A Carta aos
Gálatas traz uma rica mensagem para a igreja de hoje. De todos os escritos do
apóstolo Paulo, é o que traz o evangelho para o centro da vida e trata a vida a
partir do evangelho. Nunca vivemos um tempo em que se faz tão necessário
evangelizar os crentes como os dias atuais. Talvez precisemos reescrever uma
carta aos cristãos de hoje como Paulo escreveu aos gálatas.
Paulo procurou
apresentar o evangelho da vida aos crentes da Galácia assim como defendeu a
vida a partir do evangelho. Ele colocou a vida diante do evangelho. Para ele, o
evangelho é um manual de vida que nos orienta a como vivermos neste mundo como
participantes do Reino de Deus. É pelo evangelho que sabemos como somos
transformados como cidadãos do Reino e como nossa vida de comunhão se tornam
comunidades do Reino.
É um grande
equívoco achar que a vida cristã se resume a uma prática ritual, legalista ou formal.
Vida cristã é vida no, pelo e com o evangelho. Isso porque o evangelho é a boa
notícia do favor imerecido de Deus, de que o amor gracioso de Deus foi revelado
a nós na pessoa de Jesus Cristo. O nascimento, vida, ensino, crucificação,
ressurreição e glorificação de Jesus revelam o quanto Deus nos ama e o modo como
somos salvos por essa graça.
A Carta aos
Gálatas nos ajuda a entender o que é salvação pela graça, em contraposição à
salvação pelas obras, e a transformação da vida pela graça e a liberdade da
vida imersa no Espírito, em lugar do formalismo religioso. O evangelho nos
intima a compreender que somos piores do que imaginamos e nos convida a
acreditar que somos mais amados e acolhidos por Deus do que possamos merecer. E
é pelo evangelho que podemos mudar o nosso entendimento e nossa visão de mundo.
A questão que
domina a carta é a respeito de como os gálatas se deixaram influenciar pelas ideias
religiosas dominantes, em substituição ao evangelho que lhes fora anunciado. O
problema principal das igrejas da Galácia era com respeito aos costumes
religiosos. Um grupo de mestres ensinava que era preciso retomar os hábitos
judaicos para que a fé cristã tivesse validade. A Galácia era uma região da
Ásia Menor (atualmente compreendida pela Turquia) que era dominada pela cultura
greco-romana. Isso quer dizer que a dificuldade enfrentada era de ordem
cultural e social, na medida em que os crentes precisavam aprender a viver o
evangelho de forma integral dentro de sua própria cultura.
Para os
mestres judaizantes, a relação com Cristo dependia de algo a mais, de alguma
contribuição ou esforço pessoal para que fosse validada. Eles acusavam que
Paulo havia anunciado um evangelho sem fundamento. Paulo, entretanto, afirma
enfaticamente que só Cristo basta para se ter uma vida transformada. Esse foi o
evangelho que Paulo havia ensinado quando plantou igrejas na região. Acreditar
ou seguir um “outro evangelho” diferente desse seria algo impensável. Paulo
chega a chamar essa atitude de uma maldição, como algo a ser rejeitado
veementemente pelos cristãos.
Duas preocupações
envolvem a redação da Carta aos Gálatas: a primeira é que Paulo queria provar e
afirmar a sua autoridade como apóstolo; a segunda é que Paulo queria deixar
clara a base de toda a mensagem do evangelho, que tem a ver com a salvação e a
liberdade. Paulo vai direto ao assunto, sem rodeios, provocando polêmicas o
tempo todo. O que estava em questão era a essência do evangelho que Paulo
pregava com a própria vida. Esse é o evangelho que liberta, em confronto com o
discurso que escraviza a uma prática legalista e moralista.
Afinal, qual a
essência do evangelho? Em princípio, o evangelho não está preocupado com o que as
pessoas podem fazer por Deus, mas com o que Deus faz pelas pessoas. A mensagem do
evangelho é a boa notícia da salvação, que é o que proporciona libertação de
toda forma de opressão, de exploração e de ignorância. Essa mensagem alcança o
homem todo, que conduz a uma vida plena no mundo e a uma relação íntima com
Deus. Em toda a carta, a ênfase é dada ao evangelho que é centrado no evento
salvífico da vida, morte e ressurreição de Jesus. A própria vida de Paulo é a
concretização desse evangelho na vida.
O evangelho é
a boa notícia do acolhimento em amor, de respeito à diversidade, de cuidado com
os mais pobres e necessitados, de liberdade para uma vida mais humana. O ato
profético de anunciar essa mensagem para a igreja de hoje é um grande desafio. Proclamar
a liberdade conquistada na vida, morte e ressurreição de Jesus Cristo requer
uma vida comprometida no evangelho. Dizer que “foi para liberdade que Cristo nos
libertou” (Gálatas 5.1) só faz sentido na boca de quem é capaz de dizer que “Cristo
vive em mim” (Gálatas 2.20).
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