sábado, 1 de setembro de 2018

Impedimento de Lula: O desfecho do golpe / Offside Lula: The Coup's End / Lula rechazado: El desenlace del golpe


Na madrugada do dia 31 de agosto para o dia 1 de setembro de 2018, o Tribunal Superior Eleitoral do Brasil decidiu barrar a candidatura de Luís Inácio Lula da Silva à Presidência da República. Levando-se em consideração que se trata de alguém condenado em segunda instância por crime contra a administração pública, o fato poderia ser interpretado como uma aplicação natural da Lei de Ficha Limpa. Mas, para essa decisão, o TSE atropelou prazos, desconsiderou uma decisão da ONU em defesa do direito de Lula ser candidato e ainda não se ateve ao mérito da condenação sem provas e sem direito a recursos ou Habeas Corpus a que Lula está submetido.
Ao tornar Lula inelegível e cassar seus direitos políticos, o TSE confirma o regime de exceção que vem sendo seguido desde o início do golpe. Para relembrar, o golpe foi tramado desde 2014 com a onda de investigações e denúncias seletivas no interior da Operação Lava Jato para enfraquecer a candidatura de Dilma Roussef à reeleição, mas isso não foi suficiente para impedir a quarta vitória consecutiva do Partido dos Trabalhadores ao cargo máximo do país. O golpe teve continuidade com a atitude antidemocrática do candidato derrotado ao não aceitar o resultado das urnas, com sucessivas tentativas de anular o pleito até anunciar da tribuna do Congresso, quando a ocupou pela primeira vez no ano seguinte, que iria “quebrar o país” até Dilma ser deposta. O golpe se consumou com o processo de impeachment, em 2016, sem haver crime cometido pela Presidente. Como resultado, o Brasil tem vivido uma crise sem precedentes, com um governo com alto índice de rejeição e que vem tomando medidas que prejudicam a população, como a perda de direitos, o congelamento de gastos sociais e a reforma trabalhista. O foco final do golpe seria a retirada do cenário político do candidato mais cotado à Presidência, que vinha sendo apontado pelas pesquisas com chances de vencer até no primeiro turno.
Em uma certa medida, o golpe tem sido bem-sucedido. Conseguiu tirar Lula da eleição, assim como tirou o PT do poder e os direitos sociais dos mais pobres. Entretanto, não tem conseguido impedir a mobilização popular de resistência às manobras políticas da justiça para interferir no resultado das urnas. O que poderia ser um processo com aparente legalidade, seguindo o trâmite institucional, torna-se um desencadeador do movimento de resistência que poderá ser verificado no comportamento das urnas. Embora tenha sido bem-sucedido nos quesitos de impedimentos políticos, o golpe tem sido um fracasso total, mergulhando o país numa crise sem volta, com desemprego em alta, baixíssimo crescimento econômico e perda do poder de compra dos salários.
O PT acertou em não abandonar o Lula até as últimas consequências. Seria um ato de traição deixá-lo fora do processo em nome de um pragmatismo eleitoral. Agora que o TSE decidiu, o PT tem legitimidade para colocar a campanha da chapa Haddad-Manuela na rua. Esta seria a hora de as esquerdas unirem forças e seguirem o caminho do voto útil em torno de um nome que reúna condições de dar o troco do golpe, se quiserem retomar o poder no país.
Fazendo uma analogia com a história, o Brasil e a América Latina já viveram situações de tensão em que as oligarquias tentaram interferir na democracia retirando o candidato mais cotado. Em 1945, com Getúlio Vargas deposto e recluso em São Borja, a eleição presidencial pendia para o udenista Brigadeiro Eduardo Gomes (UDN era o partido das oligarquias). Faltando pouco mais de uma semana, sem rede social, internet ou televisão, Vargas mandou um recado para os trabalhadores: “Votai em Dutra!” Dutra foi eleito e Vargas ganhou as eleições seguintes. E em 1973, na Argentina, os militares que governavam aquele país anunciaram que haveria eleições presidenciais. Juan Domingo Perón, o mais cotado, não poderia concorrer porque estava no exílio na Espanha. O candidato do Movimento Peronista foi Vicente Solano Lima, que venceu as eleições. No mesmo ano, Solano tomou posse, revogou o exílio de Perón, renunciou ao cargo de Presidente e convocou novas eleições. Perón se candidatou e foi eleito para seu terceiro mandato.
É emblemático para a análise do impedimento de Lula, em relação ao cenário do golpe que as oligarquias aplicaram no Brasil, o fato de que a votação do TSE coincidiu com o aniversário de dois anos da decisão que o Senado tomou em favor do impeachment de Dilma. A história não é feita de coincidências. Com um judiciário oligárquico e que se comporta em favor das elites dominantes, não é de se estranhar que suas ações sejam orquestradas em favor dos interesses de uma classe que sempre dominou o poder no Brasil, relegando a maioria da população a uma situação de exploração e de dependência.

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