sexta-feira, 12 de fevereiro de 2021

Convocação para a santidade / Call to holiness / Llamado a la santidad

 

Porque Deus não nos chamou para a impureza, mas para a santidade” (1 Tessalonicenses 4.7). 

A palavra chave para entender a I Carta aos Tessalonicenses é santidade. O apóstolo Paulo se dirigiu a essa igreja para convocar os cristãos para uma conduta de vida e uma prática cristã marcada por valores relacionados à santidade. Mas, o que isso significa para a nossa vivência como pessoas em uma relação comunitária?

O ministério do apóstolo Paulo pode ser dividido em duas etapas. A primeira é aquela que encontramos narrada no livro de Atos dos Apóstolos, em que ele se destaca por sua ação missionária, como um anunciador do evangelho aos gentios. A segunda é aquela que se inaugura com a Primeira Carta aos Tessalonicenses. Essa carta é o primeiro documento do Novo Testamento que surgiu, entre os anos 48 e 50 d.C., e serviu de paradigma para a criação dos demais textos que hoje fazem parte do cânon neotestamentário.

A igreja de Tessalônica tem um papel muito importante na vida do apóstolo Paulo. Ela foi formada por ocasião da sua segunda viagem missionária, quando chegou à Macedônia, depois de ter estado na cidade de Filipos juntamente com Silas e Timóteo, conforme registros de Atos 17.1-9. Quando Paulo e Silas chegaram àquela cidade, logo começaram a fazer palestras e sermões na sinagoga judaica, durante três sábados. Isso resultou em um grande número de conversão de judeus e de gentios (Atos 17.4). A permanência de Paulo, Silas e Timóteo em Tessalônica foi curta, mas isso não impediu que uma forte e atuante igreja surgisse.

Tessalônica era uma importante cidade portuária às margens do mar Egeu. Para lá confluíam muitos migrantes em busca de trabalho. Havia também, por isso mesmo, uma enorme população de pessoas que viviam em regime de escravidão. Era uma cidade que enfrentava uma gritante desigualdade social, mas também uma grande diversidade de expressões culturais, religiosas e de concepções filosóficas.

A igreja de Tessalônica também exerceu um papel muito importante na vida das demais igrejas do Século I. Naquela época, não havia muitos referenciais do que é ser igreja. Tudo o que acontecia era revestido de um aspecto inaugural, iniciador de um processo que acabou se configurando no que a igreja veio se tornar ao longo de sua história. A igreja em si era formada por pessoas pobres, mas que demonstravam grande generosidade e amor cristão (2 Coríntios 8.1-2).

A carta foi escrita logo após Paulo receber informações de Timóteo a respeito da igreja. Devido à impossibilidade de retornar a Tessalônica, Paulo enviou Timóteo para que encorajasse a nova comunidade de fé. Diante dos relatos sobre a condição da igreja, que continua viva e dinâmica, e da impossibilidade de retornar àquela cidade, Paulo, então, resolve enviar uma carta com palavras de exortação e de encorajamento aos cristãos. Ele ainda se encontrava em Corinto e escreveu essa carta com a ajuda de Sila e do próprio Timóteo (1 Tessalonicenses 1.1).

A carta é carregada de cuidados amorosos com a igreja. Os autores chegam a se comparar a uma mãe que acaricia os filhos (1 Tessalonicenses 2.7) e a um pai zeloso (1 Tessalonicenses 2.11). A preocupação maior é com as duras perseguições que os cristãos sofriam, que exigiam deles uma conduta íntegra e perseverante. Por essa razão, o tema da santidade se torna transversal para tratar dos grandes desafios de viver a fé em meio a uma sociedade plural e marcada por grandes desafios sociais. Isso nos lembra que somos santos, não por sermos perfeitos, mas por sermos convidados a agir como testemunhas do amor de Deus por toda a humanidade.

A santidade não diz respeito a uma experiência cultual ou devocional, mas a um aspecto ético de nossa maneira de viver e agir no mundo. A santificação é o processo de imersão no mundo como consequência de nossa experiência de encontro com Jesus Cristo. Ser santo significa viver aquilo que estamos nos tornando: pessoas que encarnam a proposta de vida apresentada e demonstrada por Cristo no mundo. Portanto, não é algo que se adquire de imediato, mas algo que se constrói a partir de uma vivência comum, inserida no contexto de uma comunidade.

O chamado à santidade é imperioso. É urgente vivermos uma vida santa no mundo de hoje. Viver de maneira santa não corresponde a fugir do mundo, mas a ser inserido nele como agente de transformação. O chamado à santidade tem a ver com a vida em comum. Não existe santidade fora da vida comunitária.

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