O acidente que ceifou a vida da
quase totalidade do time de futebol da Chapecoense, além de equipe técnica,
jornalistas e muitos outros que o acompanhavam para a primeira partida da final da Copa
Sul-Americana, é marcado por um sentido de dor e angústia que não dá para se
descrever em palavras. O que fica é esse sentimento de perplexidade diante da
finitude e da transitoriedade da vida, aspectos que fazemos o esforço de não
levar em conta na hora de construir planos e sonhos, mas que gritam o tempo
todo para lembrar da fragilidade humana, de nossa incompletude e de que não
temos o controle de nossa existência.
Fico com a definição de Georges
Bataille: “a morte é em certo sentido uma impostura”. Ela se disfarça e se
apresenta nos espaços não desejados. Uma invasora da vida, uma intrusa em
nossos projetos. Ela está sempre ali para nos trazer de volta à dura realidade
que estamos num vazio, que somos detentores de um poder ilusório, que vivemos
em meio ao imponderável, ao insólito, ao improvável.
A morte põe em questão nossa existência.
Na medida em que só tenho uma vida para viver e na proporção em que minha
consciência é regida pela memória, viver é como vaguear entre esperança e
tentativas, procurando dar um passo de cada vez como um bêbado equilibrista,
como quem dança na corda bamba. Somente a morte nos traz de volta ao senso de
que estamos diante da incerteza, de que até aqui tudo o que fizemos foi
transcender à fatalidade de uma vida sem expressão. Como disse Elis Regina: “A
esperança equilibrista / Sabe que o show de todo artista / Tem
que continuar”.
Somos sujeitos que vivem diante de uma
armadilha: que nos lança o desafio de rejeitar o vazio de uma vida sem sentido,
ao mesmo tempo que nos permite perceber nossa própria finitude. É o chamado
para a vida eterna que se defronta com o grito “por que me abandonaste?” Nem
Jesus escapou dessa agonia. Aquele que enfrentou esse mesmo dilema nos chama a
uma superação. “[...] A morte foi destruída pela vitória” (1 Coríntios 15.54).
Os que embarcaram naquele voo tinham
um sonho de conquistar um prêmio, mas se depararam com o grande dilema do jogo
da vida. 71 mortos. 6 sobreviventes. Famílias sofridas. Uma cidade perplexa. Um
país em estado de tristeza. Como fazer para seguir adiante? Logo a gente
descobre que ainda persiste aquela teimosia de ir além, de que viver é se abrir
para o que dá esperança, de que vale a pena encarar desafios até para honrar a
memória dos que se foram.
Com o trágico acidente, somos chamados
à solidariedade, ao exercício da misericórdia, à compreensão de que os títulos
não representam nada diante da fugacidade da vida, de que é possível imaginar
um outro modo de se construir a nossa existência. É uma pausa para pensar sobre
o que estamos fazendo com o que ainda nos resta da vida. Desejo aos familiares,
companheiros e torcedores da Chapecoense toda a consolação que só o Espírito
Santo de Deus pode dar. Desejo o mesmo para as equipes de mídia e os demais
simpatizantes que acompanhavam o time. Que Deus nos console a todos.
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