A Filosofia e a Teologia sempre trilharam caminhos que se entrecruzaram. Essa relação vai além da questão da fé e da razão. O próprio nascimento da Filosofia aconteceu em meio ao questionamento a respeito da relação com a divindade dentro da mitologia grega, que se consistia em uma projeção da condição humana. Para a filosofia clássica, a pergunta sobre Deus apontava para a ideia de um ser único, ato puro, princípio causador de todas as coisas. O diálogo que a teologia cristã empreendeu com a filosofia greco-romana resultou em uma apropriação dos paradigmas da razão ocidental para dar conta da compreensão do Deus da tradição judaico-cristã.
Com a Modernidade, a Filosofia abandonou o campo que lhe era próprio, o da metafísica, para dar lugar à epistemologia. Quer dizer, ela deixou de se preocupar com as questões que envolvem a totalidade para enfatizar a capacidade de conhecimento. Com isso, o que se viu foi uma expansão do conhecimento empírico, a evolução das ciências experimentais, a ênfase naquilo que pode ser explicado, matematizado e experienciado. Isso provocou o aumento da informação e da capacidade de máxima especialização, o que reduziu a compreensão da totalidade. Ficaram de lado a dignidade, os valores humanos e o esvaziamento de sentido, que necessitam de uma nova abordagem. É o que vai despertar o movimento contemporâneo por parte das diversas culturas de afirmação e de resgate da identidade. Nesse ambiente, a Filosofia torna-se necessária porque ela é própria da atitude humana. Todo ser humano é, em princípio, um filósofo uma vez que está sempre em busca da verdade última de todas as coisas.
O homem tem uma abertura para o absoluto e o transcendente. Considerar que apenas o dado empírico, sensível e objetivo é suficiente para dar conta da verdade é uma ingenuidade. A realidade e a verdade transcendem à compreensão objetiva e factível. É isso que confere à pessoa o valor de sua condição espiritual. Isso envolve não só a questão moral, como afirmou Kant em sua metafísica dos costumes, mas também a percepção estética e a descoberta do outro em sua dimensão relacional. A carta encíclica Fides et ratio, assinada por João Paulo II, chega a falar de uma necessária passagem do fenômeno ao fundamento, o que representa o desafio do pensamento humano neste tempo. É essa abertura para o transcendente que possibilita à Teologia o papel de mediação na compreensão da revelação divina. Para a referida encíclica, esse é o caminho para a superação da crise de sentido que afeta o pensamento humano na sociedade atual.
É um engano pensar que o enfraquecimento da razão pode resultar em um fortalecimento da fé, ou vice-versa. O enfraquecimento da razão resulta, isso sim, numa fé supersticiosa que se alimenta do mágico. O enfraquecimento da fé, por sua vez, resulta na fragmentação e na perda de sentido, pelo fato de a razão não ser capaz de abarcar a totalidade e o sentido último das coisas. Um humanismo que se fecha em si mesmo, apenas relacionado ao presentificado, não consegue entender que o ser humano tem uma abertura para o transcendente, para a busca da verdade, para a felicidade e para a liberdade. Para isso, ele está aberto para o todo. Uma filosofia que contempla essa possibilidade resgata o campo da metafísica, que acaba por se tornar um campo comum à Teologia.
A Teologia é resultado de uma compreensão da revelação divina nas circunstâncias concretas em que ela foi recebida. A própria noção de palavra de Deus deve ser entendida não como palavra humana, mas como a fala divina é recebida, entendida e expressa na fala humana, com as circunstâncias socioculturais e históricas que permeiam a linguagem. Uma experiência de Deus – ou mesmo uma expressão religiosa – sem logos, sem razão, é apegada ao contemplativo e ao mágico, voltada para as soluções imediatas.
A Filosofia chega à noção do absoluto e da totalidade a partir da razão e do conceito de uno. A Teologia, por sua vez, desenvolve a noção de transcendente a partir do homem e do mundo. Um apelo que pode ser feito pela Teologia é para que a Filosofia resgate a preocupação com aquilo que foi a sua vocação primeira, abandonada para dar lugar a um reducionismo e a uma afirmação da autonomia da razão, com a ilusão de que é possível se ter todas as respostas.
O fazer teológico não pode abrir mão da reflexão filosófica, vista aí a própria análise do texto bíblico e a compreensão da questão da fé em relação à compreensão de Deus. O risco é de se apegar a uma concepção de natureza fundamentalista e de se estabelecer impedimentos para a compreensão da própria condição humana em suas expressões culturais. A necessidade da abordagem filosófica tem razões antropológicas, uma vez que Teologia e Filosofia têm em comum o interesse pela realidade do ser humano e do mundo, bem como a abertura e o deseja pela totalidade e pela verdade. A Teologia só pode falar desses temas levando em consideração a experiência humana que implica a atitude filosófica como uma faculdade do pensamento. Uma tradição teológica que rejeita a importância da Filosofia e sua natureza crítica terá grandes dificuldades de interpretar a natureza da revelação de Deus a ponto de proporcionar uma interação com a compreensão da realidade humana e sua abertura para o conhecimento do transcendente.
