pois ele sabe do que somos formados; lembra-se de que
somos pó” (Salmos 103.13,14).
“Vejam como é grande o amor que o Pai nos concedeu: que fôssemos chamados filhos de Deus, o que de fato somos!” (1 João 3.1). Somente pessoas que se deixam ser invadidas por esse amor conseguem atribuir a Deus o lugar de Pai em sua vida.
“Vejam como é grande o amor que o Pai nos concedeu: que fôssemos chamados filhos de Deus, o que de fato somos!” (1 João 3.1). Somente pessoas que se deixam ser invadidas por esse amor conseguem atribuir a Deus o lugar de Pai em sua vida.
Nenhum comentário:
Postar um comentário