É uma pretensão e uma arrogância dizer que a humanidade salvará o planeta. É preciso muita coragem, sabedoria e humildade para admitir que a humanidade é responsável até aqui pela ameaça de sua própria extinção. E a única forma de frear esse desastre é preservar o que ainda resta de equilíbrio ecológico.
A crise ambiental que tem
ameaçado o planeta é provocada pela própria atitude humana. Se queremos cuidar (ou
salvar) o planeta, temos que reconhecer suas causas, quais são as atitudes
humanas que desencadearam esse processo de degradação que parece irreversível.
Neste Dia da Terra, quando líderes do mundo inteiro são convocados pelo Presidente
dos Estados Unidos da América Joe Biden para a formação de uma cúpula para
refletir sobre o que fazer, precisamos nos conscientizar de que esse assunto
deve afetar a todos.
Essa crise tem três matrizes
causadoras, que vêm sendo engendradas ao longo da história da civilização
ocidental. Portanto, ela não é de hoje. Já faz algum tempo que a vida vem
sofrendo com o esgotamento da natureza. A humanidade também tem produzido
tentativas para a superação dessa crise, embora insuficientes. Entretanto, é
preciso uma tomada de consciência de que somente uma conversão radical quanto à
maneira como a humanidade tem orientado sua conduta pode apontar uma saída e
isso se faz mais do que urgente.
A crise não se limita ao campo
da biologia, mas à maneira como a vida como um todo vem sendo tratada,
sobretudo a partir da racionalidade moderna. Essas três matrizes causadoras são
identificadas pelos seus vieses tecnológico-científico, político-econômico e teológico-filosófico
em que um está intimamente relacionado com o outro.
As conquistas tecnológicas e
científicas, conquanto tenham proporcionado um avanço na conquista do bem-estar
e na solução de problemas que afetam as condições humanas de vida, têm custado
a depredação da natureza. A mentalidade científica ocidental foi construída a
partir da ilusão de que, através das ciências naturais, o homem é capaz de
exercer domínio e controle sobre a natureza.
As relações de poder produziram
a concepção dos estados modernos industrializados. Com isso, a fonte de riqueza
passou a ser a transformação de recursos naturais em bens de consumo, cujo auge
se deu com a chamada revolução industrial. A economia e a politica deixaram de
ser atividades de cuidado com a casa e a cidade para serem estratégias de controle
e de interdição na vida dos indivíduos, a partir da necessidade de consumo.
Para que esse intento fosse consolidado, dependeu-se cada vez mais do uso da
mão de obra servil a disposição daqueles que detém o direito de propriedade,
sob a proteção de estados que promovem leis que favoreceram (e ainda favorecem)
a concentração de riqueza.
Tudo isso se deu a partir de uma
cultura marcada pelo cristianismo. Tanto a concepção cristã da criação quanto a
ideia de que o ser humano é dotado de autorização divina para explorá-la forneceram
o fundamento ideológico para o uso desordenado dos recursos naturais sem a
preocupação com sua recuperação. Essa ambição humana foi reforçada por uma
interpretação equivocada das Escrituras e instrumentalizada de tal modo para
validar a ideia de que a exploração da Terra é um mandamento divino. Um desses
equívocos é a tradução e a interpretação da expressão: “[...] subjuguem a terra” (Gênesis 1:28).
As ciências naturais formulam
tecnologias que afetam diretamente as condições de vida no planeta. As
políticas econômicas se baseiam na exploração dos recursos naturais, sobretudo as
fontes de energia que dependem da extração. A necessidade de atender às
demandas de consumo dos países em desenvolvimento se depara com a forte desigualdade
de oportunidades em comparação com países desenvolvidos. Na medida em que todos
querem ter acesso aos bens de consumo, se percebe que a natureza não dispõe de recursos
para dar conta da quantidade que lhe é exigida.
A vida está em risco. Porém, a
saída não será encontrada se a matriz filosófico-teológica não for encarada com
a devida seriedade. A solução para a crise ambiental é acima de tudo moral,
pois diz respeito às nossas relações com o meio ambiente. Sendo assim,
precisamos ter uma resposta a respeito do que estamos fazendo com a vida que
temos. Do ponto de vista cristão, é preciso resgatar o sentido original da
criação, em que a vida é dádiva que precisa ser cuidada e preservada. Nesse
sentido, precisamos de uma teologia da criação que diga que toda forma de vida
importa. A vida é o espaço sagrado onde Deus habita. Toda forma de vida importa
para Deus porque ele está nelas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário