A primeira vez que li um texto de René Padilla estava cursando Teologia no Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil, lá pelos anos de 1980. Eu era muito jovem, tomado pelo arroubo do pensamento crítico, ávido de conhecimento para desbravar o campo da Teologia e da Filosofia.
Era um tempo de grandes
transformações, ainda em meio aos anos de regime de exceção que tomou conta do
Brasil. Ler Padilla e sua Missão Integral era um bálsamo para os meus ideais e um
estímulo para a construção de minha consciência em relação à missão e ao
ministério pastoral. Era uma de minhas leituras subversivas, aquelas que não
eram recomendadas por professores e nem faziam parte do currículo. Junto com
Padilla, se somaram Leonardo Boff, Hans Küng, Paul Tillich e tantos outros que
fizeram minha cabeça. Lia por fome, por diletantismo, por vontade, por
curiosidade.
Conheci René Padilla
pessoalmente apenas em 2015 quando fui à consulta FTL setor Brasil em São Paulo.
Estavam ali os três principais fundadores da teologia da missão integral na
América Latina ainda vivos à época: Samuel Escobar, Pedro Arana e o próprio
René. Foi um encontro inesquecível, em que pude conversar com ele, abraçá-lo e
agradecer pela influência que exerceu na minha vida.
Equatoriano, nascido em 12 de
outubro de 1932, ele foi criado na Colômbia, educado nos Estados Unidos e
serviu como pastor na Argentina. Participou da famosa Conferência de Lausanne
em 1974, exercendo grande influência na elaboração do documento sobre o
compromisso social da igreja. Alguns o consideravam como um “evangelicalista”,
mas logo se distanciou desse movimento, identificando-se com a realidade
latino-americana, comprometido com um cristianismo evangélico voltado par o
diálogo, para o atendimento dos mais vulneráveis, para o cumprimento da missio Dei e para realização do Reino de
Deus no mundo.
Na tarde de hoje, René Padilla
faleceu. Depois de um tempo enfermo, não resistiu. Deixa-nos aos 88 anos. Uma
lacuna se abre na teologia latino-americana, sobretudo no âmbito do movimento
evangélico. Nesses tempos em que o fundamentalismo parece hegemônico, a voz de
alguém como Padilla vai fazer muita falta.
Atualmente, recai sobre meus ombros
a tarefa de coordenar no Brasil e instituição que Padilla ajudou a fundar, a
Fraternidade Teológica Latino-Americana, a FTL, juntamente com o Rogério
Donizete. Com essa notícia, sinto-me pequeno diante desse imenso desafio.
Padilla sonhava com um espaço em que todos e todas tivessem voz, em que fosse
possível construir um pensamento a partir da realidade latino-americana que
dialogasse com o mundo.
Bem, o desafio está posto.
Padilla descansou. A vida continua.
Graças ao Bom Deus temos o pastor Irenio chaves que nos ajudará a refletir sempre nos princípios deixados por René Padilla
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