As razões pelas quais sou um cristão estão para além das
formas institucionais que a cristandade construiu ao longo de sua história.
Elas nascem de uma relação que nutro com respeito à pessoa de Jesus Cristo.
Tudo começou com um encontro com a notícia de que o propósito de Deus para a
minha vida passa pela vida e mensagem daquele que foi encarnado, crucificado,
ressuscitado e glorificado conforme as Escrituras.
Ser cristão envolve uma tensão entre acolher a proposta de
vida nova e de assumir a condição de nova criatura e a ruptura com tudo aquilo
que influenciou minha vida até então. A proposta de vida que há em Jesus Cristo
está na contramão de toda concepção de vida que as culturas já conceberam. Ela
diz respeito a assumir um modo de ser humano numa perspectiva de quem criou e que,
por isso mesmo, nos conhece mais do que seríamos capazes de o fazer.
Para assumir essa condição de ser cristão, é necessário um
processo de mudança de entendimento. Sim, conversão tem a ver com m processo de
mudança do entendimento. Os gregos antigo tinham uma expressão que foi muito
bem aplicada pelos escritores do Novo Testamento: metanoia, que literalmente quer dizer “mudança de mente” e que pode
ser traduzida por “conversão”.
A palavra está no discurso de
João Batista: “‘Convertam-se’ porque o Reino de Deus está próximo” (Mateus 3.2).
Ela primeira palavra de Jesus na Galileia: “‘Convertei-vos’ e crede no
evangelho” (Marcos 1.15). E está na pregação dos apóstolos: “‘Convertam-se’, e
cada um de vocês seja batizado em nome de Jesus Cristo” (Atos 2.38). Embora a
palavra preferida da tradução em língua portuguesa nessas passagens seja “arrependam-se”,
a ideia de uma conversão está implicada como uma atitude de mudança do modo de
pensar.
Trata-se de uma atitude que
envolve tanto uma ética quanto uma dimensão espiritual. Converter-se é deixar
de lado o que convém para buscar o que aperfeiçoa. Converter-se é
separar-se do que degrada e orientar-se para o que enche de vida. Converter-se
é dar as costas ao que separa de Deus para se pôr de frente para ele. Em
suma, converter-se é humanizar-se.
Ser cristão envolve também
uma certa transgressão, uma ruptura com um modo tradicional de compreender e direcionar
a vida. Não se trata de romper com hábitos pontuais, com determinados costumes
ou práticas, mas de reorientar a vida em todas as suas circunstâncias pelos
cainhos do Evangelho.
Quando se fala de alguém
convertido ao cristianismo, não se deve referir apenas a alguém que mudou de
religião, ou que tenha experimentado uma mudança radical de vida ou mesmo que
tenha abandonado o ateísmo. Ser cristão está mais para a metáfora do
apaixonado, aquele que é capaz de dizer que encontrou o sentido da vida na
pessoa de quem ama. O cristão é aquele que segue Jesus como que guiado pelos
desejos mais profundos do seu coração.
A conversão, portanto, é um
processo que envolve nossa atitude que abarca a vida inteira, no sentido de se
colocar na direção correta.
Nenhum comentário:
Postar um comentário