sábado, 11 de março de 2023

Cartas para a igreja: as sete cartas do Apocalipse para hoje / Letters to the Church: The Seven Letters of Revelation for Today / Cartas a la Iglesia: Las siete cartas del Apocalipsis para hoy

O que Jesus diria para a igreja de hoje que vive no limiar do fim dos tempos? A humanidade nunca viveu tão próxima de sua própria extinção. Esse tema tem ocupado os meios de comunicação e acadêmicos há algum tempo, com estudos, diagnósticos e até previsões de um fim catastrófico para a vida no planeta.

Um desses recursos é o relógio do Apocalipse, um contador de tempo simbólico que existe desde 1947 (criado pelo comitê que organiza o Boletim dos Cientistas Atômicos da Universidade de Chicago), que aponta para o fato de que vivemos a poucos minutos do fim catastrófico da vida no planeta provocado por uma guerra nuclear. Esse relógio conta os minutos que falta para o que chamam de “meia-noite”, o momento crucial para o qual convergem decisões políticas, sociais, econômicas, diplomáticas e militares globais somados aos acontecimentos ligados à mudança climática, pandemias, terrorismo e até o uso de inteligência artificial.

No começo do ano de 2023, o relógio do Apocalipse, também chamado de Relógio do Juízo Final ou Doonsday Clock, chegou a apontar que faltavam apenas 90 segundos para a catástrofe final que exterminaria com a civilização, sobretudo após a invasão da Ucrânia pela Rússia em 24 de fevereiro de 2022. Desde 1991, quando o relógio marcava 17 minutos, esse tempo vem sendo reduzido, indicando que vivemos o risco iminente de um conflito de proporções globais. Nunca estivemos tão próximos da meia-noite. Isso tem levado a um apelo insistente para que governos, órgãos de defesa, instituições que visam promover a paz e até grupos humanitários atuem para que a ameaça de uma catástrofe nuclear seja afastada.

O que a igreja tem a ver com isso? Qual a mensagem que cristãos e cristãs têm a dar para o mundo diante das crises globais? O que Jesus diria para a sua igreja sobre como viver em comunhão, servir, testemunhar, celebrar e até evangelizar em dias tão complexos? Essas questões nos remetem para o final do século I da Era Comum, quando a fé cristã se deparou com situações que lembravam os discursos escatológicos de Jesus nos evangelhos. Para aqueles primeiros seguidores de Jesus, seria fácil presumir que viviam os tempos do fim.

Eram tempos de perseguição, intolerância religiosa e até de desigualdade social. A maioria dos frequentadores da igreja era de origem escrava, despossuídos e excluídos da vida social. Mesmo assim, representavam uma ameaça ao poder imperial romano, pois eram confundidos como subversivos em relação às leis que obrigavam o culto ao imperador. Isso fez com que sofressem a mais sangrenta perseguição da história do cristianismo.

Um importante documento dessa época encontra-se no livro do Apocalipse de João. Em sua experiência com a revelação divina, o Apóstolo João é orientado a escrever a sete igrejas de sua área de atuação a fim de que cristãos e cristãs fossem consolados e encorajados a viverem a fé uma vez dada aos santos sem desanimar. Trata-se de um trecho, abrangendo os capítulos 2 e 3, que contém as sete cartas às igrejas do Apocalipse, ou sete cartas às igrejas da Ásia Menor (atual Turquia), a região onde elas se encontravam.

São pequenos recados, que continham elogios e exortações, repreensões e promessas. Cada igreja vivia aqueles momentos angustiantes a partir do lugar onde foram construídas, em suas inter-relações com a sociedade e em suas condições internas de vida em comunidade. Para cada uma dessas igrejas, João ressalta aspectos sobre como podemos enfrentar tempos difíceis sem perder a fé e a esperança, sem deixar de se colocar como agentes da graça num mundo onde há tanta maldade e engano.

O que a comunidade da fé enfrentava não era o fim. Apesar da dor, das perdas, do sofrimento, da perseguição, da insjustiça e da desigualdade social, aquela situação não era final. A igreja precisava ser lembrada da missão de Deus entregue a ela por Jesus, de ser testemunha da graça em qualquer circunstância. Os problemas não tinham o poder de dar a palavra final sobre a vida, sobre a prática do amor, sobre a disposição de seguir Jesus, sobre a vida em comunhão, sobre a solidariedade, sobre a generosidade, sobre a vida cristã autêntica e tantos outros temas tão caros à fé cristã, mais até do que princípios doutrinários, tradições e dogmas.

Cristãos e cristãs precisam ser lembrados que quem tem a palavra final sobre a vida é Deus, mesmo nos dias atuais. Embora vivamos o risco de um fim iminente, a fé lembra que quem conduz o curso da história é Deus e a esperança aponta para o fato de que no fim Ele já está lá. Como viver essa fé e essa esperança como seguidores de Jesus hoje? As cartas do Apocalipse também nos ensinam a conduzir a vida a partir dos ensinos de Jesus.

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