A
América Latina passa por um retrocesso no cenário político. Depois de um breve
período de ascensão social e econômica, alavancado pelo acesso de segmentos
progressistas ao governo de alguns países, assistimos ao avanço das forças tidas
como conservadoras retomando espaços que sempre foram dominados por uma
oligarquia reacionária e patrimonialista.
Veja
um brevíssimo retrospecto: assistimos a um golpe de Estado em 2009-2010 em Honduras,
no Paraguai em 2012 e no Brasil em 2016. Em todos esses atos, havia uma questão
de fundo – a atenção para com os direitos sociais – e uma estratégia – o uso do
aparato militar em alguns casos de forma clara e, no caso do Brasil, de forma
branda. Nesse meio tempo, as forças representativas da direita venceram no
Chile, Argentina e Colômbia. O Peru tem passado por um complexo processo de
afirmação política. Já neste ano de 2019, assistimos às tentativas de levantes
de direita na Venezuela. Porém, os protestos populares no Equador e no Chile e a vitória da esquerda nas eleições argentinas e uruguaia (ainda que no primeiro
turno) acenderam o alerta conservador. A tentativa de golpe na Bolívia é um sintoma disso.
Embora
o quadro seja preocupante, não podemos nos esquecer de que a realidade latino-americana
segue uma trajetória que se repete. A história
da América Latina é marcada pela luta constante entre uma oligarquia branca,
colonizadora, e forças políticas representativas dos trabalhadores, dos povos
originários, de quilombolas e de quem sempre foi tratado como minoria. Os
regimes ditatoriais que aconteceram desde a década de 1960 são a prova disso.
Nos
últimos levantes populares no Equador e no Chile, bem como no golpe de Estado
em curso na Bolívia, pode se notar a face explícita de um fascismo presente. A história se repete como farsa. Oligarquias se valem
do fascismo, do fundamentalismo religioso e do neoliberalismo para exercerem o
poder como sempre fizeram. Tempos difíceis se aproximam, de muita luta por
parte dos oprimidos. O que as forças
políticas conservadoras não contam, porém, é que existe uma grande massa de
pobres e miseráveis que não suportam mais a opressão.
Retomando
uma afirmação de Boaventura de Souza Santos, em Epistemologias do sul, a América Latina é resultado de um processo
de formação marcado por três grandes influências: o colonialismo, o patriarcado
e o capitalismo. Porém, precisamos acrescentar mais um elemento nesse processo,
que é a presença marcante da religião calcada na concepção sacrificial e
punitiva, que exige vítimas para satisfazer as necessidades do poder. As elites
sempre se valeram da religião para fortalecer as estruturas de dominação, e,
nesses episódios mais recentes, para dar lugar a uma mentalidade fascista e
neoliberal.
O
colonialismo foi superado historicamente, mas as estruturas da colonialidade ainda
resistem. O patriarcalismo reproduz o discurso dominante da supremacia branca.
O capitalismo procura dar conta de uma agenda neoliberal, que retira direitos
sociais e favorece o capital financeiro internacional, e não mais o capital
produtivo. E tudo isso debaixo dos olhares consensuais da religião.
Primeiramente com a bênção do clero católico romano, ultimamente com o apoio do
fundamentalismo religioso tanto evangélico quanto carismático.
Quando o fascismo se aproveita da religião para dominar, aumenta sua força destruidora de forma avassaladora. Quando o neoliberalismo faz uso da religião, se torna o mais pernicioso e iníquo sistema econômico que já existiu. É a nova face do estado exceção que estabelece uma forma de dominação que produz mais desigualdade e injustiças sociais, que põe as instituições democráticas sob risco constante e despreza as conquistas do Estado Democrático de Direito. Resistiremos.
Quando o fascismo se aproveita da religião para dominar, aumenta sua força destruidora de forma avassaladora. Quando o neoliberalismo faz uso da religião, se torna o mais pernicioso e iníquo sistema econômico que já existiu. É a nova face do estado exceção que estabelece uma forma de dominação que produz mais desigualdade e injustiças sociais, que põe as instituições democráticas sob risco constante e despreza as conquistas do Estado Democrático de Direito. Resistiremos.
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