segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Uma espiritualidade a partir do outro / Spirituality and otherness / La espiritualidad y la alteridad

Quando a gente diz que o individualismo é uma das marcas desse tempo, não se está falando de um conceito absoluto. Até porque ninguém vive para si mesmo. O que caracteriza a nossa condição humana tem a ver com relacionamentos. As pessoas têm procurado estar junto de alguma forma, embora as motivações não sejam as mesmas. Haja vista as raves, os barzinhos, os sites de relacionamento.
Penso na possibilidade de construção de uma experiência de Deus a tal ponto que resulte no surgimento de uma comunidade que seja solidária à dor que as pessoas desse tempo sofrem. Uma das formas de imaginar isso se encontra na narrativa bíblica da cura do paralítico de Cafarnaum (Marcos 2.1-12). Aquela experiência nos ajuda a construir uma ideia de como é possível viver como comunidade num mundo marcado pela perda, pelo sofrimento, pelas incertezas.
Essa comunidade precisa ser identificada como um grupo de pessoas que chega junto às pessoas que sofrem e que precisam de apoio. Os quatro que trouxeram o paralítico chamaram a atenção de Jesus, que viu neles fé. Não foi a multidão nem foram os religiosos que enchiam a casa. Repare como diz a Bíblia: “Vendo a fé que eles tinham, Jesus disse ao paralítico: ‘Filho, os seus pecados estão perdoados.’” Marcos 2.5.
Isso provocou uma reação entre os religiosos, que criticaram a Jesus por priorizar aquele fato em relação aos demais. Afinal, uma multidão tinha ido à casa em que Jesus estava. Jesus viu naqueles quatro a imagem da igreja que ele sonhou para agir no mundo. A igreja que se solidariza age a partir de princípios que estão na contramão da mentalidade que rege as nossas ações no mundo.
Aqueles quatro estavam em comunhão para realizar uma ação concreta e é a comunhão que confere à humanidade a condição que Deus deseja para ela. Essa comunhão provoca deslocamentos nos nossos relacionamentos que podem ser encontrados na atitude daquelas pessoas. É o que nos faz ser solidários.
Para construir uma espiritualidade a partir do outro é preciso que se dê ênfase aos relacionamentos, em que a temporalidade seja definida mais pelo oportuno do que pelo relógio. A Bíblia diz que “os dias em que vivemos são maus; por isso aproveitem bem todas as oportunidades que vocês têm.” Efésios 5.16 NTLH. É preciso que se desenvolva uma experiência que procure mais viver de acordo com o que Cristo propõe como ensino e vida do que a partir de regras. A Bíblia também diz: “É ele quem nos torna capazes de servir à nova aliança, que tem como base não a lei escrita, mas o Espírito de Deus. A lei escrita mata, mas o Espírito de Deus dá a vida.” 2 Coríntios 3.6 NTLH.
Para isso, precisamos definir a nossa identidade mais nas ações concretas do que em teorias. Veja o que a Bíblia diz também: “Porém vocês, irmãos, foram chamados para serem livres. Mas não deixem que essa liberdade se torne uma desculpa para permitir que a natureza humana domine vocês. Pelo contrário, que o amor faça com que vocês sirvam uns aos outros.” Gálatas 5.13 NTLH. Então, deixe de viver menos em seu espaço e passe a viver mais no espaço do outro. O conselho bíblico é: “Dediquem-se uns aos outros com amor fraternal. Prefiram dar honra aos outros mais do que a si próprios.” Romanos 12.10 NVI. A atitude daquelas quatro pessoas chamou a atenção de Jesus porque estava em sintonia com o cuidado dele para conosco. (Baseado na mensagem apresentada na manhã do domingo 19/9/2010, na Igreja Batista da Orla Oceânica)

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