quinta-feira, 28 de março de 2019

Nota do Grupo Fé e Política Reflexões sobre a Reforma da Previdência / Note from the Faith and Politics Reflections Group on Pension Reform / Nota del Grupo Fe y Política Reflexiones sobre la Reforma de la Previdencia

NOTA SOBRE A REFORMA DA PREVIDÊNCIA 
Assim diz o Senhor dos Exércitos: ‘Administrem a verdadeira justiça, mostrem misericórdia e compaixão uns para com os outros. Não oprimam a viúva e o órfão, nem o estrangeiro e o necessitado. Nem tramem maldades uns contra os outros’” (Zacarias 7.9,10).
Em face da tramitação da Emenda Constitucional n° 6/2019 no Congresso Nacional, em função da proposta de reforma da previdência formulada pela equipe econômica do Governo Federal, vimos por meio desta nota manifestar nossa opinião nos seguintes termos:
Reconhecemos que é legítima a necessidade de se fazer uma ampla reforma fiscal, econômica e política em relação à distribuição de renda e a promoção de oportunidades iguais de trabalho, consumo e ascensão social para todo brasileiro e toda brasileira. A reforma da previdência desejada passa necessariamente pelo cuidado com os mais pobres, pela redução das injustiças sociais e pela promoção do bem-estar dos mais idosos.
Reconhecemos, porém, que isso somente se dá pela promoção da justiça social, pela garantia de direitos aos mais vulneráveis socialmente e pela responsabilização dos setores que mais têm se beneficiado com a concentração de renda, representado pelos que recebem altos salários, pelos que possuem grandes fortunas e pelos que sonegam recolhimentos contribuições e o pagamento de tributos.
Reconhecemos que a Previdência Social é um forte instrumento para a redução da desigualdade social. Portanto, é um grave equívoco empreender uma reforma que reduz conquistas históricas dos trabalhadores com a justificativa de que servirá para equilibrar as contas do governo.
Ressaltamos ainda que é papel dos poderes republicanos primarem por critérios que protejam o direito dos mais pobres, com políticas públicas que garantam uma vida digna para quem já contribuiu com seu trabalho para a formação da sociedade brasileira.
Dentre os pontos que mais nos preocupam, estão:
1.     Fixar a idade mínima de 65 homens e de 62 anos para mulheres de forma imediata não é compatível com a expectativa de vida dos brasileiros, sobretudo os de baixa renda, os trabalhadores rurais e os das regiões Norte e Nordeste, conforme estudos feitos pelo IBGE.
2.     Desatrelar do salário mínimo os benefícios assistenciais previstos pela Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS), bem como passar para 70 anos a idade mínima para receber o Benefício de Prestação Continuada integral, viola o princípio constitucional de rendimento mínimo.
3.     Reduzir a média aritmética de 80% para 60%, bem como a exigência de 49 anos de contribuição para se chegar ao teto, para o cálculo do benefício, reduz a renda do aposentado no período mais crítico da vida.
4.     Reduzir a pensão por morte e impedir a acumulação de aposentadoria e benefícios assistenciais afetam diretamente a órfãos e viúvas que não têm outra fonte de renda.
5.     Retirar da Constituição Federal os temas que envolvem a Previdência Social representa uma séria ameaça do futuro das aposentadorias e da seguridade social. A desconstitucionalização da previdência com respeito a eventuais reformas vulnerabiliza as garantias conquistadas ao possibilitar alteração de regras previdenciárias, do sistema de proteção da rede social e de critérios para pensões e aposentadorias sem a necessidade de aprovação de Emendas Constitucionais.
6.     Substituir o sistema solidário de financiamento da Previdência, que prevê o compartilhamento dos custos da seguridade social entre governos, empresas e trabalhadores, pelo sistema de capitalização, que concentra a arrecadação, o cálculo e o pagamento dos benefícios nos bancos.
Diante dessa exposição de motivos, declaramos que somos contra essa proposta de Reforma da Previdência, nos pontos que destacamos, e apelamos para que governo, judiciário e parlamentares trabalhem para efetivamente impedirem a aprovação de normas que violam direitos adquiridos e que ofereçam ameaças para a dignidade dos idosos, especialmente do idoso mais pobre.
Reivindicamos também que o governo venha a público apresentar de forma transparente e integral as contas da Previdência Social, computando não só a contribuição proveniente dos trabalhadores, mas também aquelas oriundas das demais fontes de financiamento da Seguridade Social previstas no texto constitucional.
Declaramos, outrossim, que almejamos uma Reforma da Previdência que venha proporcionar melhores condições para quem tanto fez pelo Brasil durante sua vida laboral, e não que se destine a meramente equilibrar as contas do governo.
Nossa atitude se justifica em razão da leitura que fazemos das Sagradas Escrituras, que lançam severas advertências contra quem desampara a velhice e os mais pobres, sobretudo o órfão e a viúva.
Não prejudiquem as viúvas nem os órfãos; porque se o fizerem, e eles clamarem a mim, eu certamente atenderei ao seu clamor” (Êxodo 22.22,23).
Aprendam a fazer o bem! Busquem a justiça, acabem com a opressão. Lutem pelos direitos do órfão, defendam a causa da viúva” (Isaías 1.17). 
Em 27/03/2019.
Grupo de Fé e Política: Reflexões

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