A Campanha Ecumênica da Fraternidade 2021, que começa hoje, enfatiza o diálogo e o compromisso da prática do amor fraternal como tema orientador, a fim de que cristãs e cristãos possam refletir sobre missão e prática no mundo. A campanha é liderada pela CNBB – Conferência Nacional dos Bispos do Brasil e pelo CONIC – Conselho Nacional de Igrejas Cristãs, entidades representativas de segmentos cristãos brasileiros, incluindo tanto o catolicismo romano quanto denominações protestantes.
A campanha é realizada
anualmente pela CNBB durante o tempo da Quaresma, que no calendário religioso
começa na quarta-feira de cinzas e se encerra no período da Páscoa. Desde o ano
2000, a cada cinco anos, a campanha também assume a forma ecumênica, com a participação
de outros segmentos cristãos, abordando temas humanos e com o objetivo de
valorizar o que há de comum entre as comunidades cristãs.
O objetivo da Campanha é “pensar, avaliar e identificar caminhos para a
superação das polarizações e das violências que marcam o mundo atual”, como diz
o texto base divulgado. A proposta é de fazer isso sob a inspiração do cuidado
amoroso de Cristo que motiva a todas e todos ao diálogo e à vida em unidade em
meio à diversidade. A base bíblica para esse propósito da campanha é a
palavra do apóstolo Paulo que afirma que “[Jesus Cristo] é a nossa paz, o qual de ambos fez um e destruiu a
barreira, o muro de inimizade” (Efésios 2.14).
Os
organizadores assumem o desafio de denunciar a violência que é praticada em
nome da fé, encorajar a prática da justiça que restaura a dignidade das
pessoas, estimular ações concretas de amor pelo outro, promover a cultura do
amor em vez da cultura do ódio e fortalecer a convivência ecumênica e o diálogo
inter-religioso. Em tempos de pandemia, esses desafios envolvem o enfrentamento
dos discursos negacionista, de violência contra a mulher e população LGBTQI+,
de preconceito e intolerância, sobretudo em relação ao negro e as pessoas dos
segmentos progressistas. São situações que ganharam novos contornos com o
avanço da extrema-direita ao governo.
Ao
tratar dessa forma o tema da fraternidade e do diálogo, a campanha deste
ano foi antecedida por uma manifestação hostil de grupos católicos
fundamentalistas e ultraconservadores contra ela. Tais grupos têm demonstrado
toda sua animosidade ao realizar uma contracampanha com o sentido de lançar
ataques ao ecumenismo e ao esforço de lutar por um mundo mais justo e humano
para todas e todos.
Parece ironia, mas enquanto há
cristãos que procuram formas de unir as pessoas em torno do bem comum, da
solidariedade e da comunhão, existem outros dispostos a promover a desunião e a
incentivar o ódio de forma impiedosa, com uso de desinformação (as chamadas fake news) e com discursos reacionários
que se utilizam de ideias fascistas. São religiosos que praticam uma fé
anacrônica e descontextualizada, que não admitem a convivência com o outro e o diferente,
nem mesmo quando são informados que essa é a proposta da prática do amor
fraternal anunciada pelo próprio Cristo que afirmam seguir.
A ideia da fraternidade é um
convite a viver o Evangelho de forma integral em dias tão difíceis como estes
que estamos vivendo. O tema da campanha deste ano, bem como seus objetivos e
propostas de engajamento, mostra o caminho de uma igreja comprometida com as
pessoas deste tempo, atenta aos problemas emergentes decorrentes da mentalidade
consumista, exploradora e dominadora que vem influenciado as políticas e as
formas de organização da sociedade.
Serão 40 dias de promoção da fraternidade
e do amor fraternal. Em tempos de tantas animosidades, soa como vento fresco a
expressão de cristãs e cristãos que procuram viver o evangelho de Jesus de
Nazaré de forma mais humana e voltada para as necessidades dos mais
vulneráveis, dos pobres e dos injustiçados. Ao colocar o dedo na ferida, já era
de se esperar a reação daqueles que se entregaram aos extremismos que promovem
o ódio e a segregação. Mas, como afirma a nota do presidente da CNBB: “Não desanimemos. Não desistamos. Unamo-nos”.
Maravilha!!!
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