“Porque Deus não nos chamou para a impureza, mas para a santidade” (1 Tessalonicenses 4.7).
A palavra
chave para entender a I Carta aos Tessalonicenses é santidade. O apóstolo Paulo
se dirigiu a essa igreja para convocar os cristãos para uma conduta de vida e
uma prática cristã marcada por valores relacionados à santidade. Mas, o que isso
significa para a nossa vivência como pessoas em uma relação comunitária?
O ministério
do apóstolo Paulo pode ser dividido em duas etapas. A primeira é aquela que
encontramos narrada no livro de Atos dos Apóstolos, em que ele se destaca por sua
ação missionária, como um anunciador do evangelho aos gentios. A segunda é
aquela que se inaugura com a Primeira Carta aos Tessalonicenses. Essa carta é o
primeiro documento do Novo Testamento que surgiu, entre os anos 48 e 50 d.C., e
serviu de paradigma para a criação dos demais textos que hoje fazem parte do
cânon neotestamentário.
A igreja
de Tessalônica tem um papel muito importante na vida do apóstolo Paulo. Ela foi
formada por ocasião da sua segunda viagem missionária, quando chegou à
Macedônia, depois de ter estado na cidade de Filipos juntamente com Silas e
Timóteo, conforme registros de Atos 17.1-9. Quando Paulo e Silas chegaram àquela
cidade, logo começaram a fazer palestras e sermões na sinagoga judaica, durante
três sábados. Isso resultou em um grande número de conversão de judeus e de
gentios (Atos 17.4). A permanência de Paulo, Silas e Timóteo em Tessalônica foi
curta, mas isso não impediu que uma forte e atuante igreja surgisse.
Tessalônica
era uma importante cidade portuária às margens do mar Egeu. Para lá confluíam muitos
migrantes em busca de trabalho. Havia também, por isso mesmo, uma enorme
população de pessoas que viviam em regime de escravidão. Era uma cidade que
enfrentava uma gritante desigualdade social, mas também uma grande diversidade
de expressões culturais, religiosas e de concepções filosóficas.
A igreja
de Tessalônica também exerceu um papel muito importante na vida das demais
igrejas do Século I. Naquela época, não havia muitos referenciais do que é ser
igreja. Tudo o que acontecia era revestido de um aspecto inaugural, iniciador
de um processo que acabou se configurando no que a igreja veio se tornar ao
longo de sua história. A igreja em si era formada por pessoas pobres, mas que
demonstravam grande generosidade e amor cristão (2 Coríntios 8.1-2).
A carta
foi escrita logo após Paulo receber informações de Timóteo a respeito da
igreja. Devido à impossibilidade de retornar a Tessalônica, Paulo enviou
Timóteo para que encorajasse a nova comunidade de fé. Diante dos relatos sobre
a condição da igreja, que continua viva e dinâmica, e da impossibilidade de
retornar àquela cidade, Paulo, então, resolve enviar uma carta com palavras de
exortação e de encorajamento aos cristãos. Ele ainda se encontrava em Corinto e
escreveu essa carta com a ajuda de Sila e do próprio Timóteo (1 Tessalonicenses
1.1).
A carta é
carregada de cuidados amorosos com a igreja. Os autores chegam a se comparar a
uma mãe que acaricia os filhos (1 Tessalonicenses 2.7) e a um pai zeloso (1
Tessalonicenses 2.11). A preocupação maior é com as duras perseguições que os
cristãos sofriam, que exigiam deles uma conduta íntegra e perseverante. Por
essa razão, o tema da santidade se torna transversal para tratar dos grandes
desafios de viver a fé em meio a uma sociedade plural e marcada por grandes
desafios sociais. Isso nos lembra que somos santos, não por sermos perfeitos, mas
por sermos convidados a agir como testemunhas do amor de Deus por toda a
humanidade.
A
santidade não diz respeito a uma experiência cultual ou devocional, mas a um
aspecto ético de nossa maneira de viver e agir no mundo. A santificação é o
processo de imersão no mundo como consequência de nossa experiência de encontro
com Jesus Cristo. Ser santo significa viver aquilo que estamos nos tornando:
pessoas que encarnam a proposta de vida apresentada e demonstrada por Cristo no
mundo. Portanto, não é algo que se adquire de imediato, mas algo que se constrói
a partir de uma vivência comum, inserida no contexto de uma comunidade.
O chamado
à santidade é imperioso. É urgente vivermos uma vida santa no mundo de hoje.
Viver de maneira santa não corresponde a fugir do mundo, mas a ser inserido
nele como agente de transformação. O chamado à santidade tem a ver com a vida
em comum. Não existe santidade fora da vida comunitária.
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