Para Lula, vencer o candidato da extrema-direita foi como um
ressurgimento – ou uma ressurreição, como ele afirmou. A sua trajetória de vida
já marcada por muitas superações, como oriundo de família pobre, retirante
nordestino, trabalhador e líder político de esquerda, venceu a tirania e o medo.
De um pobre menino que foge da fome até a Presidente da República, foram muitos
desafios vencidos.
Para o político, foi como alguém que se levanta dos escombros, como um
gigante que havia sido amordaçado e manietado para que não reagisse, e que se
liberta de suas amarras. Durante sua jornada pela política, a perplexidade de
Lula com a dificuldade de acesso dos trabalhadores às instâncias de poder
serviu como combustível para formar um partido – o Partido dos Trabalhadores –
e percorrer de forma obstinada a luta para ser o Presidente de todos os
brasileiros. Ele e o PT concorreram em todas as eleições presidenciais desde a
volta das eleições diretas, ora disputando o segundo turno, ora chegando em
segundo lugar e por quatro vezes – agora cinco – sendo vitoriosos.
Para o estadista, é a vitória de um projeto não só de nação, mas de
humanidade. O mundo aguardava com ansiedade a eleição de Lula para ver
restaurada a luta pela sustentabilidade e pela defesa climática, para a
garantia dos direitos dos mais vulneráveis, para o combate à fome, para defesa
dos interesses dos países em desenvolvimento. Voltamos a ouvir discursos de
esperança, que apontam para a justiça social, para a diminuição das
desigualdades, para dar acesso a direitos e oportunidades para tantos
excluídos.
Para a pessoa de Lula, é a concretização de sua luta por uma causa: a
defesa da dignidade humana. Não dá para ser feliz sabendo que tem gente
desempregada, passando fome, endividada, excluída por causa da cor da sua pele,
do seu gênero ou de sua religião. Não dá para viver em paz sabendo que tem
povos originários sendo dizimados em pleno século 21 em suas próprias terras,
que tem comunidades carentes dominadas pelo crime organizado, que tem gente
sendo agredida por causa do racismo, que milícias controlam setores do poder
público para cometerem arbítrios.
Para o Brasil, é o resgate da democracia que vivia sob o risco
permanente de um golpe. Para o mundo, é a volta de um parceiro ativo que havia
se tornado um pária internacional. Para a civilização, é um duro golpe contra o
avanço do fascismo. Para a ciência, é o fortalecimento da jornada em busca de
conhecimento tendo em vista um mundo melhor para todas e todos. Para a
religião, é a garantia de que cada uma e cada um poderão expressar a sua fé com
liberdade. E para as famílias, é a reconquista do direito de sonhar com os
filhos crescendo com alimentação necessária, moradia digna, com acesso ao
ensino e com cuidados de saúde e bem-estar para todos.
Todos sabíamos que não seria uma luta fácil. Tentaram impedi-lo de
muitas formas. Primeiramente, tirando-o da eleição de 2018 depois de um golpe
de estado e de um processo parcial que o manteve preso por 580 dias. Depois,
com o uso da máquina pública de forma criminosa para favorecer o candidato à
reeleição, promovendo disseminação de fake
news e distribuição de verbas para políticos apoiadores. Nada disso foi
suficiente para impedir sua vitória.
A história futuramente vai contar com brilhantismo aquilo que temos
assistido hoje. Sim, porque a história é sempre contada a partir dos
vitoriosos. O bolsonarismo saiu derrotado nesse segundo turno. Ele será
lembrado como o que houve de pior em nossa sociedade nos últimos anos. Depois
do avanço que bolsonaristas tiveram no Congresso Nacional para a próxima
legislatura, esperava-se algo pior se Lula não saísse vencedor. Lideranças
democráticas do Brasil e do mundo se juntaram para vencer a extrema-direita e
para proteger a nossa frágil democracia.
O que esperar do Brasil a partir de agora? Em primeiro lugar, é preciso
levar em conta que aquele país que conhecíamos há seis anos não existe mais.
Ele foi tomado por uma onda de pessoas odiosas, medíocres e até ignorantes que
destruíram todas as estruturas que garantiam políticas públicas favoráveis aos
mais carentes. É preciso levar em conta também que haverá um legislativo
formado por um grande número dessas pessoas herdeiras dessa onda. Por isso, os
movimentos sociais, partidos e entidades da sociedade organizada que se
juntaram para a vitória de Lula precisam estar atentos para fazer o que é
certo.
E o povo? Nós precisamos dar as mãos uns aos outros para que haja paz
entre nós. O caminho é o da reconciliação, do respeito, da parceria. Daqui a
quatro anos certamente não teremos as condições ideais, mas com certeza teremos
deixado para trás esses anos tristes e estaremos muito mais próximos de nos
tornarmos uma nação que avança para que toda sua população seja mais feliz. Eu
creio nisso. Resistamos e continuemos a resistir.
Foto: jornal Estado de Minas
/ AFP.
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