domingo, 18 de novembro de 2018

Fé e política: aproximações necessárias / Faith and politics: necessary approximations / Fe y política: aproximaciones necesarias


O teólogo alemão Johann Baptist Metz, em seu livro Teologia política, afirmou que “o problema do cristianismo não são as crenças, mas os sujeitos”. O que ele chama de teologia política é aquela que tem como missão “tomar a sério a velha e sempre idêntica missão da Teologia cristã: falar do Deus de Jesus pelo fato de procurar demonstrar as relações existentes entre a mensagem cristã e o mundo atual e traduzir a tradição da fé como memória não concluída e perigosa”. Isso nos remete a uma dimensão prática da abordagem teológica visto que é preciso que a teologia esteja de fato ocupada com a mensagem divina voltada de forma crítica para a realidade vivida no mundo.
A igreja é portadora de uma mensagem de esperança para o mundo porque ela é antecipadora de uma memória histórica da liberdade e da salvação para todos os que se encontram cansados, explorados e sem esperança. Essa mensagem é o que nos faz olhar a realidade presente com outra expectativa, como quem crê em um futuro libertador, e é também o que nos impulsiona a agir pela transformação do presente a fim de proporcionar condições sociais e humanas mais justas. É o que Metz chama de memória subversiva da fé, que deveria ser a marca predominante da ação da igreja.
Porém, a relação entre fé e política deve ser compreendida à luz dos processos de construção da subjetividade e da liberdade modernos. Ao promover um divórcio entre a objetividade e a espiritualidade, a Modernidade acabou provocando uma compreensão equivocada a respeito da fé, muitas vezes tida como distanciada da vida do mundo, voltada para um outro mundo além. E isso tem sido um fator inibidor de uma fé mais engajada e comprometida com as mudanças das estruturas dominantes que favorecem o aumento das desigualdades sociais, da exploração do outro e das injustiças sociais.
Se não formos capazes de compreender e de perceber os mecanismos que têm provocado uma estrutura injusta e desigual, tenderemos sempre a reproduzir os discursos que reforçam essas mesmas estruturas e a perpetuar a lógica da dominação e da exploração. É o que poderíamos chamar de fé engajada, que é aquela que busca trazer para a realidade presente aquilo que é esperança escatológica. Para tanto, compreende de forma adequada quais são os impedimentos para a realização humana em termos de justiça, compaixão e solidariedade.
O sofrimento e a luta social enfrentados hoje trazem consigo uma memória que precisa ser desvendada. Essa memória é o que alimenta as ações em busca de superação dos modelos de desigualdade e de injustiça social. E a busca de solução e superação das condições concretas em que tais modelos acontecem se dá a partir de determinados deslocamentos. Poderíamos falar do deslocamento da exclusão para a solidariedade, do medo à esperança, da competição para a generosidade e da violência para a compaixão.
Os caminhos para a construção de uma cultura de afirmação da dimensão política da fé passam pelo testemunho público da fé, pelo caminho de uma práxis comprometida com os mais vulneráveis e pela inserção histórica na vida comunitária, como agente de transformação em meio a outros agentes.
A fé não é só uma experiência interior, mas a busca de entendimento que se manifesta a partir da relação com o outro. A vida do que crê se dá em meio às estruturas sociais e culturais em que se está inserido. Uma fé que não compreende como as formas de dominação, de exclusão e de opressão estão presentes historicamente na sociedade, bem como o modo como essas formas estão impregnadas na cultura, é alienante. Não promove transformação, não é libertadora, uma vez que o modo como os sujeitos são construídos tem a ver com processos históricos. Somos formados a partir das circunstâncias históricas concretas que nos são dadas.
A aproximação entre fé e política nos remete à ideia de que toda expressão de fé é uma experiência política na medida em que lança um olhar a partir de um determinado lugar em que somos construídos e estão intimamente ligadas às lutas e as necessidades sociais.

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