“Daniel, você é muito amado.
[...]” (Daniel 10.11).
Daniel é um
exemplo de alguém que viveu a fé em seu tempo de maneira autêntica. Há uma
relação entre fé e cultura e entre fé e realização histórica que não é levada
em consideração pela maioria das pessoas que segue uma religião. A vida de
Daniel, porém, conforme narrada na Bíblia, demonstra que ele enfrentou suas
circunstâncias pessoais dentro de uma compreensão de seu tempo sendo
perseverante e determinado em tornar-se um instrumento nas mãos de Deus para
influenciar seus contemporâneos.
Daniel era um judeu
de uma família nobre. Quando os caldeus dominaram a cidade de Jerusalém, em 605
a.C., ele e alguns outros jovens foram levados como escravos para Babilônia. O
rei dos caldeus, Nabucodonosor, ordenou que fossem escolhidos aqueles mais
capazes para que fossem preparados para servi-lo em seu palácio. E Daniel,
juntamente com seus três companheiros Hananias, Misael e Azarias, estava entre
os escolhidos.
Tomando por base a narrativa bíblica, dá para entender que
Daniel passou o resto da sua vida naquela mesma região. Ele enfrentou várias
situações que colocavam em risco sua vida, mas permaneceu firme em suas
convicções de fé. Apesar de todas as provações, conseguiu desempenhar funções importantes
dentro da dinâmica da vida social até o fim do império babilônico, que veio a
cair diante do império medo-persa em 539 a.C. Mesmo na velhice, Daniel ainda
serviu por alguns anos no governo desse novo império mantendo uma fé
inabalável.
Sua fidelidade e determinação em fazer a vontade de Deus
fizeram com que Daniel fosse reconhecido como um homem “muito amado” (Daniel
10.11). No livro do profeta Ezequiel, Daniel é mencionado como um dos grandes
exemplos de justiça e retidão em meio a todo cenário do cativeiro babilônico,
alguém tão digno como os exemplos de Noé e Jó (Ezequiel 14.12 e 20).
Essas suas
credenciais permitiram que ele fosse usado pelo Senhor para ser portador de uma
mensagem que trazia uma nova perspectiva história a respeito dos propósitos de
Deus para a humanidade. Essa mensagem permanece viva e atual.
Através de uma
linguagem simbólica, retirada da cultura de seu tempo, fica claro que ele
apresenta o curso da história, apontando significados e esquadrinhando seu desenvolvimento
até um final de acordo com um propósito divino. Sua narrativa demonstra que o
Deus que criou o universo e a vida humana está no controle do tempo e conduz a
história para um fim conforme a sua vontade.
Claro que isso
não acontece sem que haja uma tensão entre os fatos históricos e as promessas
divinas, entre os fenômenos culturais e a fé. O problema é que somos herdeiros
de uma teologia que construiu uma separação entre revelação divina e realização
histórica, entre fé e cultura. Porém, é preciso compreender que a as promessas
divinas se realizam historicamente e que a fé deve ser expressa no contexto de
uma cultura. E o livro de Daniel nos ajuda a compreender isso.
Para Daniel, a
história humana e as manifestações sobrenaturais do poder de Deus estão
inter-relacionadas. Por conta disso, podemos assumir uma atitude mais otimista diante
de crises, catástrofes, conflitos e dominações. Essa compreensão bíblica da
histórica nos ajuda a desenvolver a esperança e a ter uma mensagem encorajadora
para aqueles que sofrem a opressão, a injustiça, a perda e a exploração.
Daniel nos
ajuda a entender que a realização histórica necessita de um horizonte, caso
contrário será sempre compreendida apenas como uma sucessão de acontecimentos.
Os propósitos divinos apontam para um sentido da história. Por essa razão, o
livro bíblico é considerado como parte de uma literatura apocalíptica, que
aponta para o fato de que Deus está no controle da história, subvertendo
relações de poder e trazendo seu reino aos homens a fim de que seus propósitos
eternos se cumpram.
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