“E dar-vos-ei pastores segundo o meu coração, os quais vos apascentarão
com ciência e com inteligência” (Jeremias 3.15).
O que acontece com os pastores de hoje? De todas
as ocupações, é a que mais se encontra em descrédito, ao lado de políticos e
advogados. Talvez seja assim por causa das mudanças pelas quais a sociedade
passou nestes tempos pós-modernos, quando todas as formas institucionalizadas
de religião foram colocadas sob suspeita. Talvez por causa da pluralidade de
formas eclesiásticas e de espiritualidades que o segmento evangélico
experimentou nessa virada de milênio, que afetaram em muito a noção de
pastoreio. Talvez até, e acho que este é o motivo maior, por causa de uma nova
moralidade que tomou conta da mente dos pastores de hoje.
O que se vê é que pastores têm se afastado do
cuidado de pessoas para se transformarem em executivos que cuidam de um
negócio, que veem a religião como mercado, tratam a fé como produto e se
relacionam com ovelhas como clientes. Para muitos, a igreja é a sua empresa, a
qual avalia a partir do orçamento e do patrimônio, e mede seu sucesso pelo
número de adeptos que consegue agregar.
O que se vê é que pastores abandonaram os valores
essenciais do evangelho, como a compaixão, a justiça e a misericórdia, para
darem lugar a uma lógica que se tornou hegemônica, de satisfazer a necessidade
das pessoas. O problema é que essa lógica está ligada à busca do prazer, à
valorização do entretenimento e à solução de problemas imediatos de pessoas que
são afetadas pelo individualismo, o consumismo e até a busca de autoestima.
Transformaram-se em animadores e gurus de autoajuda, em vez de profetas
proclamadores das boas novas do evangelho.
O que se vê é que pastores abandonaram a escuta,
a meditação e a contemplação para sair em busca de métodos e fórmulas que
proporcionem o sucesso na carreira, que faça a igreja crescer e se adapte à cultura
de mercado que invadiu o mundo gospel. Com isso, deixam também de produzir
conhecimento e de fazer teologia para reproduzir um saber formatado, que é
transmitido sem reflexão crítica e base bíblica.
O que se vê são pastores autocentrados, que
exercem lideranças solitárias, que têm medo da concorrência, que se apegam a um
modelo, que promovem uma ideologia reacionária, que se sentem portadores de uma
unção, que se valem de estratégias de poder para se manterem no cargo. Não é
difícil achar pastores em busca de uma igreja para trabalhar. Difícil é achar
pastores dispostos a pagarem o preço de servirem ao Reino, que fazem de Deus o
seu patrão. Pastores assim existem, mas são poucos. Por isso muitas igrejas
estão em busca de pastores, mas não sabem bem o que procuram, pois são elas as
responsáveis pelos dilemas que o ministério pastoral atravessa.
Precisa-se de pastores pastores, que sejam vocacionados,
que estejam dispostos a servirem de exemplos de uma vida transformada, que
sejam habilitados na hermenêutica e na exegese bíblica, que tenham um
conhecimento amplo do arcabouço que forma sua cultura, que assumam o risco de
serem rejeitados por estar na contramão do mundo, que sejam sensíveis à voz dos
mais vulneráveis, que sejam corajosos para denunciar as formas de exploração e
de opressão. Não importa se são de tempo integral ou parcial, mas que tenham o
coração voltado para as pessoas que compõem seu rebanho.
Ainda imagino o Senhor Jesus olhando as multidões
aflitas e dizendo que a seara é grande e os trabalhadores são poucos. Se é Deus
quem dá pastores para cuidar de gente, então está na hora de clamar por eles.
Feliz Dia do Pastor a quem, como eu, ouviu o seu
chamado e insiste na caminhada apesar dos muitos conflitos que afetam o
pastoreio.
Parabéns, que Deus continue abençoando sua vida e ministério!
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