Quando Jesus atravessou o mar da Galileia de
barco com seus discípulos e chegou à região de Gadara, deparou-se com um quadro
grotesco: uma pessoa agressiva, violenta, seminua, imunda, com sinais pelo
corpo de que havia sido preso por fortes grilhões, urrando e arremessando
pedras contra quem se aproximasse. Não sei o que você faria se estivesse no
barco com Jesus, mas eu logo remaria na direção contrária.
Essa narrativa encontra-se em Marcos 5.1-18. Uma
coisa que escapa de nosso olhar é o fato de que ali estava um ser humano.
Parece contraditório, mas mesmo as pessoas mais vis, violentas e que tenham
praticado as coisas mais hediondas são seres humanos e, como tais, foram feitos
à imagem e semelhança de Deus. Foi assim que Jesus viu aquele homem. E é assim
que Jesus nos vê: como pessoas.
A cura do endemoninhado gadareno nos lembra o
quanto Jesus está interessado em restaurar as relações que constituem a nossa
humanização. Jesus reivindica, por amor, para si todo ser humano a fim de que
viva a sua humanidade perante Deus sem precisar se envergonhar disso.
Quando falamos de nossa
condição humana, isso comporta um problema: a rejeição do projeto de Deus
através da ruptura de nossas relações fundamentais. É isso que constitui o que
podemos chamar de situação de não salvação. A maldade está no fato de que
rejeitamos o projeto de vida proposto por Deus desde a criação. É isso que a
Bíblia chama de pecado.
Jesus
veio nos libertar da opressão causada pela maldade. Ao fazer isso, ele viveu a
nossa vida, enfrentou a nossa morte da forma mais cruel (a cruz), ressuscitou
glorificado e hoje está vivo com o Pai. É isso que dá validade ao seu ensino e
promessa: “Portanto, se
o Filho os libertar, vocês de fato serão livres” (João
8.36).
A
salvação é, portanto, a restauração das relações rompidas pelo pecado. O pecado
é o estado em que nos encontramos por termos nos desviado dos propósitos de
Deus. O sentido de estar perdido é porque estamos perdidos de nós mesmos.
Jesus
é o Salvador porque viveu intensamente essas relações. Nele não se encontrou
pecado. Diz a Bíblia: “Pois não temos um
sumo sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas, mas sim alguém
que, como nós, passou por todo tipo de tentação, porém, sem pecado”
(Hebreus 4.15).
Toda
religião aponta para um tipo humano baseado em obrigações, mas Jesus valoriza a
liberdade. Ele disse: “E conhecerão a
verdade, e a verdade os libertará” (João 8.32). Jesus não está comprometido
com ideais humanistas, mas está profundamente interessado em restaurar a
humanidade toda. Por isso, ele reivindica a que a humanidade toda possa
segui-lo com todas as implicações que isso envolve.
(Extraído do
livro Elogio da Compaixão. Imagem: Homem pensador, de Picasso).
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