“Vocês estão transformando o direito em amargura e
atirando a justiça ao chão.” Amós
5.7
Deus é justo, Ele ama a justiça
e requer que ela aconteça em nossas relações. Tudo o que ele espera de nós é
que pratiquemos a justiça. Não há nada que nos assemelhe tanto a Deus do que
praticar a justiça.
O problema é que Deus é justo
por natureza. Seu senso de justiça é movido pelo seu amor, que se transforma em
atos de misericórdia e sentimentos de compaixão. Falar que Deus é justo é o
mesmo que falar que ele ama, que é misericordioso e que é compassivo. Para o
homem, porém, a justiça é uma virtude a ser adquirida. Quando se fala da
justiça humana pensamos logo em um processo retributivo, que visa a satisfação
de uma ofensa. Por isso que não há uma pessoa sequer que possa ser justa.
O princípio da justiça divina não
é a vingança, o juízo acusatório, a condenação ou mesmo a aplicação de uma sentença
punitiva. Se dependesse disso, não estaríamos aqui para contar nossa história.
Falar de justiça de Deus é lembrar do seu perdão em relação às nossas faltas, é
tratar do modo como Deus acolhe gente pecadora e restaura o sentido da vida a
quem já se perdeu de si mesmo. Somente um Deus justo pode se ocupar da salvação
da humanidade e permitir que os caminhos da história contribuam juntamente para
que seu propósito salvador seja consumado.
O contrário disso é dar lugar
aos nossos sentimentos individualistas e egoístas. Nossas percepções sobre
justiça sempre são marcadas pela maneira como compreendemos nossas próprias
fragilidades e ambiguidades. A justiça humana está circunscrita à lei, que é
sempre provisória, depende das nossas relações morais e se submete aos limites
da razão para a sua interpretação. O sentido da lei carece de um procedimento
científico para a sua formulação e aplicabilidade, que é a ciência do Direito.
Nosso senso de justiça é
atravessado pela história, depende de uma decisão pessoal visando ao bem comum.
Quando a justiça está a serviço de interesses de grupos ou setores, é o mesmo
que transformar o Direito em amargura e atirar a justiça ao chão, como disse o
profeta. Mas quando a justiça se volta para a redenção do que há de mais humano
em nós, ela se aproxima do ideal divino.
Pessoas tementes a Deus e que
foram transformadas pelo evangelho da graça não combinam com atitudes injustas.
Não há como praticar a justiça e estar ao lado de poderosos, opressores e
exploradores que subvertem a justiça a seu favor e subjugam os mais vulneráveis.
Não há como reproduzir o discurso opressor, reafirmar a sua lógica ou mesmo ignorar
seus interesses. Praticar a justiça não se trata de um ideal, uma aspiração ou
mesmo uma ideologia, mas em fazer a vontade de Deus.
Praticar a justiça como Deus
requer é desejar que o outro tenha os mesmos direitos que eu tenho, é permitir
que ele desfrute das mesmas oportunidades de realização que eu desfruto e é querer
que o outro possa ocupar os mesmos lugares que eu ocupo. Para isso, é preciso
desconstruir a mentalidade perversa que a sociedade humana nos impõe,
principalmente com o avanço da secularização e do consumismo.
Justiça é quando todas as
pessoas podem ter acesso a tudo aquilo que Deus nos dá como graça e podem
descobrir juntas como orientar a vida inteira de acordo com seus propósitos. Qualquer
coisa que possa interferir nisso é servir como impedimento para que a justiça
seja completa.
Nenhum comentário:
Postar um comentário