segunda-feira, 31 de outubro de 2022

Lula, Presidente do Brasil pela terceira vez: a vitória da democracia / Lula, President of Brazil for the third time: the victory of democracy / Lula, presidente de Brasil por tercera vez: la victoria de la democracia

O segundo turno das eleições brasileiras teve um vencedor e muitos vitoriosos. O Presidente Luiz Inácio Lula da Silva venceu o pleito com uma margem estreita de votos, a mais apertada desde a redemocratização. Porém, sua vitória é revestida de muitos significados, talvez a mais expressiva da história política do Brasil.

Para Lula, vencer o candidato da extrema-direita foi como um ressurgimento – ou uma ressurreição, como ele afirmou. A sua trajetória de vida já marcada por muitas superações, como oriundo de família pobre, retirante nordestino, trabalhador e líder político de esquerda, venceu a tirania e o medo. De um pobre menino que foge da fome até a Presidente da República, foram muitos desafios vencidos.

Para o político, foi como alguém que se levanta dos escombros, como um gigante que havia sido amordaçado e manietado para que não reagisse, e que se liberta de suas amarras. Durante sua jornada pela política, a perplexidade de Lula com a dificuldade de acesso dos trabalhadores às instâncias de poder serviu como combustível para formar um partido – o Partido dos Trabalhadores – e percorrer de forma obstinada a luta para ser o Presidente de todos os brasileiros. Ele e o PT concorreram em todas as eleições presidenciais desde a volta das eleições diretas, ora disputando o segundo turno, ora chegando em segundo lugar e por quatro vezes – agora cinco – sendo vitoriosos.

Para o estadista, é a vitória de um projeto não só de nação, mas de humanidade. O mundo aguardava com ansiedade a eleição de Lula para ver restaurada a luta pela sustentabilidade e pela defesa climática, para a garantia dos direitos dos mais vulneráveis, para o combate à fome, para defesa dos interesses dos países em desenvolvimento. Voltamos a ouvir discursos de esperança, que apontam para a justiça social, para a diminuição das desigualdades, para dar acesso a direitos e oportunidades para tantos excluídos.

Para a pessoa de Lula, é a concretização de sua luta por uma causa: a defesa da dignidade humana. Não dá para ser feliz sabendo que tem gente desempregada, passando fome, endividada, excluída por causa da cor da sua pele, do seu gênero ou de sua religião. Não dá para viver em paz sabendo que tem povos originários sendo dizimados em pleno século 21 em suas próprias terras, que tem comunidades carentes dominadas pelo crime organizado, que tem gente sendo agredida por causa do racismo, que milícias controlam setores do poder público para cometerem arbítrios.

Para o Brasil, é o resgate da democracia que vivia sob o risco permanente de um golpe. Para o mundo, é a volta de um parceiro ativo que havia se tornado um pária internacional. Para a civilização, é um duro golpe contra o avanço do fascismo. Para a ciência, é o fortalecimento da jornada em busca de conhecimento tendo em vista um mundo melhor para todas e todos. Para a religião, é a garantia de que cada uma e cada um poderão expressar a sua fé com liberdade. E para as famílias, é a reconquista do direito de sonhar com os filhos crescendo com alimentação necessária, moradia digna, com acesso ao ensino e com cuidados de saúde e bem-estar para todos.

Todos sabíamos que não seria uma luta fácil. Tentaram impedi-lo de muitas formas. Primeiramente, tirando-o da eleição de 2018 depois de um golpe de estado e de um processo parcial que o manteve preso por 580 dias. Depois, com o uso da máquina pública de forma criminosa para favorecer o candidato à reeleição, promovendo disseminação de fake news e distribuição de verbas para políticos apoiadores. Nada disso foi suficiente para impedir sua vitória.

A história futuramente vai contar com brilhantismo aquilo que temos assistido hoje. Sim, porque a história é sempre contada a partir dos vitoriosos. O bolsonarismo saiu derrotado nesse segundo turno. Ele será lembrado como o que houve de pior em nossa sociedade nos últimos anos. Depois do avanço que bolsonaristas tiveram no Congresso Nacional para a próxima legislatura, esperava-se algo pior se Lula não saísse vencedor. Lideranças democráticas do Brasil e do mundo se juntaram para vencer a extrema-direita e para proteger a nossa frágil democracia.

O que esperar do Brasil a partir de agora? Em primeiro lugar, é preciso levar em conta que aquele país que conhecíamos há seis anos não existe mais. Ele foi tomado por uma onda de pessoas odiosas, medíocres e até ignorantes que destruíram todas as estruturas que garantiam políticas públicas favoráveis aos mais carentes. É preciso levar em conta também que haverá um legislativo formado por um grande número dessas pessoas herdeiras dessa onda. Por isso, os movimentos sociais, partidos e entidades da sociedade organizada que se juntaram para a vitória de Lula precisam estar atentos para fazer o que é certo.

E o povo? Nós precisamos dar as mãos uns aos outros para que haja paz entre nós. O caminho é o da reconciliação, do respeito, da parceria. Daqui a quatro anos certamente não teremos as condições ideais, mas com certeza teremos deixado para trás esses anos tristes e estaremos muito mais próximos de nos tornarmos uma nação que avança para que toda sua população seja mais feliz. Eu creio nisso. Resistamos e continuemos a resistir.

Foto: jornal Estado de Minas / AFP.

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