“[...] Eu também não a condeno. Agora vá e abandone sua vida
de pecado” (João 8.11).
O que uma pessoa
tomada por um sentimento misericordioso é capaz de fazer diante de alguém que
carece de misericórdia? A história do encontro de Jesus com a mulher
surpreendida em pleno adultério nos ajuda a descobrir o que a misericórdia pode
fazer.
Naquela cena
estavam vários atores: os sem misericórdia, aquela pessoa carente de
misericórdia e aquele único que é cheio de misericórdia. As atitudes eram
claras: aquelas pessoas que não têm misericórdia eram intolerantes e culpabilizadores,
a carente da misericórdia estava totalmente vulnerável e o misericordioso agiu
de forma amorosa por livre e espontânea vontade.
Os sem misericórdia ruminavam ódio, mas logo foram convencidos de que a
situação deles não era muito diferente daquela que carecia de misericórdia. “Se algum de vocês estiver sem pecado, seja o
primeiro a atirar pedra nela”, disse-lhes
Jesus. A carente de misericórdia estava rendida e fragilizada pelo medo, pela vergonha,
pela culpa, pela impotência e pela desesperança. Ela não era capaz de encontrar
uma solução para seu conflito interior e muito menos para apaziguar seus
algozes. “Mulher,
onde estão aqueles teus acusadores? Ninguém a condenou?”, perguntou Jesus. O cheio de misericórdia agiu como
era de se esperar: ele a perdoou e e lhe ofereceu uma nova chance. “Eu também não
a condeno. Agora vá e abandone sua vida de pecado”, disse Jesus a ela.
A Bíblia diz que “Jesus ficou só, com a mulher em pé diante dele”. Santo Agostinho, ao comentar essa passagem, diz que, após os sem
misericórdia saíram, ficaram no local apenas
a miséria e a misericórdia. Estavam ali o pecador e aquele que pode perdoar os
pecados, a fragilidade humana e a bondade divina. Era o encontro entre o que se sente miserável e
aquele que pode oferecer misericórdia. O papa Francisco argumentou que, ali, a “a miséria do pecado foi revestida pela misericórdia
do amor”.
O que pode fazer a misericórdia? Ela nos humaniza. A intolerância, a culpabilização,
o preconceito e o ódio são atitudes que nos desumanizam. A misericórdia divina,
porém, restaura a nossa dignidade e nos torna capazes de sermos simpáticos à
aflição de quem sofre as consequências da desumanização.
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