O resultado do primeiro turno da
eleição 2018 é um retrato do cenário político atual, marcado por
um projeto perverso de dominação de uma elite conservadora e
oligárquica que vem atuando no Brasil desde a fundação da
república. Como resultado das urnas, vão para o segundo turno para
a presidência da república os candidatos Jair Bolsonaro, do PSL, e
Fernando Haddad, do PT. Nas eleições parlamentares, a esquerdo teve
um ligeiro crescimento e houve uma mudança de boa parcela do quadro
atual. Ouvir a voz que vem das urnas é um exercício necessário
para quem quer entender o que se passa no país e para poder projetar
o futuro que nos aguarda.
Há, pelo menos, quatro mensagens
bem delineadas. A primeira é a de que o golpe de 2016 atingiu o seu
objetivo maior, que era reduzir a capacidade das forças
progressistas que atuam no país, em todos os níveis de atuação
política. Conseguiram, através de uma interpretação equivocada do
momento atual, transferir para a esquerda a responsabilidade pela
crise econômica, pelo aumento da pobreza e pelo desemprego, como se
a causa desses graves problemas estivessem relacionadas com os
governos do PT, e não à manobras que levaram ao golpe desde a
eleição de 2014. E, além disso, construíram o entendimento de que
a maior corrupção da história foi praticada pelo PT com a
Petrobras, esquecendo-se das muitas acusações de desvios por outros
partidos que não foram investigadas.
A segunda é que há um forte avanço
das forças reacionárias, com o crescimento de ideias fascistas
associadas por uma mentalidade neoliberal. Embora essas duas
correntes – fascismo e neoliberalismo – sejam antagônicas entre
si, o movimento reacionário consegue articular um discurso que
agrada tanto aqueles que defendem um Estado autoritário no controle
da vida pública para atender a determinados interesses de dominação
e de exclusão, quanto aos que defendem uma política econômica
voltada para o mercado livre e que favoreça a concentração de
renda.
A terceira é que de fato há uma
tendência de consolidação do projeto de dominação da elite
conservadora e oligárquica, que defende a redução das conquistas
sociais e combate a atuação dos movimentos populares que lutam
pelos direitos de minorias, de vulneráveis e de setores que sempre
viveram destituídos de direitos e de garantias mínimas de acesso a
condições dignas de sobrevivência e de oportunidades iguais.
E a quarta diz respeito ao fato de
que há uma nova força política em ação no país, que está
ligada ao fundamentalismo religioso de natureza evangélica. O
crescimento desse grupo está se tornando cada vez mais evidente,
tendo já extrapolado a dimensão institucional e impregnado a vida
social. A presença evangélica não se dá apenas pela “bancada da
Bíblia”, uma das maiores do congresso, mas também através do
discurso formatado de lideranças religiosas que influencia o
comportamento e a ação de um grande segmento dessa comunidade. É
preciso registrar que a comunidade evangélica é uma das que mais
tem crescido no país nos últimos anos. O fundamentalismo religioso
promove uma pauta de interesses que estão ligados ao combate do
comunismo (que se transforma em discurso antipetista), à defesa da
família conservadora (com o combate do que chamam de “ideologia de
gênero” e a afirmação do patriarcalismo) e ao temor do ateísmo
(com demonização de lideranças, até mesmo evangélicas, que
apresentem formas divergentes de pensar).
Mas as urnas também apontam alguns
derrotados por conta dessas vozes. Por exemplo, as forças
progressistas perderam importantes representações no Congresso. Da
mesma forma, partidos que se envolveram diretamente com o golpe de
2016 sofreram baixas significativas, como o MDB e o PSDB. E também
lideranças importantes ligadas a setores da sociedade saem
enfraquecidas, como é o caso da questão ambientalista como também
a luta de movimentos populares por direito à moradia e à posse da
terra para agricultura familiar.
Por conta disso, não podemos mais
falar de
uma polarização entre direita e esquerda, que nas últimas eleições
eram representadas, respectivamente, pelos partidos PT e PSDB. Temos
que falar de uma polarização entre esquerda e extrema direita, que
se traduz
por uma disputa entre democracia
e fascismo, liberdade e ditadura, civilização e barbárie. Essa
luta exige que se escolha um lado, e o lado certo dessa escolha é a
oposição a toda forma de fascismo, ditadura e barbárie. Estou
torcendo para que a maioria escolha o lado da democracia, da
liberdade e da civilidade.
Trata-se não de um combate, mas de uma oportunidade de diálogo marcado pelo bom senso, que prime por um processo de paz e que vise a formação de uma sociedade mais justa e solidária. O debate político para o segundo turno deve ser uma discussão transparente de propostas que possam fazer o país avançar em termos de desenvolvimento econômico com justiça social, com oportunidade para todos e com o respeito aos direitos humanos. Não há outra saída para o Brasil. E essa saída só se dá pelo caminho da democracia. Isso é civilidade.
Trata-se não de um combate, mas de uma oportunidade de diálogo marcado pelo bom senso, que prime por um processo de paz e que vise a formação de uma sociedade mais justa e solidária. O debate político para o segundo turno deve ser uma discussão transparente de propostas que possam fazer o país avançar em termos de desenvolvimento econômico com justiça social, com oportunidade para todos e com o respeito aos direitos humanos. Não há outra saída para o Brasil. E essa saída só se dá pelo caminho da democracia. Isso é civilidade.
Gosto muito dos seus textos... Mas votar em um governo que apoia Maduro, um ditador que nem se preocupa em disfarçar... comendo a melhor carne na Turquia enquanto seu povo revira lixo e foge para Roraima em busca de um pouco de dignidade, pelo menos; Não dá!!
ResponderExcluir