A igreja não é um lugar para ir,
mas um modo de ser. Essa afirmação traz consigo uma série de implicações que
exigem uma reflexão mais aprofundada. Falar de igreja não é uma coisa fácil.
Primeiramente, é preciso que se diga de que tipo de igreja estamos falando: se
uma comunidade local, se uma estrutura mais ampla que abarca as comunidades
locais ou se a comunidade universal de todos os crentes.
Quando Jesus disse aos seus
discípulos que edificaria a sua igreja, não tinha em mente nenhuma dessas
características. Ele falava de uma relação em torno de sua pessoa. A igreja é a
reunião de todas as pessoas que Jesus Cristo reivindica para si, através das
quais toma forma no mundo
John Stott, em seu livro A igreja autêntica, afirma que “a igreja
está no centro do propósito de Deus para a humanidade”. Entretanto, ela é uma
das instituições que tem sofrido uma transformação acentuada ao longo da sua
existência e que mais tem perdido credibilidade em tempos pós-modernos.
O que chamamos de igreja hoje é resultado
de uma construção social e histórica que envolve um percurso que começa com os
primeiros cristãos. A igreja teve seu início como um movimento daqueles que
tinham uma experiência com Cristo e que estavam dispostos a seguir seus ensinos
e seu exemplo. Quando chegou à Roma, a igreja se constituiu como uma instituição,
e tomou a forma de uma religião como as muitas religiões que existiam no
império Romano. Com a chegada à América, ela se tornou uma organização,
assumindo cada vez mais a natureza corporativa e burocrática que a revolução
industrial produziu.
A igreja movimento era centrada
na paixão de seus frequentadores, comprometidos com aquilo que acreditavam e com
a experiência que possuíam. Ela atraía seguidores pela atitude dos que eram
fiéis, que vivem em solidariedade, eram generosos e misericordiosos com todos e
se encorajavam uns aos outros diante das perseguições.
A igreja instituição era voltada
para a manutenção da devoção e da herança doutrinária que recebeu dos
apóstolos. Seus fiéis tinham a obrigação de seguir um credo, cumprir um rito,
obedecer aos superiores hierárquicos. A adesão de fiéis era marcada pelo medo
da ira futura, como fuga da danação eterna. A solidariedade deu lugar às obras
de caridade e esmolas, generosidade foi substituída pela obrigação, a
misericórdia se transformou em uma penitência, a vida passou a ser encarada
como um vale de lágrimas e a dinâmica da fé passou a ser vista a partir de uma
relação de poder.
A igreja organização era voltada
para o sentido de missão, mas não como compromisso de realizar os propósitos
divinos na vida humana, mas como tarefa de gerenciar resultados. Seus fiéis
foram transformados em consumidores, seus líderes em gestores e a fé como um
produto a ser consumido de forma cada vez mais facilitada. A Missio Dei foi substituída por uma
estratégia de crescimento e o mundo compreendido como um grande mercado em
expansão.
A constatação mais ingênua diante
desse processo é imaginar que precisamos retornar à igreja movimento, abrindo
mão de todo arcabouço histórico, teológico e até material que a instituição e a
organização da igreja conquistaram. Não podemos negar que a igreja é herdeira
de um passado de conquistas, ela não chegou até aqui somente fundada em erros,
mas também em muitos acertos que influenciaram decisivamente os rumos da
história e da vida humana. Até por que, se a ideia de ser um movimento suficiente
por si mesmo fosse o bastante, não teria se desenvolvido para os modelos
seguintes.
Sim, a igreja precisa aprender a
ser movimento, instituição e organização. Isso quer dizer que: como movimento,
precisa despertar nossa paixão; como instituição, precisa ser a nossa
identidade e, como organização, precisa orientar nossa ação no mundo. O que a
igreja não precisa é cristalizar-se apenas como um movimento, senão não passa
de uma tendência; nem apenas como instituição, senão se torna um costume; nem
mesmo apenas como organização, senão vira um negócio.
A igreja que Jesus tinha em mente
não era nada disso. Ela deveria ser uma comunhão. A igreja está para além do
domingo, do clero e do templo. Também está para além do dogma, do credo e do
sínodo. Diria mais, ela está para além da liturgia, do magistério e até da
eucaristia. Antes todas as ações devem fazer com a igreja comunhão sobressaia,
caso contrário não vai passar de movimento, de instituição e de organização.
A igreja comunhão se faz em meio
ao discipulado, à evangelização e ao ato celebrativo. Implica um senso que
coloca a vida a serviço do outro e do mundo, que desperta um sentido de
pertença, que produz uma vida de testemunho e que fortalece os laços da vida
comunitária. Uma igreja assim ganha relevância diante do mundo e é um convite
para restaurar nossa relação com Deus. Porém, uma igreja diferente disso é um
sinal de que a enfermidade que contamina e destrói a humanidade também já
chegou até nós.
Concorco com o texto, me fez refletir muita coisa, o dia que pararmos e vermos uma igreja como comunhão e não só como movimento, instituição e organização, estaremos mais próximos do que realmente é a igreja.
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