“Na
minha angústia clamei ao Senhor; e o Senhor me respondeu, dando-me ampla
liberdade.” Salmos
118.5
A angústia é uma sensação marcada pela falta de
humor, pela insegurança e pela inquietação, como um sentir-se sufocado. O termo
vem do latim angere que quer dizer
apertado ou estreito. Alguns se referem a ela como um “aperto no peito”, um
“bolo na garanta”. Uma amiga dizia que era uma “gastura”. O fato é que todos
nós a temos e é o que impulsiona nossas escolhas e atitudes. É uma sensação que
está ligada à ansiedade e ao medo. Também pode estar relacionada à tristeza e à
depressão.
Como lidar com a angústia? Ela é um sinal do
conflito que nos constitui como pessoas. Freud se referiu à angústia como um
afeto que tanto é produzido pelo recalque como também produz o recalque. O que
ele chama de afeto é em referência a algo que chega à nossa consciência e
produz uma sensação, sendo que a angústia é sempre um desprazer que provoca
reações físicas. E o que ele chama de recalque é um mecanismo de defesa em
relação a ideias que são incompatíveis com o eu e que, por isso mesmo, são
reprimidas. A angústia tanto está relacionada a um trauma que lhe é anterior
como produz uma repressão. Ou seja, a angústia fala tanto de dentro para fora como
de fora para dentro da gente daquilo que cerceia a liberdade e a nossa
realização como pessoas. Ela é uma espécie de mal-estar diante das condições
concretas de nossa existência.
Soren Kierkegaard já havia se referido à angústia
como um medo diante de uma situação que nos confronta com nossa incompletude. É
como uma pessoa que está diante de um precipício e que, ao mesmo tempo, sente o
medo de cair e um impulso de se lançar no abismo. É o sentimento de Adão diante
da oferta do fruto proibido. A angústia deriva do fato de que Deus o proibira
de comer, mas ele se sentia livre para fazer escolha. Portanto, o pecado nasce
da angústia. Porém, é pela angústia que somos informados de nossa capacidade de
escolher livremente e de conhecer a nossa própria condição. Portanto, ela tanto
pode ser uma oportunidade para o pecado como possibilidade de realização de
nossa liberdade.
Wittgenstein disse que a angústia é dessas coisas
sobre as quais não temos muito o que dizer – por não podermos conceituá-la de
forma adequada –, e que por isso deveríamos nos calar em relação e elas. Como
diz a canção “Dom de Iludir”, de Caetano Veloso, “cada
um sabe a dor e a delícia de ser o que é”. Entretanto, precisamos perceber as formas como estamos inseridos nela.
Muitos terapeutas têm tratado a angústia não só
como uma sensação, mas também como uma doença. Desse modo, encaram a angústia
como um conflito diante das várias situações que demandam escolhas e que
reivindicam um sentido para a existência, como um sofrimento diante do presente.
Em casos extremos, pessoas tomadas por um sentimento de angústia se sentem
paralisadas, perdem sua capacidade de refletir, de lidar com o cotidiano e até
de se relacionar.
O salmista diz que ele clamou ao Senhor em meio à
sua própria angústia. E também diz que a resposta que ouviu de Deus é que ele era
uma pessoa livre para fazer o que quisesse. Este é o dilema humano: sabermos
que Deus tem um propósito para tudo na vida, mas deixa-nos livres para fazermos
a escolha de acolhê-lo ou não.
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