João é um bom exemplo
de discípulo. Ele não foi chamado por seus companheiros de “o discípulo amado”
à toa. Talvez isso se devesse ao fato de estar ligado ao círculo mais próximo a
Jesus. Dentre os mais próximos ele era, sem dúvida, o mais chegado.
O pai de João,
Zebedeu, era um importante empreendedor da pesca (Mateus 4.21) e sua mãe,
Salomé, se tornou uma seguidora de Jesus e o serviu até o fim (Marcos
15.40.41). Inicialmente, João se tornou um discípulo de João Batista, mas
passou a seguir a Jesus assim que seu primeiro mestre o identificou como “o
Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” (João 1.36 e 37). Ele e seu irmão
Tiago abandonaram tudo para seguir a Jesus (Marcos 1.20).
Por causa do
seu temperamento intempestivo e inflamado, foi chamado, junto com seu irmão,
por Jesus de “Boanerges” ou “filhos do trovão” (Marcos 3.17). Ele ficou
incomodado com algumas pessoas que expulsavam demônios, mas que não pertenciam
ao grupo de Jesus (Marcos 9.38); ele alimentava ainda um preconceito com os
samaritanos e desejou que fossem destruídos (Lucas 9.54). Também por causa de
sua atitude ambiciosa, aspirava lugares de poder no Reino de Deus, ao que fora
repreendido por Jesus (Marcos 10.35-37).
João esteve
presente de forma marcante em todos os momentos decisivos da vida de Jesus
durante seu ministério. Ele esteve junto de Jesus no monte da transfiguração
(Mateus 17.1-9) e no jardim de oração (Mateus 26.36-37). Esteve presente no
julgamento de Jesus (João 18.15-16), estava ao lado da mãe de Jesus durante a
crucificação (João 19.26) e foi o primeiro a chegar ao sepulcro no dia da
ressurreição (João 20.2-4).
João foi quem
cuidou da mãe de Jesus depois da crucificação (João 19.27). Ele se tornou um
importante líder da igreja iniciante, sendo conhecido como o apóstolo do amor.
Após a destruição de Jerusalém, João se instalou na cidade de Éfeso e ali
exerceu um grande ministério edificando igrejas e proclamando o evangelho.
Sofreu perseguições, foi exilado em Patmos por um tempo, enfrentou movimentos
heréticos e influenciou na formação de importantes pensadores cristãos como
Policarpo, Inácio e Papias. Aos 95 anos de idade, exercia uma atividade
dinâmica no cuidado com a igreja. Provavelmente veio a falecer com mais de 100
anos na cidade de Éfeso.
João encarnou a própria essência
do sentido de discipulado e de missão. Em sua vida, esses dois aspectos estão
profundamente implicados. Como discípulo, João pautou sua vida pelo caráter de
Cristo. Ele chegou a dizer que “aquele que afirma que permanece nele, deve
andar como ele andou” (1 João 2.6). Como missão, ele assumiu a tarefa de
proclamar a boa notícia do Reino de Deus como a essência de sua mensagem e
ação. Ele disse de forma muito enfática: “Nós
lhes proclamamos o que vimos e ouvimos para que vocês também tenham comunhão
conosco[...]” (1 João 1.3).
O resultado de
suas escolhas como discípulo aparecem em sua produção: ele escreveu cinco
livros que hoje compõem o Novo Testamento, sendo um sobre quem era Jesus para
ele, três sobre a maneira como ele entendia a vida em comunidade e um sobre sua
esperança em tempos difíceis. E o resultado de sua vida no cumprimento da
missão aparece em seu compromisso com o Reino de Deus: ele se comprometeu com a
vida das igrejas; chamava seus companheiros de caminhada de filhinhos; por onde
andou, empenhou-se pelo fortalecimento da comunhão e da prática do amor uns aos
outros. As chamadas “comunidades do discípulo amado” eram no mínimo sete, na
região que hoje compreende a Turquia.
Nenhum comentário:
Postar um comentário