O Brasil completa um ano de convivência com a pandemia de Covid-19 com dados que são alarmantes: o número de mortos ultrapassa a casa dos 250 mil, os casos de contágio e de óbitos indicam o pior momento da doença e a campanha de vacinação segue em ritmo lento. Não há como negar o fato de que esses fatores são resultado de um descuido por parte do governo em tratar do problema sem a responsabilidade necessária e por promover mais dificuldades nas políticas públicas de enfrentamento, sobretudo no que diz respeito à aplicação do programa de imunização com a vacina.
Embora a ciência já tenha
encontrado vacinas para a imunização contra os efeitos do vírus causador da
doença, o Coronavírus com suas várias mutações, e os laboratórios estejam
disponibilizando doses desde o fim do ano de 2020, há uma campanha de desinformação
em curso contra a vacinação. E, para piorar o quadro, há também uma escassez de
vacinas que possam atender às demandas das aplicações nas populações de maior
risco três meses depois de definido o plano nacional de imunização. Apenas 3%
da população foram vacinadas em quase dois meses.
A vacinação terá que seguir o
programa de imunização, apesar das dificuldades que vão sendo encontradas, a
maior parte por conta da logística e da demora das autorizações do governo para
a aquisição de insumos. Porém, a maior dificuldade a ser superada neste momento
é a tarefa de convencer a população a ser imunizada. E, para isso, se faz
necessário uma campanha intensa de esclarecimento e de informação.
É fato notório, neste momento,
não há como esperar grandes incentivos por parte do governo para esclarecer a
população. Daí a necessidade de mobilizar grupos e setores da sociedade em
geral para uma grande campanha em favor da vacinação para todos. E, dentre os
muitos setores da sociedade, o segmento cristão é o que reúne as maiores
possibilidades de mobilização.
Por que cristãos podem e devem
se envolver na campanha de vacinação? Porque é o grupo com maior capacidade de articulação.
Onde o dinheiro e o poder não chegam, a presença da igreja está lá, levando
conforto e esperança para as pessoas. Seja nos grandes centros urbanos, em
comunidades de periferia, em áreas rurais ou em comunidades indígenas ou
quilombolas, ali há a presença de grupos cristãos. Entretanto, é preciso
superar o obscurantismo promovido por concepções fundamentalistas em relação ao
conhecimento científico.
É preciso, primeiro e ao mesmo
tempo, uma campanha de conscientização das comunidades cristãs. Em primeiro
lugar, com a afirmação da confiança de que Deus capacita pessoas para cumprirem
seus propósitos e construir soluções para os grandes problemas humanos. A
ciência é um desses empreendimentos humanos para os quais Deus capacita
pessoas. E em segundo lugar, como consequência, desenvolver a consciência de
que cristãos estão presentes no mundo para servirem como agentes do bem para
toda a humanidade.
O vírus é real. Ele traz dor e
sofrimento para as pessoas. Só quem teve um familiar infectado ou quem perdeu
um ente querido para a doença sabe aquilatar o tamanho do problema. Os cristãos
têm o dever de agir com compaixão e solidariedade como um imperativo divino
para com as pessoas que sofrem. Essa atitude de cuidado com as pessoas em
tempos de tragédias tem sido uma marca da história do cristianismo em todo o
mundo.
Pastores, pastoras e lideranças
cristãs têm o compromisso com o conhecimento verdadeiro, de passar para os
fiéis em geral informações confiáveis e que estimulem à busca do bem comum. E a
vacinação é hoje o único remédio contra a doença, além das práticas de
prevenção como o uso de máscaras, a higiene das mãos e o distanciamento social.
É dever dessa liderança agir a fim de não permitir que o povo pereça por causa
da ignorância e da desinformação.
A ação missional da igreja tem essa
dimensão de cuidado, que é pastoral. O cuidado com o outro é parte essencial da
missão de Deus no mundo. Por que devemos nos preocupar com a vacinação? Há três
motivos para isso: (a) cremos que Deus capacita a humanidade para produzir
ciência; (b) consagramos nossa vida a servir como bênção para o outro; e (c)
somos chamados a agir em amor pelos outros. A vacinação não só vai imunizar a
mim, mas vai servir para que toda a sociedade possa superar a pandemia e,
assim, retomar a normalidade.
Isso lembra o compromisso de
Jesus. Ele afirmou que toda a sua obra e mensagem tinham como propósito trazer
vida para as pessoas. Ele disse: “[...] eu
vim para que tenham vida, e a tenham plenamente” (João 10.10). Vida plena
inclui também a superação das grandes aflições que afligem a humanidade. Essa é
uma forma de testemunhar o cuidado divino por todas as pessoas nesses tempos
tão difíceis. Então, por que ser uma voz em favor da campanha de vacinação para
todos: para que todos tenham vida.
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