Que
Brasil esperar pós-impeachment? O longo processo que foi a destituição de Dilma
da presidência da República desgastou as relações e provocou ainda mais o
desinteresse da população pela política. Por outro lado, a esquerda que sempre
foi fragmentada no Brasil, sai desse processo fragilizada e desacreditada,
enquanto a direita mais extremista – que abarca os segmentos mais opressores da
sociedade – sai mais fortalecida que já é.
As
instituições democráticas revelaram que não estão preparadas para enfrentar
tempos de forte turbulência. O impeachment não será suficiente para pôr fim a quase
dois anos de ataque à política econômica e à sede de poder por parte dos
partidos que deram sustentação às manobras perpetradas por alguém que traiu à
confiança de sua aliada mancomunado com alguém que procurou se vingar para se
safar de seu trágico fim político.
Em
pleno período eleitoral, o efeito desse desgosto para com a política pode ser ainda
mais devastador na medida em que oportunistas procurarão tirar proveito do momento
com discursos moralistas e culpabilizadores, prometendo soluções ilusórias e
aprofundando ainda mais o estado de alienação da população.
O
objetivo do processo não foi só tirar do cargo uma pessoa que cometeu um crime
de responsabilidade que carece ainda de tipificação jurídica. Ele se constitui
numa articulação de forças conservadoras e oligárquicas com o objetivo claro de
pôr fim a um projeto de governo vitorioso nas urnas por quatro eleições seguidas
para que outro projeto seja aplicado em seu lugar. Trata-se do mesmo projeto
trabalhista que vem sendo perseguido desde o governo de Getúlio Vargas e que
sofreu oposição dos mesmos segmentos conservadores e oligárquicos.
Se
considerarmos os conflitos políticos por conta desse embate programático,
veremos que todos os presidentes que tentaram enveredar por um entendimento
favorável ao projeto trabalhista sofreram tentativas de golpe. O resultado é
que, nos últimos 60 anos, o saldo foi o seguinte: um presidente se suicidou, outro
renunciou, outro foi deposto por golpe militar e agora temos uma que foi
afastada por um processo parlamentar de impeachment. Em todas as ocasiões,
essas manobras foram entendidas como tentativas e efetivação de golpe.
Temo
pelo nosso futuro. O que se segue após o arbítrio é o fracasso, o que se segue após
a injustiça são os excessos e o que se segue após o golpe é a tirania.
Infelizmente, só é possível dizer o que a história nos permite: o pior ainda
está por vir. Após momentos em que vontade de uma elite dominante prevalece
sobre a soberania popular, tem acontecido um período de grave instabilidade em
que se percebe abalos nas relações sociais, políticas, financeiras e
econômicas. Isso significa, mais recessão, mais desemprego, mais desigualdade
social, ao mesmo tempo em que significa menos capacidade de compra, menos
capacidade de investir e menos poder de crédito.
A
tendência em cenários semelhantes – e poderíamos citar aqui vários exemplos
recentes de nossa história – é o emprego de práticas de exceção para conter as
críticas e os descontentamentos. Ainda mais quando a gente se depara com a
realidade de que as investigações de corrupção começam a bater à porta dos que
hoje assumem o poder e daqueles que dão sustentação ao novo governo.
O
fato é que senadores corruptos foram determinantes com seu voto a favor do
afastamento de uma pessoa idônea. É mais um golpe na história praticado pelos
mesmos de sempre. Uma verdadeira injustiça foi praticada diante do
mundo. Se formos capazes de não nos indignarmos com a injustiça, seja ela de
que natureza for, somos os mais desprezíveis dentre os humanos.
Embora o impeachment passe a ser
uma página virada, a história não termina por aqui. Os desdobramentos das
investigações continuam. O Brasil aprendeu a conviver com a transparência e com
as conquistas sociais trazidas pelos governos Lula e Dilma. Será muito difícil buscar
a confiança da população em meio aos anúncios de medidas impopulares e das
delações contra os integrantes do novo governo.
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