domingo, 23 de dezembro de 2018

Duas formas de celebrar o Natal / Two ways to celebrate Christmas / Dos modos de celebrar la Navidad


Os evangelistas registraram duas formas de compreender o nascimento de Jesus, uma representada pela atitude de Herodes e outra que se manifesta na reação dos pastores. São dois episódios que refletem de forma muito presente a maneira como celebramos até hoje o Natal, uma voltada para nossos interesses individuais e a outra que expressa nosso sentido de humanidade.
No primeiro episódio, Herodes é o protagonista. Ele recebe a informação de que um tal “rei dos judeus” havia nascido em seus domínios. Ser rei dos judeus não dizia respeito a um título nobre. Afinal, a nação chamava-se Israel, e o rei de Israel era o próprio Herodes. A referência aos judeus, porém, despertava um sentimento mais popular, que reivindicava o desejo de liberdade e de conquistas de direitos. Além do mais, a notícia veio de visitantes ilustres, homens portadores de uma nobreza diferente, que se expressava por meio do entendimento, da mística e do apego ao sagrado. Eram os magos do oriente, que vieram guiados por uma estrela para conhecer o Deus que se fez menino.
A atitude de Herodes foi de arrogância. Ele queria encontrar Jesus para demonstrar-lhe seu poder. É a celebração da ostentação, do orgulho, da vaidade. É o Natal da aparência que esconde nossa própria miséria humana. Natal em que o nascimento de Jesus é apenas pretexto para dar lugar à manutenção das condições que sustentam uma certa condição social. Natal que disfarça a injustiça, a desigualdade, a dominação, a opressão e até a exploração com ares de confraternização, trocas de presentes, ações caridosas e banquetes requintados.
No segundo episódio, os pastores são os protagonistas. Homens simples, dedicados ao trabalho rural, acostumados ao cuidado com a terra e com a criação. Eles também são visitados por pessoas especiais, só que anjos que entoam uma canção de esperança, com o anúncio da chegada do Salvador. Eles são tomados por uma espiritualidade envolvente, de um sentimento de deslumbramento diante da beleza do coro de vozes celestiais e a proclamação da boa notícia da forma como Deus visitava a humanidade. Eles correram para o local do nascimento, uma humilde estrebaria, tão humilde como eles eram, para celebrar aquele acontecimento único na história.
Os pastores não celebraram com festa, presentes, abraços ou votos de felicidades. Eles contaram o que viram e disseram o quanto estavam felizes por encontrarem Jesus ali entre eles, como um deles. É o Natal da comunhão, da solidariedade, do encontro. É a celebração que contagia a todos, que exalta o privilégio que temos de ser visitados pelo Senhor, de nos sentirmos cuidados por Deus por estarmos juntos, de sermos encorajados por termos uns aos outros.
Duas formas de celebrar o Natal. Uma, como entretenimento; outra, como realização humana. Na primeira, tentativas de preenchermos nosso vazio com as coisas que a gente acha que poderia proporcionar alguma satisfação. Passada a noite de Natal, tudo volta a ser como antes. Na segunda, a alegria da descoberta que um outro modo de ser gente é possível, que se dá por meio de uma espiritualidade autêntica, em que o outro está incluído, que deseja libertação. Passada a noite de Natal, essa alegria perdura e nos motiva a buscarmos juntos um mundo mais justo.
Feliz Natal, como o dos pastores.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

LinkWithin

Related Posts with Thumbnails