Jesus viveu num tempo dominado por um regime opressor e oligárquico.
Não havia democracia em seu tempo. Votar não correspondia a uma
experiência vivida pelo seu povo, principalmente o voto como
expressão livre de uma consciência popular. Mas é interessante
pensar como Jesus agiria se vivesse num tempo em que a eleição fosse a
base da construção de uma sociedade justa e democrática, tal como
se propõe nas democracias atuais.
Em tempos eleitorais, em que lideranças religiosas tentam induzir o
voto de suas comunidades para beneficiar os candidatos com os quais
têm relações, vale a pena pensar a respeito do que Jesus faria se
vivesse o momento em que estamos vivendo. A gente percebe nas
narrativas dos evangelhos que, em termos de participação social e
política, Jesus foi um cidadão comum. Ele não deixou de pagar seus
tributos, de praticar os costumes e até de participar dos festejos
nacionais. Ele inclusive acatou mansamente a decisão judicial, ainda que
injusta, de sua condenação. E isso era um hábito familiar. Seus pais também
observaram o decreto de recenseamento da população, uma prova de
que cumpriam as leis civis. Ele certamente seria um eleitor consciente.
Três perguntas me vêm a mente a respeito do que Jesus faria se
tivesse que votar. A primeira é: em quem Jesus votaria? Ele
certamente votaria em candidatos comprometidos com os valores do
Reino de Deus, que são a justiça, a compaixão e o amor. Ele também
escolheria candidatos dispostos a servir, e não a serem servidos. E
penso que teria maior interesse em candidatos que estivessem abertos
a romper com as velhas estruturas e com uma forma arcaica de
pensar, que sustenta a lógica da dominação e da opressão.
A segunda pergunta é: qual seria a pauta de propostas políticas que
Jesus defenderia? Ele defenderia o direito dos mais vulneráveis, dos
excluídos da sociedade. Ele daria prioridade à solução de
problemas nas áreas da saúde, da educação e do trabalho. Ele
também defenderia políticas de combate à concentração de renda e
ao exercício do poder na mão dos mais ricos.
A terceira pergunta é: como Jesus se envolveria numa campanha
eleitoral? Ele enfrentaria os “vendilhões do templo”,
representado por aqueles que fazem do espaço religioso um território
de domínio de suas ações políticas. Ele criticaria a atitude dos
poderosos, das classes mais ricas e das categorias que têm a
responsabilidade de cuidar da sociedade. Ele confrontaria os
poderosos a partir combate à ganância e à exploração dos mais
pobres. E ele seria solidário com os que sofrem, colocando-se ao
lado dos que perderam toda a esperança.
A comunidade cristã tem uma grande responsabilidade em tempos
eleitorais. Da mesma forma que os cristãos precisam agir como Cristo
em todas as áreas da vida, acredito que essa mesma atitude deveria
se repetir na hora de exercer o dever cívico de votar. Cada cristão
votando deveria ser como Cristo fazendo valer sua consciência social
e política.
Parabéns mestre, pela excelente reflexão sóbria no sombrio momento em que nos encontramos. Grande abraço!
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