segunda-feira, 17 de setembro de 2018

Se Jesus votasse hoje: reflexões sobre fé e política / If Jesus voted today: Reflections on Faith and Politics / Si Jesús votara hoy: reflexiones sobre la fe y la política


Jesus viveu num tempo dominado por um regime opressor e oligárquico. Não havia democracia em seu tempo. Votar não correspondia a uma experiência vivida pelo seu povo, principalmente o voto como expressão livre de uma consciência popular. Mas é interessante pensar como Jesus agiria se vivesse num tempo em que a eleição fosse a base da construção de uma sociedade justa e democrática, tal como se propõe nas democracias atuais.
Em tempos eleitorais, em que lideranças religiosas tentam induzir o voto de suas comunidades para beneficiar os candidatos com os quais têm relações, vale a pena pensar a respeito do que Jesus faria se vivesse o momento em que estamos vivendo. A gente percebe nas narrativas dos evangelhos que, em termos de participação social e política, Jesus foi um cidadão comum. Ele não deixou de pagar seus tributos, de praticar os costumes e até de participar dos festejos nacionais. Ele inclusive acatou mansamente a decisão judicial, ainda que injusta, de sua condenação. E isso era um hábito familiar. Seus pais também observaram o decreto de recenseamento da população, uma prova de que cumpriam as leis civis. Ele certamente seria um eleitor consciente.
Três perguntas me vêm a mente a respeito do que Jesus faria se tivesse que votar. A primeira é: em quem Jesus votaria? Ele certamente votaria em candidatos comprometidos com os valores do Reino de Deus, que são a justiça, a compaixão e o amor. Ele também escolheria candidatos dispostos a servir, e não a serem servidos. E penso que teria maior interesse em candidatos que estivessem abertos a romper com as velhas estruturas e com uma forma arcaica de pensar, que sustenta a lógica da dominação e da opressão.
A segunda pergunta é: qual seria a pauta de propostas políticas que Jesus defenderia? Ele defenderia o direito dos mais vulneráveis, dos excluídos da sociedade. Ele daria prioridade à solução de problemas nas áreas da saúde, da educação e do trabalho. Ele também defenderia políticas de combate à concentração de renda e ao exercício do poder na mão dos mais ricos.
A terceira pergunta é: como Jesus se envolveria numa campanha eleitoral? Ele enfrentaria os “vendilhões do templo”, representado por aqueles que fazem do espaço religioso um território de domínio de suas ações políticas. Ele criticaria a atitude dos poderosos, das classes mais ricas e das categorias que têm a responsabilidade de cuidar da sociedade. Ele confrontaria os poderosos a partir combate à ganância e à exploração dos mais pobres. E ele seria solidário com os que sofrem, colocando-se ao lado dos que perderam toda a esperança.
A comunidade cristã tem uma grande responsabilidade em tempos eleitorais. Da mesma forma que os cristãos precisam agir como Cristo em todas as áreas da vida, acredito que essa mesma atitude deveria se repetir na hora de exercer o dever cívico de votar. Cada cristão votando deveria ser como Cristo fazendo valer sua consciência social e política.

Um comentário:

  1. Parabéns mestre, pela excelente reflexão sóbria no sombrio momento em que nos encontramos. Grande abraço!

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