O conceito de igreja protestante
se refere às denominações que se originaram da Reforma Protestante, seja
diretamente ou como consequência do movimento iniciado por Martinho Lutero. O
protestantismo, enquanto movimento de transformação da igreja no Ocidente, se
deu em um contexto de mudança radical pelo qual passava a cultura ocidental com
o fim da Idade Média e o início da Modernidade.
A Reforma Protestante aconteceu em
1517, na Alemanha, como uma reação a algumas doutrinas e práticas do cristianismo
ocidental, representado pelo catolicismo romano. Em 31 de outubro daquele ano,
Martinho Lutero fixou 95 teses na porta da capela do castelo de Wittenberg para
convocar pessoas interessadas em discutir temas relativos à salvação,
especialmente com respeito a práticas de indulgência e penitência.
Lutero teve a intenção clara de
empreender a reforma da igreja, suas ações e seu discurso indicavam isso.
Afinal a instituição de seu tempo não era um bom exemplo para o próprio
cristianismo, dominada por um apego extremo ao dinheiro e ao poder. Isso quer
dizer que a igreja de sua época era tomada por toda sorte de corrupção e
problemas morais.
A essência do pensamento
protestante encontra-se na definição que engloba cinco pontos fundamentais: “sola fide, sola scriptura, solus Christus,
sola gratia, soli deo gloria”, expressões em latim para afirmar aquilo que
caracterizava o movimento. O propósito era afirmar a natureza da igreja como
realizadora da missão de Deus no mundo.
Embora as muitas denominações protestantes
que existem hoje possam divergir em aspectos doutrinais, litúrgicos e até
morais, as igrejas desse segmento cristão carregam consigo um legado comum, que
consiste em três pontos fundamentais. São eles:
Sacerdócio universal de todos os crentes – a ênfase do
protestantismo não está no clero, mas no chamado missionário que cada crente
possui. Ele propõe uma valorização da vida em comunhão.
A autoridade das Escrituras – a fonte de orientação da fé
protestante é a interpretação das Escrituras, que se dá de forma livre e por
mediação do Espírito Santo. Ele propõe um retorno à Bíblia.
Justificação somente pela graça – a salvação não depende de ações
humanas, mas tão somente da graça revelada em Jesus Cristo, que apresenta a
todos perante Deus justificados de todo pecado. Ele propõe uma nova perspectiva
salvífica.
Entretanto, o que há de mais
comum na fé protestante, e que remete a um diálogo com as diferentes expressões
cristãs, é o reconhecimento de que a misericórdia divina alcançou a humanidade
e é o que desperta a mensagem que a igreja tem a comunicar para os dias atuais.
Ser protestante é ser um cristão
que não se deixa limitar por formas predefinidas estabelecidas por entidades
religiosas. Trata-se de uma espiritualidade que se dá para além do templo, para
além do domingo e para além do clero. Que se realiza através de uma pastoral
voltada para os mais vulneráveis e uma atuação missional diante das necessidades
do mundo.
Há um lema da Reforma que tem
sido muito lembrado, que é: “uma igreja reformada sempre se reformando”. Esse
lema nos remete à situação de tensão em que se dá a atuação cristã no mundo. Ao
mesmo tempo em que não dá para engessar formas e modelos, não dá para abrir mão
do essencial da mensagem do evangelho. Ao mesmo tempo em que é preciso repensar
as circunstâncias históricas e culturais de expressão da fé, é preciso também
reconstruir um discurso que dialogue com a contemporaneidade.
Enfim, ao chegar ao seu quinto centenário, a Reforma Protestante tem muito a comemorar, como também tem muito a se questionar. Penso que não será possível fazer isso apenas no âmbito das denominações protestantes, embora não possa acontecer sem o engajamento delas. Penso que isso demanda um diálogo franco e aberto, na esfera pública, a fim de que se possa encontrar caminhos para que a fé cristã se torne relevante num mundo secularizado.
Enfim, ao chegar ao seu quinto centenário, a Reforma Protestante tem muito a comemorar, como também tem muito a se questionar. Penso que não será possível fazer isso apenas no âmbito das denominações protestantes, embora não possa acontecer sem o engajamento delas. Penso que isso demanda um diálogo franco e aberto, na esfera pública, a fim de que se possa encontrar caminhos para que a fé cristã se torne relevante num mundo secularizado.
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