“Mas estes foram escritos para que vocês
creiam que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus e, crendo, tenham vida em seu
nome.” João 20.31
Quem foi
Jesus? Talvez ele seja a figura mais controversa de toda a história da
humanidade. Historicamente, ele foi um judeu considerado herege por sua gente e
uma ameaça ao poder romano que controlava a Palestina de seu tempo. O problema
é que, além de uma pessoa com esse currículo, muita gente acredita que ele
também é Deus.
O fato é que o
nome “Jesus” mexe com o imaginário do mundo inteiro e é possível falar até de
uma construção histórica de como sua imagem se tornou como a de um herói que
tem resistido a dois mil anos de história e tem alcançado o mundo inteiro.
Suas primeiras
testemunhas levaram um tempo para reunir suas narrativas em obras que pudessem
testificar quem ele foi de fato. Os primeiros escritos, que eram coleções de
pequenos relatos de seus feitos milagrosos e de breves ensinos que ele deixou,
só apareceram cerca de 15 anos após sua morte na cruz.
Os evangelhos
foram escritos usando fontes variadas, algumas orais e outras escritas em pequenos
fragmentos. Eram pequenos textos que circulavam entre os primeiros cristãos com
relatos de milagres de Jesus, aforismos que Jesus ensinou e até citações do
Antigo Testamento que lembravam profecias acerca do Messias que haveria de vir.
Lucas explicou que fez uma detalhada busca dessas fontes e as juntou para que
servissem de orientação “para que tenhas a certeza das coisas que te foram
ensinadas” (Lucas 1.4). João
também declarou que havia muitos desses relatos, mas que reuniu alguns “para que
vocês creiam que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus e, crendo, tenham vida em
seu nome” (João 20.31).
Os evangelhos,
nome que essas coletâneas receberam, não eram biografias propriamente, mas
testemunhos sobre as impressões que Jesus causou na vida de quem teve contato
com ele. Essa palavra vem do grego que quer dizer “boa notícia” e acabou se
tornando um gênero literário que oferece as informações mais precisas e
confiáveis que se pode ter sobre Jesus Cristo.
Em Teologia,
sempre se procurou apresentar a pessoa de Jesus a partir de duas perspectivas
cristológicas: uma ascendente e outra descendente. Uma que fala do Cristo do
alto e outra que fala de Jesus de baixo. Uma que remete ao diviníssimo Jesus e
outra que busca o humano Jesus. Uma que trata do Cristo da fé e outra que
investiga o Jesus da história.
Os evangelistas
não estavam preocupados com nenhuma dessas abordagens cristológicas. Aqueles
que andaram, comeram e viveram com ele, o viram morrer na cruz, o reconheceram
ressurreto e assistiram a sua ascensão estavam certos de que estiveram diante
de uma pessoa humana extraordinária, portadora de uma mensagem libertadora e
que tinha consciência de seu compromisso autêntico com um domínio que não se
limita às ordens que regem uma vida secularizada e terrena. Uma pessoa que
apontava para a vida além da vida, para valores que trazem dignidade e
esperança para a humanidade e para uma relação com ele que indicava o sentido
de viver de forma plena diante de Deus.
Foi necessário
a contribuição de quatro seguidores de Jesus para falar sobre ele: dois apóstolos,
um pesquisador e um aprendiz. Respectivamente, Mateus e João, Lucas e Marcos.
Todos investidos da mesma intenção de oferecer um modo de compreender a vida e
a mensagem de Jesus, de comunicar seus ensinos como uma boa notícia a todos e
de aplicar os mesmos ensinos às situações da vida.
John Stott
entende que, embora sejam quatro evangelistas, eles possuem apenas uma
mensagem: a de que um Deus amoroso se compadeceu com a humanidade, encarnou-se
como homem e ofereceu salvação através de Jesus Cristo. Isso demonstra que essa
graça salvadora pode ser expressa de diferentes modos e ser aplicada a
diferentes circunstâncias, mas revela também uma mensagem comum a todas as
pessoas em todos os tempos e em todos os lugares.
Há muitas
histórias sobre Jesus, algumas muito posteriores ao primeiro século. Os evangelhos
canônicos, porém, são os documentos mais confiáveis sobre Jesus. Eles dão conta
de que uma pessoa real viveu, agiu e deixou ensinos de forma extraordinária, de
tal forma que lê-los hoje é resgatar o seu valor histórico e reencontrar uma
mensagem que aponta o caminho de esperança e de transformação para a vida
humana.
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