“Descanse somente em Deus, ó minha alma;
dele vem a minha esperança” Salmos
62.5
A
esperança é uma virtude de quem consegue enxergar além das circunstâncias. Ela
é da ordem da transgressão. Crer que algo é possível apesar das circunstâncias
contrárias não é um exercício de otimismo ou de pensamento positivo. Isso depende
de uma disposição diferente de se esperar.
Não
é à toa que a esperança é uma das três virtudes teologais. Juntamente com a fé
e a caridade, a esperança é uma força que o Espírito Santo confere por graça ao
que crê a fim de aumentar a confiança e fortalecer a que seja perseverante.
Para quê? Primeiro, para que creiamos na veracidade das promessas divinas,
mesmo quando tudo parece contrário. Segundo, para que pratiquemos a vontade
divina, mesmo quando tudo parece dar errado.
A fé é o fundamento sobre
a qual descansa a esperança, e a esperança alimenta e sustenta a fé. A
esperança renova e vivifica a fé sempre de novo e cuida para que sempre de novo
se levante mais forte, para perseverar até o fim. Como disse Calvino: “Se faltar a
esperança, por mais que falemos da fé de forma genial e eloquente, podemos
estar certos de que não temos nenhuma!”
A
esperança, portanto, é o que nos encoraja a seguir adiante. Ela está presente
quando somos capazes de rir na hora da dor, quando nos sentimos realizados na
hora da perda, quando buscamos forças em meio à luta, quando mudamos o rumo em
meio à crise. Nasce de nossas carências e nos impulsiona para a resistência
contra o que nos impede de seguir em frente.
O poeta
francês Charles Péguy cantou certa vez:
“O que me espanta, diz Deus, é a
esperança.
Eu fico pasmo.
Essa pequena esperança que parece uma cousa de nada. [...]
A Esperança é uma meninazinha de nada. [...]
Entretanto é essa meninazinha que atravessará os mundos.”
A
esperança é mais do que espera. Paulo Freire dizia que a esperança de que
precisamos é a do verbo “esperançar”, e não a do verbo “esperar”. É ela que restaura
o sonho e aponta um sentido. Por ela, um novo horizonte surge a cada instante
que se avança. Ela é a expectativa da conquista, é o que proporciona
esclarecimento e libertação. Sem esperança, a vida é só espera, viver não faz
sentido algum, perde-se o horizonte e não há motivos para seguir adiante.
A falta
da esperança é só perda. Enquanto a esperança nasce de nossas carências, a
falta dela vem da alienação. A esperança encoraja, a falta dela cria uma
relação de dominação. A esperança transforma, a falta dela favorece
exploradores.
É
preciso ter esperança neste tempo em que há tanto desespero. É preciso desejar
como Paulo: “Que o Deus da esperança os encha de toda alegria e paz, por sua
confiança nele, para que vocês transbordem de esperança, pelo poder do Espírito
Santo” (Romanos
15.13).
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