sexta-feira, 28 de setembro de 2018

Fé e política: aproximações e dimensão pública / Faith and politics: approaches and public dimension / Fe y política: aproximaciones y dimensión pública

A fé e a política são concepções distintas, mas que estão inter-relacionadas e são complementares uma a outra. A fé, para ser validada, precisa ser expressa em termos de ações concretas na direção do outro, de tal modo que, sem isso, não passa de um exercício vazio de significado. As atitudes humanas vinculadas à fé se tornam mais significativas quando realizadas em meio à dinâmica da vida social.
Trata-se de duas ações humanas que se destinam a um mesmo propósito, que é o de trabalhar pela realização humana. Ambas, quando estão interligadas, têm a ver com a tentativa de tornar visível o modo como Deus está presente e ativo ha história. Apesar disso, elas não são da mesma natureza. Enquanto a fé é a busca pelo entendimento que liberta, a política é a construção de caminhos para se chegar ao entendimento. Fé e política, desse modo, se completam na medida em que visam a superação do engano e o tratamento dos conflitos que envolvem a construção da dignidade humana.
A fé, portanto, é um exercício político. Optar por uma vida de fé é, em certa medida, fazer uma opção política, visto que ela tanto pode validar um modo de compreender que oprime quanto pode orientar o entendimento para a busca de libertação. E desvincular a fé da política é uma tentativa de aniquilar a própria natureza da missão. Por causa dessa separação, pessoas sem qualquer temor ou caráter chegam ao poder, e a religião se transforma em um território dominado por falsos profetas.
A fé envolve tanto um esforço individual para se inserir na vida comunitária quanto confere identidade para a comunidade daqueles que partilham da mesma vivência de fé. Vincular a fé e a política é uma necessidade que exige um aprendizado a partir de uma escuta atenta do que afeta a vida do outro e a vida comunitária, bem como de saber ouvir o chamado divino para uma ação transformadora no mundo.
Uma vivência de fé que esteja indiferente às formas de opressão, de exploração e de cerceamento da liberdade acaba se tornando um instrumento de perpetuação e de consolidação das estruturas que sustentam aquilo que oprime, que explora e que cerceia a liberdade. Isso implica compreender suas causas históricas, identificar os processos que as desencadeiam e perceber os modos como elas se realizam de forma concreta na sociedade.
A política não está desvinculada da fé. Ela se sustenta por um sistema de crenças, valores e princípios que visam dar direção às práticas e ações públicas que estão voltadas para a promoção do bem comum. A relação entre fé e política diz respeito a uma dialética que permite vivenciar historicamente aquilo que só conseguimos visualizar espiritualmente. Via de regra, achamos que a fé é própria do contexto religioso e que se limita a ele, enquanto que a política está mais relacionada com a atividade de instituições partidárias, de organismos cooperativistas e de movimentos populares. Mas tanto no ambiente onde se vivencia a fé quanto nos contextos das ações coletivas, fé e política se fazem presente de forma inequívoca.
No contexto religioso, a fé precisa estar comprometida com o projeto divino de salvar e libertar o humano de forma integral de tudo o que o afasta e de tudo que distorce os valores do Reino de Deus. Ela confirma esse seu comprometimento através da celebração, do anúncio e da reflexão à luz dos textos sagrados. Uma fé comprometida com o humano de forma integral assume o papel profético de declarar o propósito divino para toda a humanidade e de cumprir a missão divina de convocar e acolher a todo aquele que atende ao convite amoroso do Pai para seguir os seus ensinos. Da mesma forma, ela encoraja cada homem e mulher para serem agentes de sua própria transformação e das mudanças que precisam acontecer na vida social.
Isso, porém, não quer dizer que a comunidade de fé tenha que interferir nas práticas que competem às instituições políticas e nem que líderes religiosos tenham que emitir pareceres sobre os segmentos da sociedade a partir de um juízo de valor. Mas ele têm o dever de contribuir para a formação de pessoas mais conscientes de sua cidadania e que sejam capazes de superar todas as formas de alienação, a fim de que elas protagonizem atitudes que promovam o bem comum, o bom senso e a equidade.
A fé milita com valores que norteiam a ação política, tais como a justiça, a liberdade e o direito de cada pessoa viver dignamente. Sem isso, a fé não passa de “ópio do povo”. Quando a fé e vivenciada em meio aos valores que primam por uma sociedade mais justa, pelo exercício da liberdade e pela defesa dos Direitos Humanos, ela se aproxima daquilo que encontramos Jesus Cristo propor nos evangelhos.

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