sábado, 3 de setembro de 2016

O discípulo amado / The beloved disciple / El discípulo amado

João é um bom exemplo de discípulo. Ele não foi chamado por seus companheiros de “o discípulo amado” à toa. Talvez isso se devesse ao fato de estar ligado ao círculo mais próximo a Jesus. Dentre os mais próximos ele era, sem dúvida, o mais chegado.
O pai de João, Zebedeu, era um importante empreendedor da pesca (Mateus 4.21) e sua mãe, Salomé, se tornou uma seguidora de Jesus e o serviu até o fim (Marcos 15.40.41). Inicialmente, João se tornou um discípulo de João Batista, mas passou a seguir a Jesus assim que seu primeiro mestre o identificou como “o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” (João 1.36 e 37). Ele e seu irmão Tiago abandonaram tudo para seguir a Jesus (Marcos 1.20).
Por causa do seu temperamento intempestivo e inflamado, foi chamado, junto com seu irmão, por Jesus de “Boanerges” ou “filhos do trovão” (Marcos 3.17). Ele ficou incomodado com algumas pessoas que expulsavam demônios, mas que não pertenciam ao grupo de Jesus (Marcos 9.38); ele alimentava ainda um preconceito com os samaritanos e desejou que fossem destruídos (Lucas 9.54). Também por causa de sua atitude ambiciosa, aspirava lugares de poder no Reino de Deus, ao que fora repreendido por Jesus (Marcos 10.35-37).
João esteve presente de forma marcante em todos os momentos decisivos da vida de Jesus durante seu ministério. Ele esteve junto de Jesus no monte da transfiguração (Mateus 17.1-9) e no jardim de oração (Mateus 26.36-37). Esteve presente no julgamento de Jesus (João 18.15-16), estava ao lado da mãe de Jesus durante a crucificação (João 19.26) e foi o primeiro a chegar ao sepulcro no dia da ressurreição (João 20.2-4).
João foi quem cuidou da mãe de Jesus depois da crucificação (João 19.27). Ele se tornou um importante líder da igreja iniciante, sendo conhecido como o apóstolo do amor. Após a destruição de Jerusalém, João se instalou na cidade de Éfeso e ali exerceu um grande ministério edificando igrejas e proclamando o evangelho. Sofreu perseguições, foi exilado em Patmos por um tempo, enfrentou movimentos heréticos e influenciou na formação de importantes pensadores cristãos como Policarpo, Inácio e Papias. Aos 95 anos de idade, exercia uma atividade dinâmica no cuidado com a igreja. Provavelmente veio a falecer com mais de 100 anos na cidade de Éfeso.
João encarnou a própria essência do sentido de discipulado e de missão. Em sua vida, esses dois aspectos estão profundamente implicados. Como discípulo, João pautou sua vida pelo caráter de Cristo. Ele chegou a dizer que “aquele que afirma que permanece nele, deve andar como ele andou” (1 João 2.6). Como missão, ele assumiu a tarefa de proclamar a boa notícia do Reino de Deus como a essência de sua mensagem e ação. Ele disse de forma muito enfática: “Nós lhes proclamamos o que vimos e ouvimos para que vocês também tenham comunhão conosco[...]” (1 João 1.3).
O resultado de suas escolhas como discípulo aparecem em sua produção: ele escreveu cinco livros que hoje compõem o Novo Testamento, sendo um sobre quem era Jesus para ele, três sobre a maneira como ele entendia a vida em comunidade e um sobre sua esperança em tempos difíceis. E o resultado de sua vida no cumprimento da missão aparece em seu compromisso com o Reino de Deus: ele se comprometeu com a vida das igrejas; chamava seus companheiros de caminhada de filhinhos; por onde andou, empenhou-se pelo fortalecimento da comunhão e da prática do amor uns aos outros. As chamadas “comunidades do discípulo amado” eram no mínimo sete, na região que hoje compreende a Turquia.

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