sábado, 12 de janeiro de 2019

Evangelho, salvação e libertação / Gospel, salvation and freedom / Evangelio, salvación y liberación


A Carta aos Gálatas traz uma rica mensagem para a igreja de hoje. De todos os escritos do apóstolo Paulo, é o que traz o evangelho para o centro da vida e trata a vida a partir do evangelho. Nunca vivemos um tempo em que se faz tão necessário evangelizar os crentes como os dias atuais. Talvez precisemos reescrever uma carta aos cristãos de hoje como Paulo escreveu aos gálatas.
Paulo procurou apresentar o evangelho da vida aos crentes da Galácia assim como defendeu a vida a partir do evangelho. Ele colocou a vida diante do evangelho. Para ele, o evangelho é um manual de vida que nos orienta a como vivermos neste mundo como participantes do Reino de Deus. É pelo evangelho que sabemos como somos transformados como cidadãos do Reino e como nossa vida de comunhão se tornam comunidades do Reino.
É um grande equívoco achar que a vida cristã se resume a uma prática ritual, legalista ou formal. Vida cristã é vida no, pelo e com o evangelho. Isso porque o evangelho é a boa notícia do favor imerecido de Deus, de que o amor gracioso de Deus foi revelado a nós na pessoa de Jesus Cristo. O nascimento, vida, ensino, crucificação, ressurreição e glorificação de Jesus revelam o quanto Deus nos ama e o modo como somos salvos por essa graça.
A Carta aos Gálatas nos ajuda a entender o que é salvação pela graça, em contraposição à salvação pelas obras, e a transformação da vida pela graça e a liberdade da vida imersa no Espírito, em lugar do formalismo religioso. O evangelho nos intima a compreender que somos piores do que imaginamos e nos convida a acreditar que somos mais amados e acolhidos por Deus do que possamos merecer. E é pelo evangelho que podemos mudar o nosso entendimento e nossa visão de mundo.
A questão que domina a carta é a respeito de como os gálatas se deixaram influenciar pelas ideias religiosas dominantes, em substituição ao evangelho que lhes fora anunciado. O problema principal das igrejas da Galácia era com respeito aos costumes religiosos. Um grupo de mestres ensinava que era preciso retomar os hábitos judaicos para que a fé cristã tivesse validade. A Galácia era uma região da Ásia Menor (atualmente compreendida pela Turquia) que era dominada pela cultura greco-romana. Isso quer dizer que a dificuldade enfrentada era de ordem cultural e social, na medida em que os crentes precisavam aprender a viver o evangelho de forma integral dentro de sua própria cultura.
Para os mestres judaizantes, a relação com Cristo dependia de algo a mais, de alguma contribuição ou esforço pessoal para que fosse validada. Eles acusavam que Paulo havia anunciado um evangelho sem fundamento. Paulo, entretanto, afirma enfaticamente que só Cristo basta para se ter uma vida transformada. Esse foi o evangelho que Paulo havia ensinado quando plantou igrejas na região. Acreditar ou seguir um “outro evangelho” diferente desse seria algo impensável. Paulo chega a chamar essa atitude de uma maldição, como algo a ser rejeitado veementemente pelos cristãos.
Duas preocupações envolvem a redação da Carta aos Gálatas: a primeira é que Paulo queria provar e afirmar a sua autoridade como apóstolo; a segunda é que Paulo queria deixar clara a base de toda a mensagem do evangelho, que tem a ver com a salvação e a liberdade. Paulo vai direto ao assunto, sem rodeios, provocando polêmicas o tempo todo. O que estava em questão era a essência do evangelho que Paulo pregava com a própria vida. Esse é o evangelho que liberta, em confronto com o discurso que escraviza a uma prática legalista e moralista.
Afinal, qual a essência do evangelho? Em princípio, o evangelho não está preocupado com o que as pessoas podem fazer por Deus, mas com o que Deus faz pelas pessoas. A mensagem do evangelho é a boa notícia da salvação, que é o que proporciona libertação de toda forma de opressão, de exploração e de ignorância. Essa mensagem alcança o homem todo, que conduz a uma vida plena no mundo e a uma relação íntima com Deus. Em toda a carta, a ênfase é dada ao evangelho que é centrado no evento salvífico da vida, morte e ressurreição de Jesus. A própria vida de Paulo é a concretização desse evangelho na vida.
O evangelho é a boa notícia do acolhimento em amor, de respeito à diversidade, de cuidado com os mais pobres e necessitados, de liberdade para uma vida mais humana. O ato profético de anunciar essa mensagem para a igreja de hoje é um grande desafio. Proclamar a liberdade conquistada na vida, morte e ressurreição de Jesus Cristo requer uma vida comprometida no evangelho. Dizer que “foi para liberdade que Cristo nos libertou” (Gálatas 5.1) só faz sentido na boca de quem é capaz de dizer que “Cristo vive em mim” (Gálatas 2.20).

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