domingo, 29 de maio de 2016

Angústia / Anguish / Angustia

“Na minha angústia clamei ao Senhor; e o Senhor me respondeu, dando-me ampla liberdade.” Salmos 118.5
A angústia é uma sensação marcada pela falta de humor, pela insegurança e pela inquietação, como um sentir-se sufocado. O termo vem do latim angere que quer dizer apertado ou estreito. Alguns se referem a ela como um “aperto no peito”, um “bolo na garanta”. Uma amiga dizia que era uma “gastura”. O fato é que todos nós a temos e é o que impulsiona nossas escolhas e atitudes. É uma sensação que está ligada à ansiedade e ao medo. Também pode estar relacionada à tristeza e à depressão.
Como lidar com a angústia? Ela é um sinal do conflito que nos constitui como pessoas. Freud se referiu à angústia como um afeto que tanto é produzido pelo recalque como também produz o recalque. O que ele chama de afeto é em referência a algo que chega à nossa consciência e produz uma sensação, sendo que a angústia é sempre um desprazer que provoca reações físicas. E o que ele chama de recalque é um mecanismo de defesa em relação a ideias que são incompatíveis com o eu e que, por isso mesmo, são reprimidas. A angústia tanto está relacionada a um trauma que lhe é anterior como produz uma repressão. Ou seja, a angústia fala tanto de dentro para fora como de fora para dentro da gente daquilo que cerceia a liberdade e a nossa realização como pessoas. Ela é uma espécie de mal-estar diante das condições concretas de nossa existência.
Soren Kierkegaard já havia se referido à angústia como um medo diante de uma situação que nos confronta com nossa incompletude. É como uma pessoa que está diante de um precipício e que, ao mesmo tempo, sente o medo de cair e um impulso de se lançar no abismo. É o sentimento de Adão diante da oferta do fruto proibido. A angústia deriva do fato de que Deus o proibira de comer, mas ele se sentia livre para fazer escolha. Portanto, o pecado nasce da angústia. Porém, é pela angústia que somos informados de nossa capacidade de escolher livremente e de conhecer a nossa própria condição. Portanto, ela tanto pode ser uma oportunidade para o pecado como possibilidade de realização de nossa liberdade.
Wittgenstein disse que a angústia é dessas coisas sobre as quais não temos muito o que dizer – por não podermos conceituá-la de forma adequada –, e que por isso deveríamos nos calar em relação e elas. Como diz a canção “Dom de Iludir”, de Caetano Veloso, “cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é”. Entretanto, precisamos perceber as formas como estamos inseridos nela.
Muitos terapeutas têm tratado a angústia não só como uma sensação, mas também como uma doença. Desse modo, encaram a angústia como um conflito diante das várias situações que demandam escolhas e que reivindicam um sentido para a existência, como um sofrimento diante do presente. Em casos extremos, pessoas tomadas por um sentimento de angústia se sentem paralisadas, perdem sua capacidade de refletir, de lidar com o cotidiano e até de se relacionar.
O salmista diz que ele clamou ao Senhor em meio à sua própria angústia. E também diz que a resposta que ouviu de Deus é que ele era uma pessoa livre para fazer o que quisesse. Este é o dilema humano: sabermos que Deus tem um propósito para tudo na vida, mas deixa-nos livres para fazermos a escolha de acolhê-lo ou não.

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