Com a Modernidade, a Filosofia abandonou o campo que lhe era próprio, o da metafísica, para dar lugar à epistemologia. Quer dizer, ela deixou de se preocupar com as questões que envolvem a totalidade para enfatizar a capacidade de conhecimento. Com isso, o que se viu foi uma expansão do conhecimento empírico, a evolução das ciências experimentais, a ênfase naquilo que pode ser explicado, matematizado e experienciado. Isso provocou o aumento da informação e da capacidade de máxima especialização, o que reduziu a compreensão da totalidade. Ficaram de lado a dignidade, os valores humanos e o esvaziamento de sentido, que necessitam de uma nova abordagem. É o que vai despertar o movimento contemporâneo por parte das diversas culturas de afirmação e de resgate da identidade. Nesse ambiente, a Filosofia torna-se necessária porque ela é própria da atitude humana. Todo ser humano é, em princípio, um filósofo uma vez que está sempre em busca da verdade última de todas as coisas.
O homem tem uma abertura para o absoluto e o transcendente. Considerar que apenas o dado empírico, sensível e objetivo é suficiente para dar conta da verdade é uma ingenuidade. A realidade e a verdade transcendem à compreensão objetiva e factível. É isso que confere à pessoa o valor de sua condição espiritual. Isso envolve não só a questão moral, como afirmou Kant em sua metafísica dos costumes, mas também a percepção estética e a descoberta do outro em sua dimensão relacional. A carta encíclica Fides et ratio, assinada por João Paulo II, chega a falar de uma necessária passagem do fenômeno ao fundamento, o que representa o desafio do pensamento humano neste tempo. É essa abertura para o transcendente que possibilita à Teologia o papel de mediação na compreensão da revelação divina. Para a referida encíclica, esse é o caminho para a superação da crise de sentido que afeta o pensamento humano na sociedade atual.
É um engano pensar que o enfraquecimento da razão pode resultar em um fortalecimento da fé, ou vice-versa. O enfraquecimento da razão resulta, isso sim, numa fé supersticiosa que se alimenta do mágico. O enfraquecimento da fé, por sua vez, resulta na fragmentação e na perda de sentido, pelo fato de a razão não ser capaz de abarcar a totalidade e o sentido último das coisas. Um humanismo que se fecha em si mesmo, apenas relacionado ao presentificado, não consegue entender que o ser humano tem uma abertura para o transcendente, para a busca da verdade, para a felicidade e para a liberdade. Para isso, ele está aberto para o todo. Uma filosofia que contempla essa possibilidade resgata o campo da metafísica, que acaba por se tornar um campo comum à Teologia.
A Teologia é resultado de uma compreensão da revelação divina nas circunstâncias concretas em que ela foi recebida. A própria noção de palavra de Deus deve ser entendida não como palavra humana, mas como a fala divina é recebida, entendida e expressa na fala humana, com as circunstâncias socioculturais e históricas que permeiam a linguagem. Uma experiência de Deus – ou mesmo uma expressão religiosa – sem logos, sem razão, é apegada ao contemplativo e ao mágico, voltada para as soluções imediatas.
A Filosofia chega à noção do absoluto e da totalidade a partir da razão e do conceito de uno. A Teologia, por sua vez, desenvolve a noção de transcendente a partir do homem e do mundo. Um apelo que pode ser feito pela Teologia é para que a Filosofia resgate a preocupação com aquilo que foi a sua vocação primeira, abandonada para dar lugar a um reducionismo e a uma afirmação da autonomia da razão, com a ilusão de que é possível se ter todas as respostas.
O fazer teológico não pode abrir mão da reflexão filosófica, vista aí a própria análise do texto bíblico e a compreensão da questão da fé em relação à compreensão de Deus. O risco é de se apegar a uma concepção de natureza fundamentalista e de se estabelecer impedimentos para a compreensão da própria condição humana em suas expressões culturais. A necessidade da abordagem filosófica tem razões antropológicas, uma vez que Teologia e Filosofia têm em comum o interesse pela realidade do ser humano e do mundo, bem como a abertura e o deseja pela totalidade e pela verdade. A Teologia só pode falar desses temas levando em consideração a experiência humana que implica a atitude filosófica como uma faculdade do pensamento. Uma tradição teológica que rejeita a importância da Filosofia e sua natureza crítica terá grandes dificuldades de interpretar a natureza da revelação de Deus a ponto de proporcionar uma interação com a compreensão da realidade humana e sua abertura para o conhecimento do transcendente.
Excelente texto/visão profº, eu também tentei escrever algo a respeito dessa maravilhosa relação filosofia-teologia (só que com um maior vigor apologético) e, da mesma forma que recomendo a leitura/reflexão de seu texto, também recomendo a leitura do nosso texto!
ResponderExcluirhttp://souteologico.blogspot.com/2011/09/filosofia-e-teologia-parceiras.html
Abraços
Orlando